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Presidente do Ebanx diz que inclusão é questão de negócios – 06/04/2024 – Mercado


A equidade passa pela inclusão financeira, defende Paula Bellizia, presidente de Pagamentos Globais da fintech brasileira Ebanx.

“Quando você fala de acesso e de inclusão, você está movendo o ponteiro das economias, gerando riqueza. Inclusão de gênero, racial, LGBTQIA+enfim, de todos os grupos minorizados, trata-se de uma questão de negócios”, afirma à Folha.

A diz executiva que teve “um bom berço” quando o assunto é diversidade. Filha de pais portugueses, nasceu em Angola e, com dois anos, mudou-se para o Brasil.

Uma família veio refugiada da guerra civil do país africano e instalou-se na cidade de Santos, litoral de São Paulo.

Bellizia cursou tecnologia na faculdade na década de 1990, quando a presença da feminina na área era ainda menor. De acordo com ela, havia quatro mulheres em uma turma de 40 alunos.

Três décadas depois, carrega diversidade e inclusão como bandeiras prioritárias em sua agenda.

Antes do Ebanx, foi vice-presidente de Marketing do Google para a América Latina, diretora de Operações da Microsoft para a América Latina, presidente da Microsoft Brasil e country manager da Apple no Brasil.

Ela sabe que sua trajetória não reflete o setor, no qual as mulheres ocupam 12% das cargas, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

“Esperaria que a gente tivesse avançado mais. Se antes a tecnologia era importante, agora é fundamental. Não ter representatividade hoje traz um prejuízo potencial maior do que no passado”, afirma.

Segundo o último relatório de ESG do Ebanx, as mulheres são 40% das cargas de liderança na empresa. Na sua equipe, elas são 50%. O que é isso, sra. faz de diferente?
Eu tenho esse perfil de uma cultura inclusiva, em que todos têm voz, em que a opinião de cada um dentro do grupo é respeitada, em que o desenvolvimento ocorre para todos. É mais fácil falar do que fazer, mas olhar para as necessidades de cada membro da sua equipe tem sido muito importante.

No passado, a participação de mulheres no mercado foi vista como um impacto social. Mas a presença de mulheres nos negócios é uma questão de negócios.

Você só tem inovação se você pensar diferente e diferente vem da diversidade. Então a gente pensa bastante nisso aqui no Ebanx.

Hum estudo da McKinsey comprova que os resultados financeiros de empresas lideradas por grupos diversos são muito mais sustentáveis.

Quando eu contrato, penso na complementaridade do tempo. Claro que méritos, experiências, competências técnicas são importantes, mas, como líder, penso muito em como construir um tempo absolutamente diverso para que a gente traga mais resultados.

Durante uma carreira, a sra. foi tratada de forma diferente por ser mulher ou se sentiu discriminada de alguma forma?
Não vivi episódios de discriminação, mas houve muitos momentos em que as pessoas não me consideraram como líder. Em algumas reuniões, eu entrava na sala e as pessoas continuavam aguardando pela liderança.

Vivi episódios nos quais parecia que uma mulher não poderia estar na cadeira número um, na posição de tomada de decisão final.

E a forma como lidei sempre foi de não reagir a níveis, mas fazer o ponto. Sou eu. Eu sou um líder que vocês estavam aguardando para uma reunião. Fazer isso de uma forma positiva e deixar que a pessoa mesmo perceba e tenha uma oportunidade de pensar diferente. Sempre foi meu estilo e trabalhado.

Qual é a sua missão dentro do Ebanx?
Cheguei em 2022, quando o Ebanx completou sua primeira década. Minha missão é continuar o forte DNA de crescimento e expansão global. É mostrar para o mundo que a inovação em pagamentos vem de países como o Brasil.

Nós [brasileiros] temos muito a acrescentar, quando o assunto é prover acesso para as pessoas nas economias em ascensão.

O Pix é um exemplo, o pagamento instantâneo lá da Índia, que se chama UPI [Unified Payments Interface] é outro exemplo, o Mobile Money nos países da África é outro.

O Ebanx nasceu para agregar toda essa inovação e conectar países de consumidores ávidos por comprar, para fazer parte da economia digital, a empresas e marcas interessadas nesses países.

Nós nascemos no Brasil, expandimos para a América Latina, África e Índia. Ter uma fintech brasileira expandindo as fronteiras globais é uma história linda.



É impossível dissociar a expansão das economias da inclusão total dos grupos minorizados, seja gênero, raça, orientação sexual, enfim, todos os grupos que hoje não estão representados na sociedade

Com a chegada na África e na Ásia, quais são as perspectivas do Ebanx para os próximos anos?
teremos uma inclusão global de 113 milhões de novos consumidores digitais até 2026. Desse número, 70% virão de economias em ascensão como o Brasil, a América Latina, a África e a Ásia, com a Índia sendo o maior mercado.

Na Índia, apenas 30% da população atualizou o pagamento instantâneo digital, o Pix deles, e isso já foi uma revolução. Imagine o que vai acontecer nos anos vindouros. Nossa chegada ocorre em um momento no qual o boom de crescimento está à nossa frente.

