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Com ruídos de Lula, Bolsa ficou muito barata para gringos – 23/06/2024 – Marcos de Vasconcellos


Se você acha que a Bolsa caiu muito neste ano —afinal, já são mais de 9% de queda desde que olhamos para 2024—, imagine um investidor estrangeiro, que faz a conta em dólar e repara que, na moeda dele, o Ibovespa despencou 17%.

Pois esse é um dos cálculos que precisamos fazer para analisar nosso mercado. Se jogando em casa (contando em reais) somos derrotados, disputando fora (em dólares), assim como outro 7×1.

O que tira valor da nossa Bolsa é fuga dos dólares. É o mesmo, aliás, que fez o real ser a moeda que mais perdeu valor no mundo em 2024 —um triste recorde às vésperas de seu aniversário de 30 anosa se completarem no próximo mês.

Em meio ao êxodo da moeda estrangeira, o presidente Lula decidi voltar à tática de encontrar um inimigo para culpar e retomou suas investidas contra o presidente do Banco CentralCampos Neto, e contra “o mercado”.

“Eu não vejo o mercado falar dos moradores de rua, eu não vejo o mercado falar dos catadores de papel, eu não vejo o mercado falar do desempregado, eu não vejo o mercado falar das pessoas que reuniões do Estado”, disse o líder petista , em entrevista à rádio Cearense Verdinha, na última semana.

E nem verá. O mercado, como eu já explorei aqui outras vezes, não fala nada. Não se pode confundi-lo com as opiniões de traders ou gestores, mais efeitos em redes sociais, palestras ou entrevistas. O mercado, em si, compra e vende, alterando os preços conforme o risco percebido.

Com juros altos nos Estados Unidos —considerada a economia mais segura do mundo—, é natural que os grandes fundos coloquem mais dinheiro lá. E para compensar o risco de quem topa tirar a grana do Tio Sam, países emergentes como o nosso acenam com taxas de juros mais altos.

Não pretendo aqui discutir se a taxa de juros básica correta para o Brasil neste momento é de 10,5% ao ano, 10,25% ou 3%. E a briga contra os juros não parece ser um problema real para o presidente Lula, mas um diversionismo político para se isentar da culpa sobre a economia em período de eleições municipais.

Digo isso porque o presidente reclama da Selic atual como se estivesse em um patamar impensável, mas nos seus dois mandatos anteriores, de 2003 a 2010, a média da taxa foi de 15,5% ao ano. Nos 8 anos de Lula 1 e Lula 2, um Selic ficou abaixo de 10% por apenas 1 ano, mas acima de 15% por três, chegando ao pico de 26,5%. Nessa época, aliás, sem a atual autonomia, Lula poderia trocar o presidente do Banco Central quando bem entendesse.

Para melhorar a comparação, ressalto que os juros americanos variaram entre 1% e 5,25% ao ano, no mesmo período. Hoje em 5,5%.

A dificuldade de reter os dólares aqui é grande. Neste ano, não houve um mês sequer em que os estrangeiros tenham colocado mais dinheiro na nossa Bolsa do que sacado, conforme levantamento exclusivo feito pela consultoria Elos Ayta. No total, até dia 19 de junho, os gringos já tiraram mais de R$ 41 bilhões da nossa Bolsa.

É importante dizer que desde janeiro de 2023, quando Lula subiu à rampa do Planalto, os estrangeiros colocaram mais dinheiro na nossa Bolsa do que sacaram, deixando o placar no azul por cerca de R$ 14 bilhões. Mas todo o entusiasmo se deu no ano passado.

Se estivesse realmente preocupado em estancar essa sangria, Lula poderia se esforçar em mandar sinais de segurança fiscal, em vez de gerar ruídos com embates personalistas, se colocando como vítima de um sistema no qual ele é o Presidente da República.

Como, não Estados Unidosas taxas de juros continuam as mesmas, uma chance para nossa Bolsa reverter o movimento de quedas fica nas hipóteses dos grandes investidores globais notarem que as ações brasileiras estão a preço da banana —ainda mais na conta em dólares— e começarem a comprar .

Não seria a primeira vez que veríamos isso acontecer. Após as recentes quedas, o Ibovespa, em dólar, está nos mesmos níveis de outubro de 2023. Os preços eram tão apetitosos, então, que, no mês seguinte, tivemos a maior entrada líquida de recursos estrangeiros na Bolsa dos últimos dois anos.

Com números quentes à mesa e análise fria, podemos estar prestes a ver uma injeção de capital unicamente baseada em preços —o que não seria nada mal para a seca da Bolsa. Mas manter o dinheiro aqui exigirá mais esforço e menos verborragia em Brasília.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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