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Os aplicativos transformam os encontros – 14/06/2024 – Deborah Bizarria


Hoje, quase tudo pode ser encontrado e adquirido com alguns toques no smartphone e mesmo os relacionamentos não são exceção. É comum ouvir histórias de amigos em busca tanto de algo casual quanto de um relacionamento sério através da internet. Aplicativos como Inflamável e Bumble mudou consideravelmente a maneira como nos conectamos, gerando algumas facilidades e ao mesmo tempo seus próximos desafios. Afinal, quem nunca ouviu alguma história de encontro péssimo através de apps?

Conhecer alguém online se tornou a maneira mais comum de casais heterossexuais se conhecerem, chegando a superar a mediação de amigos já em 2013 nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa de Michael Rosenfeld e outros autores. Família, colegas de trabalho e comunidades religiosas também têm espaço perdido como forma de criar casais. Essa mudança é impulsionada pela lógica de conveniência e amplo acesso oferecido pelos aplicativos de relacionamento.

A possibilidade de conhecer pessoas fora do círculo social imediatamente expande significativamente as opções, permitindo que indivíduos encontrem parceiros com valores e preferências que de outra forma não conheceriam. Contudo, essa conveniência traz novos desafios e insatisfações às dinâmicas de encontros.

Para quem está fora desse circuito, vale explicar que os aplicativos de relacionamento funcionam de maneira semelhante aos aplicativos de compras online: filtram-se os perfis com base em características externas e fotos, sem contato real com uma pessoa. Em geral, é possível selecionar pessoas pela idade, altura, onde mora, se fumou, se tem ou quer ter filhos e, claro, pela filiação ideológica ou partidária. Caso o perfil seja aplicado na tela, é possível curtir; se não, rejeitar. Se ambos os perfis gostarem, surge o “match” e as pessoas podem interagir e marcar um encontro.

O uso desses filtros antes mesmo de conhecer uma pessoa traz uma dificuldade, pois o primeiro resultado através de uma tela não traz revelações determinantes sobre as pessoas. Na vida real, é comum que as mesmas pessoas que não completam o nosso check-list nos encantem a partir da conversa, do bom humor ou gestos, nuances que se perdem no mundo online.

Em particular, as mulheres são significativamente mais seletivas do que os homens nessas aplicações, rejeitando a maioria dos perfis que veem. Em uma experiência conduzida por Olga Roshchupkina e outros autores, os resultados mostraram que, em média, as mulheres curtem 30% dos perfis e 20% das respondentes, rejeitando mais de 80% dos perfis, gerando uma competição intensa entre os homens.

Segundo o estudo, embora apenas 1 perfil em 100 tenha sido “curtido” por mais de 80% dos participantes, 38 perfis foram “discutidos” pelos mesmos 80%. Parece haver uma alta desigualdade no mundo dos aplicativos de relacionamento: Poucos homens concentram o engajamento de interesses enquanto muitos não recebem atenção. Em outras palavras: Se o Inflamável fosse um país e as curtidas fossem a sua moeda, seria um país bem mais desigual do que o Brasil.

Embora não tenham sido encontradas regras universais para atração, há padrões de exclusão. Perfis sem fotos claras do rosto são frequentemente rejeitadas, pois a ausência de uma imagem clara gera desconfiança. Igualmente, homens com fotos são editadas ou com expressões estranhas enfrentam altas taxas de audiência. Ainda assim, aqueles que são significativamente mais velhos ou mais jovens fazem com que os parceiros em potencial recebam classificações mais baixas de atratividade.

Homens e mulheres enfrentam desafios diferentes: há homens que frequentemente se sentem desvalorizados e inseguros devido à alta taxa de exclusão, enquanto as mulheres lidam com abordagens indelicadas ou invasivas e a dificuldade de encontrar parceiros genuínos. A ênfase na atratividade física e outros critérios superficiais pode exacerbar problemas de autoestima e perpetuar padrões irreais.

O uso de aplicativos para conhecer novas pessoas é um caminho sem volta. Para lidar com os possíveis problemas dessa ferramenta, é essencial lembrar que nosso valor como indivíduos, parceiros ou amigos não pode ser medido por um perfil online. Os aplicativos devem servir para agregar e não determinar quem somos.

Explorar hobbies, praticar esportes coletivos e participar de atividades cívicas continuam sendo formas de conexão mais satisfatórias, apesar de exigirem mais esforço. Afinal, qualquer relacionamento real exige dedicação e nenhuma ferramenta tecnológica pode substituir isso. Reconhecer isso é fundamental para equilibrar as facilidades dos aplicativos com a profundidade das relações humanas.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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