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A prova do pudim para o BC subir os juros – 08/12/2024 – Adriana Fernandes


A prova do pudim da disposição do Banco Central para voltar a subir a taxa de juros no Brasil, se necessário, é focado na avaliação dos membros do Copom de que existem hoje mais riscos de alta do que de queda na inflação.

É o sinal de que o BC botou o dedo no gatilho para subir juros. No “coponês” (a língua do Copom), essa diferença foi chamada, na reunião mais recente, de assimetria no balanço de riscos. Até então, havia dois riscos para cada lado.

O placar agora é 3 a 2. Os riscos de alta são uma desancoragem das expectativas de inflação por um período mais longo, maior resiliência na inflação de serviços e uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

Os riscos de baixa são a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os riscos dos juros sobre a desinflação global se mostram mais fortes do que o esperado.

O que mais chamou a atenção dos analistas do mercado financeiro foi que um dos trechos da ata indicados que todos no Copom concordaram que há mais riscos para cima na inflação, mas com a ressalva de que “vários” enfatizaram a assimetria do balanço de riscos . Ou seja, a unanimidade vê mais risco, mas só a maior parte diz que é assimétrico. Não todo o mundo.

A pergunta que veio em seguida foi: há disposição de toda a diretoria para aumentar os juros ou não? O BC velho, de diretores indicados por Bolsonaro, estaria mais duro e predisposto a subir os juros do que o BC novo, dos nomeados pelo presidente Lula.

O que intriga é que o comunicado do Copom (documento divulgado para anunciar a decisão do colegiado) não tocou nesse ponto de assimetria. Muita gente achou que o BC estaria menos disposto a aumentar os juros num cenário mais adverso. O detalhe é que nenhum comunicado só diz que há consenso entre os integrantes do Copom.

Com essas dúvidas, os holofotes se voltaram rapidamente para o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, apontado como o favorito do presidente Lula para suceder Roberto Campos Neto no comando do BC e com a indicação já dada como certa pelo Senado.

Ficou no ar a puxar atrás da orelha se Galípolo estaria fora desse grupo e, portanto, sem o dedo no gatilho para subir os juros.

Na condição de favorito e na busca de substituição de que não será leniente com a inflação, o diretor (o primeiro indicado por Lula para o BC) foi logo explicando que enxergava a assimetria no balanço de riscos de inflação.

A declaração foi feita em evento público, na quinta-feira (8), e acabou promovendo uma coordenação de expectativas com a queda das taxas de juros longos e o real se valorizando ante o dólar.

Se Galípolo explicou sua posição, há algum outro membro do Copom que não ficaria tão elaborado dessa assimetria?

Nos últimos dias, Campos Neto vem repetindo que as decisões do Copom têm sido unânimes, coesas, mostrando compromisso com a meta de inflação. Mas nesse ponto da assimetria do balanço de riscos, a comunicação ainda está devendo mais explicativa.

Nas suas falas mais recentes, Galípolo tem reforçado que o trecho da assimetria não é uma orientação (orientação futura) de que o Copom vai subir a taxa Selic, porém a postura mais conservadora tem levado à queda do dólar.

Enquanto aguarda se será mesmo indicado pelo presidente Lula, Galípolo está fazendo preço e coordenando as expectativas de inflação. Passe pela sua prova particular do pudim para ganhar confiança de que não mudará o tom se sentar na cadeira de Campos Neto.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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