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Renner quer ser ‘linha de frente’ para doar roupas ao RS – 27/05/2024 – Mercado


A gaúcha Renner, que nasceu vendendo capas de lã para o frio e a Chuva no início do século passado, os planos passam pela tragédia das enchentes em seu estado como referência para a doação de roupas às vítimas.

Segundo o CEO, Fabio Faccio, a empresa quer se tornar linha de frente no enfrentamento da crise, assim como os profissionais de saúde fizeram na Covid. “Na pandemia, a gente não podia estar na linha de frente. Então, ficamos por trás e apoiamos os médicos, hospitais. Mas agora podemos estar na linha de frente também”, diz.

Além das próprias doações, a empresa abriu pontos de coleta em centros de distribuição e lojas pelo país para receber as doações de clientes e fornecedores e transportá-las até o Sul.

Com 13% de suas lojas no RioGrande do Sul, A companhia, que também tem marcas como Camicado e Youcom, precisa fechar algumas das unidades. Segundo o executivo, cerca de 400 funcionários foram atingidos pelas chuvas com grandes perdas e receberam auxílio da empresa para se realocar em casas de familiares ou hotéis, além de antecipação de férias, 13º e depósito emergencial.

Faccio vê a catástrofe como consequência da atuação humana sobre o meio ambiente e defende maior compromisso das empresas e do poder público com a sustentabilidade. “Nestes eventos climáticos que estamos presenciando, fica ainda mais clara a importância. Se alguém tinha dúvidas, está vivendo a experiência na prática, infelizmente”, diz.

O aquecimento global atinge em cheio o setor de vestuário ao prejudicar a venda das roupas de inverno, que costumam ter mais valor agregado, mas Faccio afirma que a moda se adapta vendendo roupas mais leves.

“Atualmente, tem tido um comportamento de usar mais camadas. Em vez de usar uma peça mais pesada, a pessoa usa duas ou três mais camadas. Se esfriar, ela compõe. Tem opções. A opção que não temos é a de lidar com essas efeitos que estamos lidando, como sociedade e humanidade, que impactam muito mais a todos nós”, diz.

Como a Renner está lidando com a tragédia? A Renner nasceu no Rio Grande do Sul. Nos sentimos responsáveis ​​pelo estado. É um cordão umbilical. Dividimos nossas ações em quatro pilares. O pilar 1 é proteger as pessoas, tanto quanto o nosso tempo, quanto os clientes e a comunidade.

Com recursos nossos para barcos e equipes, resgatamos mais de mil pessoas, algumas delas do nosso próprio tempo. Fechamos temporariamente algumas lojas onde não era possível operar ou poderia haver risco de transporte ou deslocamento.

Quantas? Quando começou o impacto maior, o pico chegou a 4% de todas as lojas. Temos 669 lojas, somando Brasil, Argentina e Uruguai com Renner, Camicado Youcom e Ashua. Hoje, está em torno de 1% das lojas fechadas.

E tem alguns com horário limitado. Em alguns locais, a segurança pública pede para fechar mais cedo por risco de deslocamento à noite ou pelo transporte. A iluminação natural também é uma questão de segurança. Estamos adaptando a operação.


Quais são os outros pilares de ação? Temos o pilar 2, que é estar na linha de frente ajudando para a questão das roupas. Na pandemia, atuamos de forma semelhante para algumas coisas, mas o pilar era apoiar quem estava na linha de frente naquele momento, porque a gente não podia estar. Então, ficamos por trás e apoiamos os médicos, hospitais. Mas agora podemos estar na linha de frente também.

Temos 380 mil peças prontas para doar, sendo que 80 mil já estão com a Defesa Civil e parte já foi doada.
Estamos preparados para fazer mais. Neste momento, as pessoas que perderam tudo não têm onde colocar as coisas, mas depois, quando voltarem para casa, vão precisar de mais roupa.

Como nós somos uma das maiores empresas no estado, temos esse papel de ponte para ampliar as ações de quem quer ajudar. Então, o pilar 3 são as parcerias, conectando empresas com órgãos públicos e instituições locais. Temos parceria com a Cufa e o Sesc, por exemplo.

Também vamos ajudar na fase da sobrevivência, tanto das moradias como a infraestrutura de estradas, pontes e aeroportos. Estamos formando coalizões, por exemplo, com o Instituto Ling.

O pilar 4 é manter a saúde financeira da empresa. Fazer tudo isso e continuar operando, mitigar possíveis perdas para continuar gerando resultados e lucro para continuar ajudando.

Qual é o volume de doações? Foram mais de 112 mil litros de água, 28 mil cobertores e roupas de cama e toalha, 52 mil itens de higiene e limpeza e 31 toneladas de alimentos.