O Ebanx é uma das grandes lideranças do mercado em Pix no Brasil. Queremos fazer tudo o que aconteceu no Brasil aconteceu também na Índia. Essa é a nossa visão de negócio e de futuro.

E a gente não pode esquecer da África, onde lançamos nossa operação no ano passado. Estamos operando em países muito relevantes para o continente africano, como África do Sul, Nigéria, Quênia e Egito.

Muito já aconteceu, mas, ao mesmo tempo, tudo está por acontecer em termos do impacto que as pessoas podem fazer nessas regiões.

Que forma a igualdade de gênero e de raça passa por essa inclusão financeira?
Quando você fala de acesso e de inclusão, você está movendo o ponteiro das economias, gerando riqueza e negócios. Então, inclusão de gênero, inclusão racial, inclusão LGBTQIA+, a inclusão de todos os grupos minorizados trata-se de uma questão de negócios.

Essas pessoas são todas pessoas que consomem, são pessoas que desejam, são pessoas que querem ser incluídas no mercado de consumo.

Para mim, não dá para separar uma coisa da outra. Por exemplo, 95% das pessoas que fizeram a sua primeira compra digital fizeram a partir do Pix. Ou seja, é uma ferramenta de inclusão financeira, com um impacto devastador.

No ano de sua chegada, em 2022, o Ebanx, assim como outras empresas de tecnologia, fez demissões em massa, em um corte que equivale a 20% dos funcionários no Brasil. Acredita que os cortes seguirão no setor?
Fizemos uma grande revisão de estratégia em 2022 e nossa decisão foi focar na companhia no nosso núcleo, que é pagamentos internacionais. E isso nos fez revisar nosso modelo de operação em geral.

Um momento triste, a gente nunca gosta, obviamente, de que isso aconteça, mas foi importante e necessário. Como você bem falou, aconteceu para o mercado de tecnologia.

Olhando para o futuro, estamos muito otimistas. Anunciamos expansões, parcerias e grandes marcas passando a operar com a gente.

As coisas estão na direção de sermos um dos maiores jogadores globais para pagamentos internacionais. São momentos difíceis, mas a gente precisa ajustar a operação para que o negócio seja sustentável a longo prazo.

E o impacto da inteligência artificial? No Ebanx, as funções deixarão de existir? De que forma você está adotando ferramentas de IA?
Estamos avançando rapidamente na utilização de inteligência artificial e com ótimos resultados em algumas áreas específicas. Estamos muito focados em aplicar tecnologia para que as pessoas possam aprender a escalar com ela.

Nossa plataforma antifraude, por exemplo, tem algumas camadas de proteção e todas elas já se beneficiam de inteligência artificial.

A fraude em países em ascensão, como o Brasil, como o México, como a América Latina, como um todo, é um desafio importante. Então a gente vai usar a tecnologia à altura da complexidade desse desafio.

Outro lado é obviamente testar a produtividade na companhia inteira. Não vemos nenhuma função sendo eliminada, mas vemos a tecnologia como aliada dos nossos tempos globais para que as pessoas possam aumentar a produtividade.

Como a sra. vê seu papel como uma das lideranças do Conselho de Ação do B20, fórum que conecta a comunidade empresarial ao G20?
É uma privilégio porque o G20, liderado pelo Brasil neste ano, é o primeiro a ter um conselho de ação sobre o tema mulheres, diversidade e inclusão em negócios.

Não posso falar muito ainda sobre quais são as recomendações que a gente está trabalhando. Mas estamos estudando a economia do cuidado —que é uma força interessada para levar as mulheres para o mercado de trabalho—, equidade salarial, investimentos de pesquisa em desenvolvimento de saúde da mulher.

E também sobre como as políticas públicas podem ajudar grupos sub-representados na sociedade a acelerar mais rapidamente sua participação no mercado de trabalho, como educação e emprego.

A cada reunião mensal, saio muito inspirado pela possibilidade de ajudar a fazer a diferença. Vamos apresentar essas recomendações de políticas públicas à liderança do B20, que repassam suas recomendações para o G20.

É um trabalho de um ano e eu quero ter mais para contar no segundo semestre, quando tivermos as recomendações das políticas públicas já finalizadas.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha apresenta mulheres com três meses de assinatura digital grátis.


RAIO-X

Paula Bellizia, 52

Nascida na Angola, mora no Brasil desde os dois anos de idade. É graduada em tecnologia pela Fatec (Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo), com pós-graduação em Marketing e MBA na FIA-USP. Trabalhou no Google, Microsoft, Apple, Facebook, Telefônica e Whirlpool. Desde 2022, é sócio e presidente de pagamentos globais do Ebanx.


Ebanx

Fundada em 2012, a fintech curitibana é uma plataforma de pagamentos digitais que conecta empresas a consumidores. Em 2019, investimento financeiro do fundo americano FTV Capital e passou a valer mais de US$ 1 bilhão, entrando para a lista de unicórnios brasileiros. Hoje, tem mais de 700 funcionários e está presente em 29 países.



FOLHA DE SÃO PAULO

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