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FGTS: STF julga revisão hoje; entenda o que está em jogo – 06/12/2024 – Mercado


Ó STF (Supremo Tribunal Federal) prevê retomar nesta quarta-feira (12) o julgamento da correção do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), com expectativa do governo federal de que a corte acate uma proposta apresentada em abril sobre o temadiscutida com centros sindicais.

Nesta segunda-feira (10), o advogado-geral da União, Jorge Messias, se reuniu com o presidente da corte, ministro Luís Roberto Barrosopara reforçar que o Planalto se dispõe a manter a Correção Atual do Fundo de Garantia e inclui a distribuição dos lucros de forma obrigatória no cálculo.

Essa seria uma forma de garantir atualização de, no mínimo, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial do país, no FGTS, diminuindo as perdas dos trabalhadores.

O encontro aconteceu no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Além de Messias, serviram no local outros advogados da União e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron.

O FGTS rende, atualmente, 3% ao ano mais TR (Taxa Referencial). A taxa rende próximo de zero, o que faz com que o dinheiro parado no fundo tenha baixa remuneração. A ação a ser julgada no Supremo, apresentada pelo partido Solidariedade, pede que o TR seja declarado inconstitucional e, em seu lugar, definido um índice de inflação para reportar as perdas dos trabalhadores.

Após a reunião com Barroso, Messias afirmou que, em entendimento com as centrais, o governo concorda “em garantir em qualquer cenário para o trabalhador, o mínimo, a inflação pelo IPCA”.

Em memoriais sobre o assunto apresentado a Barroso, um AGU diz que “nos anos em que os contribuintes das contas vinculadas ao FGTS não atingirem o IPCA caberá ao Conselho Curador do Fundo determinar a forma de compensação”. Essa distribuição de lucros teria “efeitos prospectivos”, ou seja, futuros.

Segundo Messias, porém, é “um compromisso do governo do presidente Lula, imediatamente após o término do julgamento, abrir uma mesa de negociação com as centrais para discutir uma distribuição extraordinária para os trabalhadores”.

Há atualmente no Supremo três propostas para as contas do FGTS: o pedido feito pelo Solidariedade, de afastamento da TR e determinação de um índice de inflação para corrigir os depósitos, do ministro Barroso, para que o Fundo de Garantia tenha ao menos a contribuições da poupançaatualmente em 6,17% ao ano mais TR, e do governo, de garantir ao menos a inflação pelo IPCA.

O voto de Barroso sugeriu ainda que, se houver mudança, ela passe a valer para todas as contas do FGTS a partir do julgamento do Supremo, sem direito à correção dos valores atrasados.

O julgamento foi paralisado após pedido de vista (mais tempo para análise) feito pelo ministro Cristiano Zaninque foi indicado por Lula e tem se manifestado em consonância com o governo ao julgar temas relacionados à economia.

Como esse julgamento não foi encerrado, os ministros podem alterar seus votos ou adaptá-los a partir das novas declarações da AGU. Ó ministro Flávio Dinoque tomei há alguns meses, também tem o direito de pedir vista e fazer com que o caso seja paralisado novamente.

Desde 2017, o FGTS paga o lucro que o fundo obteve no ano, aumentando os ganhos dos trabalhadores. Com a distribuição desses resultados, houve períodos de ganhos acima da inflação. No ano passado, um Caixa distribuiu 99% do lucro, creditando R$ 12.719 bilhões na conta dos trabalhadores.

A correção do FGTS é uma ação bilionária, com impacto previsto em R$ 661 bilhões, segundo cálculo apresentado da AGU em 18 de abril de 2023, pouco antes do início do julgamento no STF.

As perdas dos trabalhadores são estimadas em cerca de R$ 756 bilhões desde 1999, quando a TR passou a ser aplicada, segundo cálculos do Instituto Fundo de Garantia do Trabalhador. A ação inicial apresentada ao STF em 2014 mostrou perdas de 88,3% entre janeiro de 1999 e 2013, dados do estudo encomendado pela Força Sindical e o Solidariedade.

Apesar de o processo de correção do FGTS estar na pauta de quarta-feira (12) do Supremo, não é o primeiro item a ser julgado e não há decisão sobre quando os ministros retomarão a análise.

O que pode acontecer no julgamento?

O julgamento da revisão com o voto-vista do ministro Zanin, que pediu mais tempo para analisar o caso e deve dar seu posicionamento. Além dele, faltam votar os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Flávio Dino.

O julgamento poderá ficar para outro dia, terminar nesta quarta, começar e não terminar por falta de tempo ou ter algum pedido de vista.

Se houver pedido de vista, a sessão é interrompida e o caso deve ser retomado após a devolução do processo. Outro ponto é o STF entender que o TR é constitucional e não indicar nenhuma alteração, negando o pedido de revisão.

Há a possibilidade de aprovação da nova fórmula de correção, conforme proposto por Barroso. Se esse for o caso, há ainda o direito a embargos de declaração —pedido para esclarecer algum ponto do julgamento—, o que pode levar a uma nova análise pelo corte. O ministro também pode decidir ajustar seu voto e seguir o que indica a AGU e o governo, diminuindo a correção, no mínimo, pela inflação.

O que é o FGTS e como ele funciona?

O FGTS funciona como uma poupança para o trabalhador. O fundo foi criado em 1966, com o fim da estabilidade no emprego, e passou a valer a partir de 1967. Todo mês o empregador deposita 8% sobre o salário do funcionário em uma conta aberta para aquele emprego.

Há ainda multa de 40% sobre o FGTS caso o trabalhador seja demitido sem justa causa. Desde a reforma trabalhista de 2017, há também a possibilidade de sacar 20% da multa após acordo com o empregador na demissão.

O fundo, no entanto, é utilizado em políticas públicas de habitação, saneamento básico e infraestrutura urbana, conforme previsto na legislação.

Ó O saque do FGTS é autorizado apenas em 16 situações previstas na lei. Fora isso, o trabalhador não tem acesso ao dinheiro.

Quem tem direito caso o STF julgue favorável a ação?

Uma mudança na correção do FGTS, mesmo que futura, deverá impactar cerca de 200 milhões de contas vinculadas ao Fundo de Garantia, segundos dados da Caixa Econômica Federal. O número de trabalhadores envolvidos é menor, porque cada profissional pode ter mais de uma conta.

Se para aprovar a remuneração da poupança com correção do fundo, o trabalhador teria duas formas de ganho, conforme a Selicque é a taxa básica de juros da economia. A regra mudou em 2012 e diz que para depósitos realizados até 3 de maio de 2012, a atualização é fixa, de 0,5% ao mês mais TR, o que dá 6,17% ao ano mais TR.

Para depósitos feitos após esses dados, os pagamentos estão vinculados à taxa básica de juros da economia, a Selic. Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento é de 0,5% ao mês mais TR. Já se a taxa básica for igual ou inferior a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic mais a TR.

Caso seja aprovado a proposta do governo, a correção se mantém a mesma, mas a divisão dos lucros deve ser maior, fazendo com que se pague a inflação ou mais, segundo afirma o Planalto.



FOLHA DE SÃO PAULO

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