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Economistas esperam manutenção da Selic em 10,50% no Copom – 16/06/2024 – Mercado


Os economistas do mercado financeiro esperam uma decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central na próxima quarta-feira (19) pela manutenção da taxa básica de juros -a Selic– não patamar atual de 10,50% ao ano.

Pesa nessa projeção o cenário de variações das expectativas de inflação, depreciação do real frente ao dólarpercepção de maior risco fiscal e incerteza externa, além da atividade econômica resiliente.

Na visão dos analistas ouvidos pela Folhauma nova racha entre os membros do colegiado provocaria mais ruído no mercado e colocaria a substituição do BC na mira.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, diz ver alguns elementos para uma nova divisão de votos, uma vez que o Copom não antecipou seu próximo movimento.

Ela observa que, em maio, a justificativa usada pelos membros dissidentes –os quatro diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)– foi o custo reputacional da quebra do “forward guide” (sinalização futura).

Mas considere que, apesar do placar dividido (5 a 4) que sacramentou a desaceleração do ritmo de corte de juros, os membros do comitê fizeram uma leitura inteligente da conjuntura econômica.

“Se a divergência era por conta de uma sinalização passada –não por conta da leitura da economia e de qual deve ser a característica da posição da política monetária–, uma vez que você tira esse elemento da conta, sobra simplesmente a conjuntura, que hoje gera uma leitura dinâmica dos membros em torno de um ponto comum”, diz.

A economista destaca a preocupação do Copom com a tensão das expectativas de inflação e o papel da comunicação na reversão desse quadro. Para Argenta, uma mensagem coesa ajudaria a colocar as projeções novamente no trilho em direção à meta.

“Se querem buscar ancoragem das expectativas, e se um dos fatores cruciais de desancoragem foi o questionamento sobre a independência e a responsabilidade do Banco Central com a busca da meta inflacionária, é necessário que os membros entreguem um comunicado coeso”, afirma.

A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Fábio Romão, economista da LCA Consultores, projeta que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2025 fique em 4%, expectativa acima da mediana coletada pelo boletim Focus (3,78%).

No projeto, considera preços administrados mais altos no próximo ano, puxados por reajustes nas tarifas de transporte público e energia elétrica. Pense também no risco de desvalorização do câmbiocom potenciais reflexos inflacionários nos bens industriais, e uma possível aceleração de serviços.

“A gente tinha 4% [para o IPCA 2025] já faz um tempo. [A expectativa de] 2024 piorou, o que prenuncia mais inércia para o ano que vem”, diz. “Entendemos que é bem provável que essa temporada de redução da Selic tenha sido encerrada.”

O aumento das expectativas inflacionárias de prazo médio –para 3,6% em 2026, segundo Focus–, é um dos fatores que levam Rodolfo Margato, economista da XP, a acreditar que o Copom vai adotar uma postura mais cautelosa nesta reunião.

Ele também menciona a forte depreciação cambial, com o dólar na casa de R$ 5,30 nos últimos dias diante de preocupações fiscais crescentes, e as dúvidas sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos.

“O Copom deve fazer uma pausa para reavaliação, para acompanhar os próximos dados da economia e também o nível de incertezas aqui e lá fora”, diz. Na visão dele, o comitê vai privilegiar uma decisão consensual e seguir dependente dos dados.

“Depois da divisão na votação do último Copom, com o aumento das taxas de juros mais longos, houve até um aperto adicional das condições monetárias e não uma flexibilização”, afirma. “Uma nova divisão seria mais um ingrediente a pesar sobre os investimentos financeiros, mais um fator negativo.”

Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o Copom perdeu grau de liberdade de atuação mesmo com a retirada da sinalização futura, ao colocar “muita ênfase na questão da desancoragem” e será mais duro.

O economista diz não ter dúvidas de que a manutenção dos juros, se confirmada, vai gerar uma forte ocorrência do governo Lula, sobretudo após a participação do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Como mostre o Painel SA., Campos Neto sinalizou aceitar ser ministro da Fazenda caso Tarcísio entre na disputa pelo Palácio do Planalto.

Mesmo nesse contexto, Leal tem expectativa de que Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e favorito na disputa para ser o próximo chefe do BC, vote em linha com o restante do colegiado para manter a Selic inalterada, a contragosto do governo Lula.

Cita o recente alinhamento do discurso dos principais porta-vozes da autoridade monetária. “Pareceram muito coordenados. Você ouvia Roberto Campos [Neto]Galípolo e Paulo Picchetti [diretor de Assuntos Internacionais] e havia muita semelhança no discurso. Não acho que seja coincidência”, diz.

Quanto aos passos futuros, o economista vê o BC dependente do humor do mercado, condicionado ao início do ciclo de flexibilização de juros nos EUA – o que poderia abrir espaço para nova queda da Selic no cenário doméstico.

Rafael Cardoso, economista-chefe do departamento de Pesquisa Econômica do banco Daycoval, também aposta em uma pausa no ciclo de queda de juros, mas não descartou a possibilidade de novos cortes na reta final do ano.

“A partir do momento em que você tiver uma flexibilização da política monetária lá fora, vai ter mais algum espaço para cortar a taxa de juros aqui dentro. Isso só é verdade em um cenário em que os riscos fiscais locais são controlados e o BC tem sucesso em deixar as expectativas mais comportadas”, diz. “Acho que é uma pausa relativamente longa”, complementa.

Para o encontro desta semana, apesar da piora no cenário econômico, Cardoso acredita que o Copom vai manter o balanço de riscos para inflação simétrico, ou seja, com riscos equilibrados em ambos os aspectos estruturais.

“Se o BC eventualmente colocar a assimetria [explícita] no comunicado, pode dar ideia de que o próximo movimento é de alta da taxa de juros. Não que a gente desconsidere 100% a probabilidade desse movimento ocorrer, mas me parece ainda cedo”, afirma.



FOLHA DE SÃO PAULO

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