Nossos fornecedores também estão contribuindo. Parte disso vem deles. Estamos aceitando doação nas lojas e nos nossos centros de distribuição e trazendo para cá. Tem muita gente querendo ajudar e não sabe como.

Quais foram as perdas da empresa? Não houve perdas de materiais. Tipo lojas em que entraram água, mas pouca, e deu tempo de tirar equipamentos e roupas. Não houve casos de inundação. As lojas que estão fechadas são por dificuldade de acesso ou por água num dos pisos.

O impacto maior é não abastecimento? Não há fluxo de abastecimento e de pessoas nas lojas. Do nosso parque de lojas total, 13% está no Rio Grande do Sul, e 11,5% do faturamento está aqui. Algumas unidades não sentiram nada, como as do norte do estado. Alguns capturando um pouco do movimento de pessoas de outras cidades que migraram. Então, uma parte do faturamento do estado está sendo impactada, não toda.

Quanto ao abastecimento, nossos centros de distribuição ficam em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A maior parte das lojas está sendo abastecida, com raras abordagens que estão com o tempo de abastecimento um pouco mais longo na função do fluxo das estradas para algumas cidades.

Isso acontece em um momento de forte preocupação do varejo em geral com outro tema, a autorizado das vendas de US$ 50 dos sites estrangeiros, não? O que a gente pede é tratamento tributário isonômico para empresas nacionais e estrangeiras, livre competição. No Brasil, as empresas nacionais pagam em média 90% de imposto para um mesmo produto que uma empresa estrangeira paga 17%. É o protecionismo às avessas, um absurdo que está exportando empregos brasileiros, quebrando a pequena indústria, o pequeno varejo e já as grandes indústrias e varejistas nacionais. Não há ninguém no país que seja contra a isonomia. É um tema de interesse de todos e espero que seja resolvido.

Os recursos emergenciais do governo para a população protegem o aquecimento do varejo? Com certeza, qualquer recurso adicional destinado à população do Rio Grande do Sul, neste momento, ajuda diretamente as pessoas afetadas e, indiretamente, toda a economia do estado.

Na questão climática, o calor extremo, que atrapalhar vendas de invernotambém preocupa?
Do ponto de vista do negócio, nosso trabalho é atender ao cliente que ele tem necessidade. Temos opções de produtos para cada clima e estação. É possível se adaptar a isso. É mais difícil, mas é possível.

O que eu acho importante do ponto de vista climático, e tem muito a ver com a pauta das enchentes, é que é cada vez mais claro o impacto que nós, como humanidade e sociedade, estamos tendo no meio ambiente, e que está gerando estes impactos climáticos. Não estou falando só das enchentes no RS. Tiago os meses de fevereiro, março e abril mais quente da história, não só no Brasil.

Sobre as enchentes no estado, alguns dizem: ‘Lá em 1941 nós tivemos [enchente em Porto Alegre]’.

Mas não foi tão impactante nem temos os sistemas fluviais que temos hoje. Tio outro em 1969, um pouco menos relevante. Agora, nós tivemos em junho, setembro, novembro, janeiro e agora em maio. Várias em menos de um ano. A intensidade e a frequência são maiores.

Em São Paulo, eu tenho liberdade para 33 graus por tanto tempo no outono. Pode ter tido um dia ou outro no passado, mas não dessa forma.

Nós, como humanidade, acabamos causando isso. Fica clara a importância de ações de mitigação, descarbonização e redução de impactos climáticos. Isso está na nossa estratégia. Temos compromissos públicos de sustentabilidade. Fica ainda mais clara a importância da sustentabilidade e do compromisso das empresas e dos órgãos públicos nesses eventos climáticos que estamos presenciando. Se alguém tinha dúvidas, está vivendo a experiência na prática, infelizmente. Acho que isso acende a relevância do tema e a urgência.

Ter inverno é importante para o negócio do vestuário porque são roupas de maior valor agregado?
É importante, mas sempre há o consumo de moda. Atualmente, tem tido um comportamento de usar mais camadas. Em vez de usar uma peça mais pesada e de valor mais alto, a pessoa usa duas ou três mais níveis. Se esfriar mais, ela compõe. Tem opções. A opção que não temos é a de lidar com esses efeitos que estamos lidando, como sociedade e humanidade, que impactam muito mais a todos nós.


RAIO-X | FÁBIO FÁCCIO, 51

Formado em administração pela PUC-SP, foi estagiário na Renner em 1999 e ocupou cargos de gerência e direção. Assumiu a presidência em 2019



FOLHA DE SÃO PAULO

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