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Com teimosia e soberba, Lula puxa o próprio tapete – 13/06/2024 – Marcos Augusto Gonçalves


Não será com teimosia, soberba, desentendimentos e desarticulação política que o governo Lulaseu partido e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contribuirão com um futuro mais promissor para o Brasil e o governo. O segundo ano do terceiro mandato de Lula revela-se até aqui um compilado de desencontros e dissonâncias em praticamente todos os campos.

Tem-se a impressão de que a administração petista exercita-se na arte de puxar seu próprio tapete.

É sempre fundamental repisar o fato de que Lula retornou à Brasília numa situação excepcional, em eleição disputada milimetricamente, na qual acenou para o centro com vistas a derrota JairBolsonarouma grave ameaça institucional que acabou deixando pelo caminho o programa neoliberal prometido e aplaudido pelo partido da economia.

Essa divisão continua a tensionar o ambiente, ainda que Lula tenha conseguido uma transição bem sucedida ao retomar o padrão de normalidade democrática e ter evitado, com méritos de Haddad, uma consequência intempestiva dos mercados ao oferecer um projeto digerível de regra fiscal.

Só que o primeiro ano passou. Os erros e os acertos estão sendo testados pelo tempo e se apresentam de maneira mais discernível. As insatisfações e discussões avançaram num processo natural de acirramento das disputas políticas, seja no território da economia ou em outras frentes. A democracia está funcionando e o arcabouço fiscal está implantado, não é mais uma promessa.

Se a política econômica mostrou algumas virtudes, agora enfrentam questionamentos e argumentos de setores muito influentes da economia que duvidam da evolução do ajuste fiscal e acenam com incertezas, fantasias ou não, quanto à nova gestão do AC.

Não basta mais culpar a direita truculenta e a famigerada má vontade do mercado por investidas contra o governo, mesmo se afetadas ou oportunistas. Se a maré está subindo, melhor não dormir na areia.

É preciso saber responder às novas condições da etapa em curso com sabedoria política, o que hoje significa entender que é preciso assumir compromissos sólidos rumo ao centro e abandonar os desvios do que seria possível governar sem concessões.

Se é esperar muito do PT, não é de Lula e Haddad, que têm, em tese, capacidade política suficiente para compreender que o governo não está em condições de ser intransigente com as exigências dos fiscalistas do mercado e de tentar aplicar rasteiras no Congresso com medidas provisórias retiradas da cartola sem debate com os setores envolvidos.

Ou o governo refaz sua relação com os agentes econômicos e reorganizar sua obtusa articulação política com o Legislativo ou será bombardeado, como ocorre, simultaneamente na economia e nos “costumes”. Não é uma boa ideia brigar com todo o mundo.

Na economia, é difícil ignorar a avaliação geral de que é preciso ir além da busca de receitas, registrando a necessidade de medidas de contenção de despesas e compromissos sem ambiguidades com o equilíbrio fiscal. O cenário internacional apenas torna esse movimento mais urgente.

O que se observa ainda é um presidente, um partido e, agora, um ministro da Fazenda vidas numa realidade paralela, aparentemente desconectados de questões terrestres. Não parece haver projeto político mais sofisticado, estratégico e plano estratégico.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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