domingo, outubro 6, 2024
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Oposição busca aprovar PL Antiaborto antes do recesso



Por causa de um grande número de manifestações de protesto e a polêmica na sociedade gerada após a aprovação da urgência do projeto de lei que equipara o aborto após 22 semanas de gestação ao homicídio (PL 1904/2024), chamado de PL Antiabortodeputados de oposição acham pouco provável que o assunto possa ser votado nesta semana.

Uma ala mais otimista tenta articular com as lideranças do Congresso uma nova tentativa de colocar a matéria em votação a partir da próxima semana. Eles querem que o assunto vá ao plenário antes do recesso parlamentar, marcado para 18 de julho.

O projeto de lei, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), criminaliza o aborto após 22 semanas de gestação. A nova legislação também tornaria ilegal a assistência fetal — técnica que utiliza medicamentos para interromper os efeitos cardíacos do feto antes de sua retirada do útero.

A proposta teve sua urgência aprovada na última quarta-feira (12), podendo ser votada no Plenário da Câmara dos Deputados a qualquer momento. No entanto, a pressão feita pelos críticos do projeto fez com que a votação do texto fosse deixada para outro momento.

Fontes de oposição ouvidas em reserva pela Gazeta do Povo admitir que a repercussão impactou uma possível avaliação do projeto nesta semana, mas afirma que a estratégia de oposição é tentar votar o texto depois que os parlamentares voltarem a Brasília de festividades juninas que ocorrerão no próximo fim de semana. A expectativa é que a Frente Parlamentar Evangélica (FPE) intensifique a pressão sobre a Mesa Diretora da Câmara para que a proposta seja votada.

Mas parte da oposição na Câmara acha que essa perspectiva é muito otimista e a discussão do PL Antiaborto pode ficar para o fim do ano, já que a campanha municipal começa em agosto e os parlamentares mais ligados ao centro não querem entrar em temas delicados antes do pleito .

Votação do PL Antiaborto é resposta ao Judiciário

A tramitação do PL 1904/2024 é vista pelos congressistas como uma resposta do Legislativo ao Judiciário, que possui um julgamento em curso que pode descriminalizar o aborto.

Apesar de as diretrizes de costumes não serem prioridade dos deputados do Centrão, a avaliação por parte da oposição é que o projeto relacionado ao aborto dá uma oportunidade para que os parlamentares marquem posição contra as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, a eventual votação do projeto é uma confirmação dos parlamentares pró-vida a uma liminar concedida pelo ministro Alexandre de Moraes ao PSOL, que pediu a suspensão da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que impedia o uso da assistência fetal.

O CFM proibiu o procedimento por ser doloroso e desgastante, já que bebês com mais de cinco meses podem sobreviver fora do útero e seria possível fazer o parto prematuro. Além disso, com a assistência, a mulher não deixa de passar por uma espécie de parto do feto morto.

Oposição de aproveitamento desgaste do governo Lula para aprovar pautas de costumes

A aprovação da tramitação em urgência do PL Antiaborto, na semana passada, segue na esteira de vitórias obtidas pela oposição contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na última sessão do Congresso Nacional, em 28 de maio, parlamentares de direita conseguiram derrubar os vetos presidenciais à ordenação do uso de verbos do Orçamento para um número de ações, incluindo aborto e cirurgia de transição de gênero.

Além disso, a queda da popularidade de Lula nas pesquisas recentes também é vista como fator que estimula a oposição a seguir as instruções do Congresso e do governo pela aprovação das diretrizes de costume.

De acordo com pesquisa publicada pela AtlasIntel no sábado (15), 51% dos brasileiros aprovam o desempenho de Lula. Outros 47% reprovaram e 2% não souberam opinar. Em comparação com a pesquisa divulgada em maio, a reprovação do chefe do Executivo subiu 2 pontos percentuais (veja a metodologia abaixo).

Para o cientista político Adriano Cerqueira, docente do Ibmec, a polêmica em torno do PL Antiaborto auxilia a oposição a intensificar o debate contra o governo e projetar sua imagem para o público religioso, que é majoritariamente contra o aborto.

“Lula está em um momento de baixa popularidade, acumulando derrotas no Congresso. Com isso, a oposição viu a oportunidade de avançar em sua agenda, que não é a mesma do governo. Na questão dos trajes, a oposição tem chances de crescer. O aborto é um tema que move muito a opinião pública e unificada, inclusiva, católica e evangélica”, disse Cerqueira.

Ele descobriu que o governo também visa se beneficiar dessa discussão para movimentar a base ligada às questões de costumes. No entanto, o movimento se torna mais arriscado por colocar Lula em contraposição com segmentos religiosos.

“No caso do governo, ele encontra uma chance de tentar mobilizar um pouco a base petista e parte da imprensa em torno dessa questão. Entretanto, é um tema que tende a desgastar a popularidade de Lula. Vale lembrar que o presidente, na campanha de 2022, se declarou contra o aborto e fez isso sabendo que precisava chegar à maioria do eleitorado, que é bastante sensível nessa questão”, disse o cientista político.

Metodologia da pesquisa citada: O levantamento da AtlasIntel reuniu 3.601 brasileiros, de 7 a 11 de junho. Tem margem de erro de um ponto percentual para mais ou para menos e nível de confiança de 95%.



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