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O que os brasileiros pensam sobre a desigualdade? – 13/06/2024 – Políticas e Justiça


A desigualdade de renda no Brasil é muito alta. Cerca de 50% de toda a renda do país se concentra entre os 5% mais ricos. Mas os brasileiros se importam com isso? Pesquisas de opinião feitas no país indicam sistematicamente que a maioria da população concorda com o diagnóstico de que o Brasil é desigual e prefere viver em um contexto mais igualitário. Estudos feitos no Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Desigualdade da UFRJ (NIED) desde meados dos anos 1990 também mostram que as lideranças do Brasil na política e no mercado concordam que a desigualdade no país é alta e gera consequências indesejadas – como a violência – até mesmo para quem vive em uma posição privilegiada.

Mas se a desigualdade é reconhecida e vista como um problema, por que é tão difícil combatê-la? Um caminho para responder a essa pergunta é indicar que o consenso sobre a redistribuição depende também de como a desigualdade é definida e de que ferramentas redistributivas são percebidas como eficientes ou justas.

As ciências sociais têm se debruçado sobre esses temas em todo o mundo e as pesquisas do NIED buscam inserir o Brasil nessa discussão, comparando o país com a Alemanha, Estados Unidos, África do Sul, Botsuana, Uruguai, entre outras nações. Buscamos respostas na maneira como as pessoas conversam quando são convidadas a refletir sobre porque a desigualdade existe e quais seriam as formas de reduzi-la.

Nesse ponto o consenso é menor. Por exemplo, muitas pessoas tendem a associar a renda ao mérito, justificando a riqueza como consequência do estudo, do trabalho ou do talento. Essas percepções ajudam a legitimar as desigualdades e rejeitar medidas de redistribuição que retirariam os ricos o que é percebido como fruto do seu trabalho e valor.

As pesquisas do NIED também mostram que a elite brasileira aposta alto no potencial de escolaridade para superar a desigualdade. As políticas educacionais de fato vêm evoluindo, para melhor, o quadro da desigualdade brasileira. Mas é importante observar que essa aposta na educação é conveniente para quem prefere o foco da tributação da renda (muito baixo no país apesar das constantes reclamações dos contribuintes mais abastados), além de projetar a solução da desigualdade para um horizonte temporal de muito longo prazo. Por outro lado, discursos sobre a corrupção e a ineficiência do Estado, recorrentes entre todos os grupos sociais, são invocados para questionar a eficiência das políticas públicas apontando para a sua falta de qualidade, ou que limitam o seu apoio como mecanismo redistributivo para combater a desigualdade.

É importante observar também que a desigualdade não é um problema que afeta apenas os pobres. Mesmo para os não-pobres, caso da maioria dos leitores deste jornal de prestígio, ela também gera malefícios que afetam a todos, como é o caso da violência urbana, ou da baixa especialização da força de trabalho. Em termos estratégicos, cabe perguntar quanto devemos abrir mão em termos distributivos se queremos alcançar níveis mais baixos de conflito social, níveis mais elevados de coesão social e mesmo de produtividade. As ciências sociais certamente podem ajudar o país e suas lideranças a fazer esse cálculo.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço”Políticas e Justiça“da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhido por Flavio Carvalhaes, Matias López , Graziella Moraes Silva e Elisa Reis foi “A novidade”, dos Paralamas do Sucesso.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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