De repente, como tarifas sobre importação de roupas e bugigangas de até US$ 50 viraram assunto obrigatório do noticiário econômico e das redes sociais. A aprovação do fim da autorização pela Câmara dos Deputados encheu uma avalanche de especulações sobre seus efeitos.
As empresas mais afetadas se manifestaram. Ela dentro e AliExpress chamaram a taxação de “retrocesso” e calcularam que seus produtos mais baratos pagarão uma alíquota de 44,5% de imposto. Jogo jogado.
Chamou a atenção a Comprador, também chinesa e com público bem semelhante às outras duas, elogiar a medida. A empresa sacou da cartola um número chamativo: A cada 10 compras feitas no Brasil em sua plataforma, 9 são de produtos nacionais.
Ironia: blusinhas e bugigangas que credenciamos sendo fabricadas a preços irrisórios na China na verdade, sendo produzidos a preços irrisórios aqui mesmo.
As ações de varejistas nacionais do mundo da moda reagiram inicialmente bem. No dia seguinte à aprovação do projeto pela Câmara (e aqui ressalto que ainda precisa passar pelo Senado), as ações da Lojas Renner (LREN3) tiveram alta de 1,29%; e da C&A, (CEAB3) subiram 5,25%.
O movimento pontual das ações não consegue maquiar o cenário terrível que foi o mês de maio para ambos. No acumulado do mês, os papéis caíram 14% (Renner) e 12% (C&A). O Ibovespa, principal medida da nossa Bolsa, caiu 2,9% no período.
Esse tipo de euforia imediata com o aumento de tarifas sobre concorrentes chineses lembra o caso das siderúrgicas. Completou-se um mês desde que o governo Lula elevou a tarifa para importação do aço chinês para 25%.
A medida foi tomada depois de jogadores do setor colocarem a faca no pescoço do governo (falei sobre isso aqui) ameaçando retirar seu apoio político, muitas vezes traduzido em doações polpudas, às vésperas de eleições municipal.
O imposto veio, mas não me parece que tenha destravado o valor das empresas nacionais. Desde 22 de abril, às vésperas do aumento de tarifas, as ações da Usiminas (USIM5) despencaram mais de 22%; as da CSN (CSNA3) caíram mais de 11%; e as da Gerdau (GGBR3) perderam mais de 5% do valor.
No fim de comparação, o Ibovespa caiu pouco mais de 2,5% no período.
Veja bem, não estou aqui discutindo o quanto as novas taxas podem ajudar o governo a fechar as contas, nem são justas ou injustas para a indústria nacional. Basta chamar a atenção para os efeitos sobre o valor das empresas ao sufocar a concorrência com tarifas.
Nosso varejo sofre. E continuarão sofrendo enquanto persistirem as taxas de juros astronômicas, usadas como método de controle de uma inflação. Não há remédio para ele que não seja o aumento do poder de compra das famílias. Espantar concorrentes estrangeiros é mais espuma do que chope.
Quanto à indústria, os efeitos dos juros são falta de dinheiro para investir em crescimento. O setor está sufocado e vai buscar prejuízos aqui ou na China. Os resultados estão na mesa, com faixas que não podem ser ignoradas.
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