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Depois da imprensa marrom, a imprensa rosa – 16/06/2024 – Ronaldo Lemos


Ó saudoso jornalista Alberto Dines é interessante lembrar que o termo “imprensa marrom” se popularizou no Brasil em 1959 por obra do Diário da Noite, jornal do Rio de Janeiro. Na época, Dines escreveu uma matéria sobre a revista “Escândalo”, que extorquia dinheiro de pessoas fotografadas em situações comprometedoras.

Dines queria usar o termo “imprensa amarela”, comum nos Estados Unidos. Mas o editor achou o amarelo inofensivo demais para a matéria, que tratava de um cineasta levado ao suicídio por causa da revista. No fim a manchete ficou como “Imprensa marrom leva cineasta ao suicídio” e o termo se consolidou no país.

Corte para 2024. Uma nova cor aparece para designar um novo tipo de imprensa sem qualquer compromisso com a ética. Dessa vez a cor é o “rosa”. Para ser preciso, o termo em inglês é “pink slime press” (impressão da gosma rosa). O termo se refere aquele tipo de carne ultraprocessada industrialmente vendida em lataque tem aparência rosada e valor nutritivo miserável.

Esse tipo de imprensa é um dos temas do livro “A Morte da Verdade”, que o jornalista e advogado americano Steven Brill lançou no dia 4 de junho. Brill define o aspecto como “publicações que se apresentam como se fossem veículos legítimos de imprensa, mas que seguem objetivos ocultos”. Eles são em geral financiados por entidades ou pessoas que desejam fazer avançar seus interesses, políticos ou econômicos. Para aumentar as chances de sucesso e disfarçar que tudo não passa de propaganda, assuma a aparência dos veículos de mídia independentes.

Brill alerta que em um momento em que há um declínio da imprensa em todo o mundo, o aspirador está sendo necessário pela imprensa “pink slime”. Para se ter uma ideia, de 2005 a 2021, mais de 2.000 jornais encerraram suas atividades nos EUA. Ao mesmo tempo, no final de 2023 havia cerca de 1.200 veículos de imprensa rosa em atividade no país.

Diga-se o que quiser da imprensa verdadeira, mas ela produz artigos contratados, com os autores visíveis, possui endereço físicoconselhos editoriais, ombudsman e preservamos a separação entre o que é propaganda e o que é jornalismo. Não por acaso é chamado de “o Quarto Estado”, por sua importância para a democracia. E não por acaso também, os veículos de imprensa “pink slime” querem justamente parecer com ela, copiar sua aparência, estilo e recepção, mas só na superfície.

Brill dá como exemplo o “Copper Courier”, do Arizona, ou o “Main Street Sentinel”, do Michigan. O nome faz parecer o de jornais de verdade. No entanto, ambas são operações de propaganda. Sua principal estratégia é publicar artigos que são então impulsionados agressivamente nas mídias sociais para ganhar alcance, com aparência de legitimidade. O Brasil não está imune à imprensa “pink slime”. Muito ao contrário. São muitos os exemplos desse tipo de publicação entre nós. Enxergá-los pelo que eles são é fundamental.

Já sobre a revista Escândalo, ela acabou encerrando as atividades depois que os materiais de Dines —publicados na imprensa— levaram a luz do sol para as suas práticas.


Já era – Imprensa marrom

Já é – Imprensa rosa

Já vem – Imprensa rosa turbinada por inteligência artificial


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FOLHA DE SÃO PAULO

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