sábado, outubro 5, 2024
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Criminalização de notícias falsas eleitoral volta à pauta do Congresso



Deputados e senadores da oposição estão montando uma ofensiva para garantir que o veto do ex-presidente JairBolsonaro (PL) à Lei 14.197/2021, que revogou a Lei de Segurança Nacionalseja parar pelo Congresso. Um dos trechos barrados por Bolsonaro criou o crime de disseminação de “notícias falsas“sobre o processo eleitoral, com pena de até 5 anos de prisão.

O veto em questão, batizado pela oposição de “veto da liberdade“, está na pauta de votação da próxima sessão do Congresso, marcada para terça-feira (28), quando também serão analisados ​​vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o que excluiu da “lei das ditas” um trecho que proibia a saída de presos para visitar a família ou participar de atividades de convívio social.

As articulações da oposição iniciaram após uma tentativa do governo de usar os vetos de Bolsonaro como moeda de troca para evitar a derrubada do veto de Lula à lei das saidinhas.

Encabeçando a ofensiva contra a derrubada dos vetos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) busca o apoio da coalizão de frentes parlamentares, montada no ano passado durante a interferência que paralisou votações no Congresso Nacional.

A estratégia de oposição é reunir as maiores frentes parlamentares, como a da segurança pública, a evangélica e a da agropecuária, para garantir os 257 votos de deputados e 41 de senadores necessários para a manutenção do veto de Bolsonaro. “Nós entendemos que [essas frentes] têm um grande poder de organização e de mobilização”, afirmou o senador à reportagem.

A liderança da bancada do agro está apoiando a iniciativa. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), disse que a bancada trabalhará para garantir que o “veto da liberdade” seja mantido. Sobre o veto de Lula à “lei das saidinhas”, Lupion acredita que será uma derrota certa para o governo.

“Acho que [a derrota] já está contabilizada pelo governo. Não vamos usar um tema importante como moeda de troca. O mínimo que a gente pode fazer é destacar e votar em separado”, disse o líder da bancada do agro, referindo-se à impossibilidade de o veto ser parte de um acordo com o governo.

A Gazeta do Povo buscou o posicionamento da liderança do governo na Câmara sobre a orientação para votação e, por meio da assessoria, foi informado que ainda não há orientação sobre a manutenção ou a derrubada dos vetos à Lei de Segurança Nacional. A Secretaria de Relações Institucionais, também por meio da assessoria, não manifestou posicionamento sobre a matéria.

O veto de Bolsonaro foi publicado em setembro de 2021. Apesar de a Constituição estabelecer o prazo de 30 dias para a apreciação pelo Congresso, ainda não houve acordo para a votação. “A Constituição Federal não obriga a votação nos 30 dias. O dispositivo apenas menciona ‘será apreciado’. Com isso, o Congresso interpreta como não obrigatório”, explicou a consultora legislativa Letícia Mendes.

Bolsonaro afirmou que a redação era genérica e inibiria o debate de ideias

Em setembro de 2021, ao sancionar a lei que revogou a Lei de Segurança Nacional e modificou o Código Penal, Bolsonaro vetou o trecho que tornava o crime a promoção e o financiamento de campanha para divulgar informações “sabidamente inverídicas” que podem “comprometer o processo eleitoral” . A pena prevista era prisão de um a cinco anos, além de multa.

Para o ex-presidente, esse ponto contrariava o interesse público – essa justificativa é chamada de veto político.

Ele argumentou que a proposta não deixava claro qual conduta seria objeto de criminalização, se aquela que gerou a notícia ou de quem acontecia (mesmo sem intenção de massificá-la), ou mesmo se teria um “tribunal da verdade” para definir o que viria a ser entendido por inverídico a ponto de constituir um crime punível pelo Código Penal, o que acabava por provocar insegurança jurídica.

“A edição genérica tem o efeito de afastar o eleitor do debate político, o que reduziria a sua capacidade de definir as suas escolhas eleitorais, inibindo o debate de ideias, limitando a concorrência de opiniões”, diz a justificativa.

Se o veto à derrubada, haverá a tipificação do crime de comunicação enganosa em massa no Código Penal.

Agora, a oposição está abraçando essa mesma justificativa, afirmando que o texto não deixa clara a definição sobre o que seriam as informações falsas.

Para o senador Flávio Bolsonaro, o governo aproveitaria a repercussão de informações relacionadas à tragédia no Rio Grande do Sul para tentar emplacar novamente a pauta das “notícias falsas“.

“Na prática, vemos que é uma análise, não apenas contra parlamentares como qualquer cidadão brasileiro. Se sua opinião vai contra os interesses do governo atual, você rapidamente é rotulado como um divulgador de notícias falsas“, disse o senador à imprensa.

Veto também evitou tipificação de crime para quem impedisse declarações impostas

A oposição também tem chamado atenção para outro ponto barrado por Bolsonaro nesse mesmo veto à Lei 14.197/2021. Trata-se de um trecho que tornaria o crime impedir manifestações de grupos políticos e sociais, com pena de um a 12 anos de prisão.

O “atentado a direito de manifestação” foi excluído da legislação pelo ex-presidente diante da dificuldade de caracterizar o que seria uma “manifestação importadora”, gerando, segundo o governo anterior, uma “grave insegurança jurídica para os agentes públicos das forças de segurança responsáveis ​​pela manutenção da ordem”.

“Esse dispositivo prevê que o policial, por exemplo, não pode tomar uma medida contra uma manifestação importada”, disse Flavio Bolsonaro, acrescentando que há manifestações “da esquerda” e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que “iniciam importações , mas acabam em confrontos”. Para ele, a derrubada do veto de Bolsonaro, neste caso, pode trazer insegurança aos policiais.

“O policial está em situação como essa não vai poder fazer nada ou só vai poder atuar quando uma manifestação chega à violência ou muitas vezes quando ela estiver de incontrolável?”, questionou o senador. Segundo ele, pessoas que possuem armas em casa também poderiam ser impedidas de atuar diante de uma invasão do MST.

O veto à Lei 14.197/2021 ainda barrou outros temas:

  • Aumento da pena para militares que cometeram crime contra o Estado Democrático de Direito, evitando, inclusive, a perda do posto, da patente ou da graduação.
  • Permitir que partidos com deputados ou senadores eleitos possam ingressar com ações penais em casos de crimes contra o Estado Democrático de Direito, se o Ministério Público não oferecer denúncia ou arquivar o caso no prazo previsto.
  • Aumento da pena para crime contra o Estado Democrático de Direito, violação com violência ou grave ameaça exercida com emprego de arma de fogo, ou se por envolvimento por pessoal público.



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