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Inteligência Artificial é uma nova era atômica? – 06/09/2024 -Ronaldo Lemos


Em 1953 Estados Unidos dominavam uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a energia nuclear. O rival naquele momento era a União Soviética, outro único país a dominar a tecnologia. Nesse contexto, o presidente Dwight Eisenhower criou a iniciativa “Átomos para a Paz”.

Apoiado por Oppenheimer, o objetivo era compartilhar usos pacíficos da energia nuclear com aliados, em troca da facilidade de regras e limites. Isso levou à criação da Agência Internacional de Energia Atômica em 1957. Países como Paquistão e Israel construíram seus primeiros reatores nucleares por causa do programa. A União Soviética fez o mesmo e começou a transferir a tecnologia nuclear para os aliados.

O resultado foi uma rápida expansão da tecnologia nuclear. O que logo trouxe enorme preocupação. EUA e União Soviética reverteram a estratégia e fizeram algo surpreendente: sentaram-se à mesa durante a guerra fria para conter a expansão nuclear, assinando o Tratado de Não Proliferação Nuclear em 1968. Seu objetivo era promover o desarmamento, frear os usos bélicos e preservar os usos pacíficos.

Corte para o momento atual. Os EUA dominam hoje uma nova tecnologia capaz de mudar o mundo: a inteligência artificial. O grande rival desta vez é um China, que está em segundo lugar no domínio da tecnologia. Cerca de 80% da necessidade de infraestrutura para a IA é controlada pelos dois países.

É nesse contexto que surge o debate sobre a criação de uma “Agência Internacional de Energia Atômica” para a inteligência artificial. O tema foi objeto de grupo de trabalho nesta semana na Universidade de Stanford, na Califórnia, com a presença das principais empresas de IA, de membros do governo dos EUA e representantes de governos de países como a Índia e outros. Este colunista foi um dos participantes. O objetivo foi entender como a iniciativa “Átomos pela Paz” pode trazer lições para a inteligência artificial. E pensar não que fazer a partir de agora.

Um dos temas propostos foi que os Estados Unidos deveriam cooperar com os países em desenvolvimento para promover a expansão do acesso à tecnologia da IA. Na troca de expansão, seria aplicada a concordância com princípios básicos de usos seguros e pacíficos da tecnologia, tal como em 1953.

Foi também planejado que modelos mais avançados de IA (bem como os chips e as tecnologias adjacentes permitidas) não deveriam estar sujeitos a restrições de exportação e acesso.

Foi também discutida a previsão de se criar uma Agência Internacional de Energia Nuclear para IA, o que exigiria um esforço tão colossal quanto foi a assinatura dos tratados de não-proliferação. Só que as diferenças com o mundo de 1953 são enormes. A tecnologia nuclear era controlada pelos Estados. Já a inteligência artificial foi desenvolvida por empresas privadas.

Além disso, as aplicações da IA ​​são muito mais abrangentes. Podem ser usados ​​tanto para criar armamentos independentes (ou que sejam preocupantes) quanto para contar piadas.

A visão que expressei é que é mais viável no mundo de hoje a criação de um conselho de supervisão para IA que fosse multissetorial, envolvendo empresas, governo, comunidade científica e países aderentes. Esse debate está quente. O Brasil precisa participar dele com voz própria, original e altiva. Podemos ser protagonistas e não apenas consumidores de soluções importadas.

Leitor

Já era – Descobrir que o Brasil não tem condições de ser protagonista em IA

Já é – Perceber que o Brasil tem enormes capacidades para atuar como protagonista em IA

Já vem – Expectativa de que o Brasil atue no debate de IA à altura de suas reais capacidades


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FOLHA DE SÃO PAULO

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