sábado, outubro 5, 2024
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“Banco Central está fazendo tudo direitinho”



Um dos mentores do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco comemorou os 30 anos do projeto que derrotou a hiperinflação. Com a autoridade de quem é considerado o guardião da âncora cambial – que, junto com os juros altos, formou uma base para a estabilização –, ele elogia o trabalho do Banco Central sob o comando de Roberto Campos Neto e diz que a condução da política fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, inspira “muito cuidado”.

Hoje sócio e consultor sênior da Rio Bravo Investimentos, Franco conversou com a Gazeta do Povo na última quarta-feira (15), após falar sobre o cenário econômico brasileiro a convite do Instituto Formação de Líderes e do Instituto Livre Mercado, em Brasília. Confira a entrevista:

Gazeta do Povo – Como o Sr., que entende bem de inflação, avalia a mudança de orientação [sinalização sobre decisões futuras] A condução da política monetária pelo Banco Central?

Gustavo Franco – Eu acho que está fazendo tudo direitinho. Espero que continuemos fazendo tudo certo daqui para frente.

Como vê a divisão de votos entre os membros do comitê sobre o tamanho da redução da taxa Selic?

Essa divisão é uma novidade para nós é que ainda precisa ser melhor compreendida, já que o comitê tem uma cultura de colegialidade que é muito própria. [O Copom] sempre tomadas decisões por consenso, com divergências são muito mais de dosagem do que de natureza. Este 5 a 4 [placar de votos], inclusive, é uma variação sobre 0,25% ou 0,5%, mas na direção de redução. Não é que metade queira subir e metade queira descer. Isso não é tão preocupante e é comum em outros bancos centrais mais antigos. Tem decisões colegiadas desse tipo, com votação. Às vezes o presidente perde, nada disso é incomum. A gente é que tem que se acostumar. Isso é uma novidade do Banco Central independente. A lei complementar que avançou a independência do Banco Central tem apenas dois anos, não estamos acostumados. Mas não é anormal essa divisão.

Ó Sr. não se preocupa com as possíveis interferências políticas e a pressão que o próprio presidente Lula e o PT já fizeram sobre a queda de juros?

Eu estou preocupado, sim. Mas é o seguinte: todo mundo pode falar à vontade. O presidente da República, a presidente do partido, claro, todo mundo tem direito de opinar. Outra coisa diferente é o comitê não tomar a decisão técnica que tem que tomar. Eu não tenho nenhuma dúvida de que o comitê tem tomado decisões técnicas, que tem sido acertado do jeito certo.

Como o Sr. vê a possível indicação do diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, para a presidência do banco, considerando que ele já deu declarações heterodoxas sobre os juros?

O debate sobre a identidade do futuro presidente está apenas começando e eu não queria falar sobre nenhum nome. É cedo. Na verdade, não é muito cedo, mas ainda aparecerão nomes. Espero que o presidente da República e o Banco Central conversem entre si cheguem a uma solução boa. Eu só posso torcer para que isso aconteça.

O que o Sr. Você gostaria de dizer ao presidente do BC, Roberto Campos Neto?

Bom, a principal recomendação, e não é ainda mais que isso, é que ele cumpra seu mandato até o fim. É importante que ele termine bem, como tem sido o serviço dele. É importante chegar até o fim do mandato que ele foi conferido e entregar a inflação na meta. É simples como isso.

Ó Sr. é um condenado liberal. O que tem a dizer sobre as investidas intervencionistas do governo Lula, como no caso recente da Petrobras e da mineradora Vale? Acha que retrocedemos?

Olha, eu não queria falar sobre isso, não. Isso é muito fora do meu espectro.

Qual a sua avaliação da política fiscal e da condução do ministro da Fazenda, Fernando Haddad?

A condução da política fiscal inspira cuidados. Muito cuidado.

O quê? Que conselho o Sr. daria ao ministro Haddad?

Sou um colunista regular de um jornal e dou meus ganhos sobre economia. Mas não são conselhos. São recomendações que eu dou para ele e para nós todos sobre a economia. São opiniões.

Tem expectativa de reformas econômicas ainda neste governo?

Não.

Considerando a política econômica, se a eleição fosse hoje, o sr. continuaria isento entre Lula e Bolsonaro?

Olha, eu votei nulo. É só isso que posso dizer.



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