Há anos estamos ouvindo falar sobre aquecimento global e desmatamento. Coleta seletiva, banhos rápidos, 3Rs e lavar o carro e a calçada com balde emergem como contribuições individuais que poderiam fazer a diferença. Em que pese a importância das ações de cada um nos problemas coletivos, tantos esforços de campanha assim fazem sentido?
Não nos faltam informações. O que nos falta é tempo e atenção para analisar e separar informações de boa e de melhor qualidade. Nesse contexto, essa escassez de atenção molda as estratégias políticas e de advocacia em temas diversos, e as questões climáticas e ambientais não são exceção. A capacidade limitada das pessoas de se envolverem simultaneamente em múltiplos problemas é um desafio.
Formuladores de políticas e ativistas enfrentam a tarefa de captar e manter a atenção do público em questões que competem com inúmeras outras demandas cotidianas.
O estudo de David Hagmann e outros autores abordagem do trade-off entre a efetividade das estratégias de advocacy que visam a mudança de comportamento individual e aquelas que promovem reformas estruturais. A partir de dois experimentos, com um total de 1.800 participantes, os pesquisadores investigaram os efeitos da exposição a políticas utilizando as duas estratégias.
Os experimentos cobriram três temas: mudanças climáticas, poupança para aposentadoria e saúde pública.
Os resultados revelaram que a exposição a políticas direcionadas a comportamentos individuais levou os participantes a propor ainda mais soluções desse tipo e a responsabilizar mais as pessoas, em vez de instituições, pela resolução dos problemas. Da mesma forma, houve menor propensão a apoiar ou a fazer para organizações que defendem reformas sistêmicas, destacando um custo não intencional, mas significativo, do enfoque em intervenções focadas nas pessoas.
Embora as campanhas de conscientização sejam rápidas de implementação e de baixo custo, elas podem desviar a atenção de soluções sistêmicas, que são mais complexas e demoradas. Em questões ambientais, o incentivo à redução do uso de água e à separação do lixo pelos indivíduos pode ser eficaz apenas em um nível micro. Sem a redução do desperdício de água nos sistemas de saneamento e uma coleta de lixo adequada, aliada à logística reversa para materiais especiais, pois ações individuais têm impacto limitado.
Por exemplo: no Brasil, só os vazamentos de água somam 3,8 bilhões de m³, suficientes para abastecer cerca de 67 milhões de pessoas em um ano, segundo estudo do Trata Brasil. Ao passo que todos os brasileiros evitassem dar uma descarga por dia, o volume de água economizado chegaria a 20% de apenas uma das modalidades de perda no sistema. Apesar disso, há menos campanhas e debates sobre como cobrar a redução do desperdício de água das empresas de saneamento em comparação ao consumo doméstico.
Por outro lado, políticas externas para uma matriz energética limpa, adaptações urbanas para eventos extremos e a criação de mercados de carbono têm efeitos mais duradouros e significativos. O estudo demonstra que, ao focar em mudanças comportamentais individuais, corre-se o risco de reduzir o apoio dos participantes para iniciar mudanças estruturais.
No entanto, não se deve descartar completamente as ações individuais. Precisamos refletir sobre a forma mais eficaz de engajar as pessoas. Para enfrentar os desafios ambientais e climáticos, a sociedade precisa se mobilizar politicamente. É essencial que os cidadãos cobrem dos seus representantes a implementação de políticas públicas que promovam uma infraestrutura resiliente e sustentável.
Ao votar em candidatos comprometidos com a agenda ambiental e cobrar essas ações concretas ao longo dos mandatos, os concorrentes podem influenciar a criação de medidas que busquem soluções de longo prazo para questões críticas.
Transformar a conscientização em ação política é fundamental para construir um futuro sustentável e para que menos pessoas sejam vítimas de eventos climáticos ambientais.
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