Os movimentos na carteira de gestores são sempre divulgados na mídia e acompanhados por todos. Alguns gestores destes, pelo histórico de acertos, atraem não só pela curiosidade, mas também porque muitos querem repetir e tentar replicar seus resultados. Mas será que faz sentido copiar seus movimentos?
Neste mês de maio, os investidores se surpreenderam com o anúncio de que Stuhlberger, da Verde Asset, vendeu sua posição de títulos públicos referenciados ao IPCA. Muitos se perguntaram sobre qual razão levaria um gestor a se desfazer de uma posição de renda fixa justamente quando as taxas de juros estão próximas do máximo coletado na última década. Vamos entender a razão, mas antes, vou explicar quem é Stuhlberger.
A Verde é uma das gestoras mais antigas e conceituadas do país. O principal fundo multimercado que leva o nome do gestor de Luis Stuhlberger tem um histórico de rentabilidade que faz inveja até Warren Buffett. Desde 1997, o Verde acumula uma rentabilidade de 24.575,8%. Isso equivale a um retorno de 790% do CDI. Quem aplicou R$ 100 mil em 1997 teria hoje um montante de R$ 24,7 milhões.
Entretanto, nos últimos cinco anos, o fundo Verde e a média dos fundos multimercados no Brasil não tiveram o mesmo brilho. O retorno do Verde nesse período foi de 47,55% e o do CDI, de 46,83%. A diferença foi muito pequena. A rentabilidade média dos fundos multimercados brasileiros foi ainda pior, acumulando 44,42% no mesmo período.
Com uma volatilidade razoável e quase nenhuma premiação em relação ao CDI, o grande histórico do Verde não tem sido suficiente para manter a fidelidade dos investidores. Assim, a gestora perdeu patrimônio por resgates nestes cinco anos. E todo gestor é especial aos resgates.
Uma gestora é um negócio que depende de haver uma massa de recursos para administrar. Os resgates trazem uma incerteza sobre as receitas futuras do negócio de qualquer gestora. Os administradores precisam manter uma grande equipe de especialistas, e estes exigem mudanças generosas ou mudanças de casa.
Além disso, os resgates trazem uma dificuldade adicional à vida de um gestor, pois ele tem de passar a manter caixa disponível no fundo e tem de gerenciar posições de longo prazo com cuidado para não ter de vender em momento desfavorável. Isso acaba dificultando a capacidade de um gestor de adição de valor ao CDI.
Portanto, muitas vezes, um gestor tem de mudar sua posição apenas para depositar a volatilidade e reduzir a propensão dos investidores a resgatar.
Assim, é preciso compreender que os objetivos e o horizonte de investimento de um gestor são, na maioria das vezes, diferentes daqueles dos investidores. Portanto, apesar de suas atitudes deverem ser ouvidas, não necessariamente devem ser replicadas.
Neste ano de 2024, os títulos referenciados ao IPCA, conhecidos pelos investidores como Tesouro IPCA, apresentam, de forma geral, retorno negativo ou muito abaixo do CDI. Normalmente, o horizonte de investimento de uma pessoa física que investe em um desses títulos é o próprio vencimento do título. Com taxas superiores a IPCA+6% ao ano, é quase certo que esse título seja um investimento muito superior ao CDI até o vencimento.
Portanto, investidores pessoas físicas não precisam se preocupar com o retorno negativo deste ano, pois podem esperar e ter a confirmação de um bom resultado no longo prazo.
Entretanto, Stuhlberger e os gestores de fundos multimercado precisam entregar resultados já no próximo mês. Assim, eles não podem se dar ao luxo de esperar 5, 10 ou mais anos para que o resultado aplicável. Ou seja, os gestores de fundos multimercados precisam exportar em ativos que possam produzir resultados mais rápidos ou sofrer com mais resgates.
Portanto, cuidado ao tomar decisões baseadas em movimentos de pessoas ou instituições que não possuem os mesmos objetivos e horizonte de investimento que o seu.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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