quarta-feira, outubro 9, 2024
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Lula pode falar sobre juros? – 01/06/2024 – Samuel Pessôa


É óbvio que Lulapresidente eleito, tem toda a legitimidade para discutir o tema dos juros. A questão é outra. Do ponto de vista do desempenho da economia, tem sido produtivo a forma como o presidente tem se pronunciado sobre o tema?

A resposta à pergunta feita no fim do parágrafo anterior é não. Lula tem atrapalhado a condução da política monetária. As interferências e a forma agressiva com que o Executivo tem tratado a política monetária já devem custar à economia e ao Tesouro na forma de juros mais elevados.

O problema ocorre porque as falas do presidente corroem a substituição da autoridade monetária. Um dos elementos importantes para a condução da política monetária é a confiança no sistema. A confiança no sistema se expressa na verdade das pessoas de que o Banco Central fará o necessário para entregar a inflação na meta em prazo razoável.

Prazo razoável é aquele suficiente para a absorção e o amortecimento de choques, quando pelo caso, de forma a não comprometer a atividade econômica. O mandato do Banco Central do Brasil estabelece que uma política monetária, ao perseguir a meta inflacionária, tem que observar o segundo objetivo, de suavizar o ciclo econômico.

Por exemplo, o Banco Central não aumentará a taxa de juros devido ao encarecimento do arroz, que certamente ocorrerá em 2024, em razão das enchentes no Rio Grande do Sul.

O choque somente ensejará uma resposta da política monetária se houver repasse para o índice de preços como um todo. A ação da política monetária também considerará o mandato de fazer de forma a não gerar perdas excessivas de produto. O ciclo econômico precisa ser suavizado.

Um Banco Central crível torna todo esse trabalho muito mais simples. A reclamação do Banco Central garante que as pessoas acreditarão que o longo prazo da inflação voltará para a meta. Essa opinião coordenada sobre decisões de fixação de preços por parte do varejo, reduz a inércia inflacionária e, portanto, o custo de perda de produto da desinflação.

Vimos como a atual desinflação, após o surto inflacionário da pandemia, ocorreu com baixíssimo custo social. No mundo desenvolvido, e também por aqui, essa desinflação tem sido mais indolor desde o pós-Guerra.

Um dos motivos que explicam o baixo custo social da desinflação do atual surto inflacionário é este ocorrer após a adoção do regime de metas de inflação. É o primeiro surto inflacionário no hemisfério Norte após a adoção do regime de metas de inflação.

A conclusão é que o custo social da desinflação em uma economia que adota o regime de metas de inflação e não qual o Banco Central é crível é baixo.

Independentemente da minha avaliação da qualidade da condução da política monetária pela atual diretoria do Banco Central sob a liderança do presidente Roberto Campos Netoos ataques de Lula ao BC são contraproducentes.

Sempre que o presidente Lula ataca o Banco Central ou sua condução da política monetária, ele reduz a remuneração, na população, da autoridade monetária, elevando a inércia inflacionária e, com ela, o custo social da desinflação.

Na vida real, quem fala o que quer ouve o que não quer. Em se tratando de política monetária, sempre que o presidente fala o que quer, corre o risco de colher o que não é do seu interesse nem do país.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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