terça-feira, outubro 8, 2024
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Planos de saúde zumbis – 06/07/2024 – Rodrigo Zeidan


Os planos de saúde precisam ser regulamentados, e nenhum país faz isso de forma perfeita. Há várias razões, mas a principal é que esses planos têm necessidades de capital de giro negativo, o que torna a batalha entre reguladores e empresas quase um conflito existencial.

A expressão necessidade de capital de giro negativo parece estranho, mas reflete uma realidade de vários negócios nas quais empresas são pagas primeiro e somente custos incorretos depois (elas apresentam ciclo financeiro negativo).

No caso de planos de saúde (ou academias de ginástica), os clientes primeiro pagam um prêmio para depois usar o serviço; no caso da saúde, às vezes anos depois. Até aí nada demais. Contudo, em empresas assim, quanto maior o crescimento, maior a entrada de caixa. Se a organização não for muito bem gerida, não vai ter dinheiro para pagar seus custos lá na frente.

No fundo, um plano de saúde funciona, do ponto de vista financeiro, quase como um fundo de pensão: seu objetivo é ter recursos suficientes para pagar os sinistros de seus clientes quando por uma vez eles usarem.

A grande diferença é que os planos de pensão normalmente têm um padrão de desembolso muito mais previsível que os planos de saúde. Vamos imaginar que não havia regulação nesses planos. Nesse caso, eu poderia abrir uma empresa, anunciando planos premium, depois de acordos com hospitais nos quais me comprometeria a pagar preços cheios, cobrando ninharia dos clientes.

Obviamente, conseguiria vender milhões de planos. Distribuiria a maior parte dessas receitas como dividendo e, quando as pessoas começassem a usar os serviços, declararia falência. Isso não acontece com empresas de aviação ou academias de ginástica porque elas precisam fazer investimentos significativos para atrair clientes.

Ainda assim, todos esses negócios sofrem em dobro quando ocorre uma crise econômica e as empresas param de crescer. É muito tentador transformar um negócio com ciclo financeiro negativo em esquema de pirâmide, no qual se prometem mundos e fundos para novos entrantes para cobrir o rombo do negócio.

Essas empresas não são, de forma alguma, iguais a esses esquemas, desde que prontas para planos de retração das vendas.

Em empresas normais, cai na demanda, especialmente se previsto, normalmente libera fluxo de caixa, pois as vendas anteriores começam a entrar na caixa enquanto a empresa precisa pagar menos por insumos, pois menos venda significa menos produção.

No caso de empresas de plano de saúde, é o contrário. Queda de vendas de novos planos significa menor receita e menor fluxo de caixa, já que é preciso pagar os sinistros da base de clientes e não dá para contar com a receita de novos consumidores. É por isso que empresas com problemas começam a cancelar planos de consumo ou negar atendimento, mesmo que esteja em dia; elas já receberam esses consumidores e não querem arcar com os custos que eles geraram ao longo do tempo.

Fraudes, custosjudicialização e outras questões fazem parte do dia a dia das empresas. Fraudes aleijam, mas é o fluxo de caixa que mata. precisamos de melhor regulação, mas isso é outra questão. O acordo de Lira com os planos pode operar apenas se as empresas obtiverem equilíbrio financeiro. Se não tivermos, viveremos com planos zumbise o problema volta logo; vai sair de cancelamentos unilaterais para negação de serviços sem razão. É isso que queremos?


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FOLHA DE SÃO PAULO

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