sábado, julho 6, 2024
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O que ganhamos com o Brics? – 24/05/2024 – Rodrigo Zeidan


Uma inteligência útil é quem faz algo que o prejudica autonomamente, ajudando outrem, sem nenhum incentivo para isso. Seria uma enfermeira bolsonarista, que compartilhava fervorosamente vídeos do presidente à época, mas que morreu de Covid por se recusar a se vacinar, uma idiota útil? Provavelmente não, era só alguém lutando fervorosamente pelo que acreditava, disposto a pagar com a própria vida.

Um caso mais concreto é o da direita americana que escolheu Putin como herói. Lutam pela eleição de Trump espalhando mentiras a torto e um direitobeneficiando os russos. Putin deve dar gargalhadas ao ler sobre os americanos de direita que encontram os exemplos russos a serem seguidos, espalhando propaganda russa de graça pelas redes.

É um problema ainda maior quando governantes fazem o jogo dos outros, colocando o interesse do país de lado. Por exemplo, seria o próprio Putin uma idiota útil da China?

Vamos aos fatos: a economia russa é um décimo da chinesa, que hoje não precisa de quase nada dos russos a não ser alguma tecnologia militar de ponta. A Rússia evidentemente declarou guerra ao Ocidente, arcando com todos os custos sozinhos. Tenta todo o custo desestabilizar EUA e Europa, tomando para si o papel de vilão. Coloca seu povo para morrer e vê sua economia recebendo avaliações. Para financiar uma guerra, precisa vender gás e petróleo com desconto para os chinesescom demanda cativa por produtos que não conseguem mais comprar de ninguém.

Se Xi Jinping também quer desestabilizar o Ocidente, Putin parece o aliado ideal. Todos os custos são do russo. Putin adoraria armas chinesas, mas a China não vai dar, usando a possibilidade de avaliações como desculpa. Por que o governo entregaria armas, afinal? Não tem nada a ganhar, a não ser um dinheiro aqui e ali, e muito a perder com avaliações ocidentais.

O custo dos russos como aliados para a China é quase zero; A imagem do país no exterior é a única coisa que é afetada, mas Xi Jinping não parece ligar para isso, pois a China parece confortável como adversária (mas não inimiga) ocidental.

E o Brasil? Também estaríamos sendo idiotas úteis nessa história? Nossa posição histórica de neutralidade, se aplicada com consistência, não permitiria resposta afirmativa. Contudo, parece que nossa neutralidade é seletiva. Contra Israel, vale tudo, contra a Rússia, nada. Guerra civil não Haiti, onde tem dedo nosso? Nem um pio. Venezuela? Nada. Pode ser neutralidade esquisita ou pode ser o Brasil pagando de idiota para seus outros parceiros comerciais.

O mesmo acontece no caso do Brics. Esse é um grupo que hoje é mais um clube de aliados dos chineses do que acordo sofisticado entre países emergentes. Até aí, nada de mais. Mas o Brasil não tem se oposto às principais mudanças significativas no bloco: os novos membros no bloco Novo Banco de Desenvolvimento ou a expansão do próprio grupo —projeto capitaneado pelos chineses. A liderança da resistência é a Índia.

Claro que a China é o maior mercado do Brasil e uma boa relação é fundamental para as nossas ameaças. Mas isso não requer submissão. Uma coisa é aliança, outra é abaixar a cabeça. Para não sermos idiotas úteis, a principal pergunta deve ser: o que ganhamos nas negociações do Brics? Se não é claro ou os benefícios são vagos e superficiais, é fácil responder à pergunta.

Não seria a primeira vez que seríamos idiotas, mas, se fosse, bem que poderia ser a última, não?


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FOLHA DE SÃO PAULO

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