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A linha direta de Lula com o futuro presidente do BC – 24/06/2024 – Adriana Fernandes


Luiz Inácio Lula da Silva terá a chance de escolher, pela segunda vez, o presidente do Banco Central. As comparações com o passado são inevitáveis ​​agora que uma indicação se dará em meio a um tiroteio devastador, que tem produzido mais ruídos do que ganhos para o presidente da República.

Na primeira vez, Lula, eleito para o seu primeiro mandato na Presidência em 2002, escolheu no finalzinho da transição um então ex-banqueiro, na época recém-eleito deputado federal pelo PSDB.

Henrique Meirelles teve seu nome aprovado pelo Senado somente no final de dezembro, faltando Poucos dias para a posse de Lula em 1º de janeiro de 2003.

Na época, havia uma grande preocupação no governo eleito de uma economia não andando bem, depois que Fernando Henrique Cardoso assinou um acordo de US$ 30 bilhões com o FMI.

O certo com o fundo previu a liberação de US$ 24 bilhões a partir de 2003 e foi explícito que, para receber o socorro, o novo governo deveria preservar a política macroeconômica do governo FHC.

O trauma vivido pelo argentino Fernando da Rua, que renunciou à Presidência um ano antes, após 36 horas de violência social, designada por saques a supermercados e por manifestações de protesto a milhares, rondava o novo governo. O medo era de errar na economia.

Acordado com Lula, Meirelles assumiu o compromisso público com senadores de que o novo governo aprovaria lei dando autonomia ao BC.

A promessa feita aos senadores (nunca cumprida nos oito anos em que Meirelles foi presidente do BC) provocou forte evidência dos parlamentares do PT.

Os bastidores da transição e da escolha de Meirelles foram revelados 20 anos depois no livro “Eles não São Loucos!”, do jornalista João Borges —chefe da comunicação do BC na época da transição, quando Armínio Fraga era o presidente da instituição.

Nesta segunda indicação, as situações econômicas e políticas que cercam a escolha de Lula são diferentes. Lula escolherá o presidente do BC já com quase metade do seu mandato transcorrido e diante de uma conjunção de fatores que têm alimentado incertezas sobre a política fiscal e o futuro das contas públicas.

Em 2002, as contas públicas do setor público consolidadas eram superavitárias em 4% do PIB. No ano passado, primeiro de Lula 3, fechou com déficit de 2,29% do PIB –rombo de R$ 249,12 bilhões. Inflação e juros muito mais altos.

Lula mudou agora a estratégia política de polarização ao carimbar Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, como adversário e inimigo do país. Tem insistido na tese de que Meirelles tinha autonomia com ele e que não interferia na autoridade monetária.

A vantagem era que podia demiti-lo, como disse o próprio presidente em entrevista recente: “Meirelles era uma pessoa, era um cara que eu tinha o poder de tirar, como Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos”.

Nem tudo, porém, eram flores com Meirelles, como indicam as falas recentes de Lula. Quando o BC aumentou os juros em 2005, Lula cobrou duramente Meirelles com o medo da alta da Selic se constituir em ameaça real para os dois anos finais do seu mandato, interrompendo o crescimento de 2004. Outros tantos momentos de tensão aconteceram.

A diferença é que Lula tinha com Meirelles, e que não tem com Campos Neto: linha direta.

Mas o trabalho do próximo presidente do BC (Gabriel Galípolo segue como favorito) dependerá do alcance da resposta que a equipe do ministro Fernando Haddad (Fazenda) dará para afastar as incertezas.

Lula pode ajudar ou piorar o cenário. Para fortalecer o processo de transição, menos ruído e mais calmaria seriam bem-vindos.

Campos Neto deverá sair temporariamente de cena nos próximos dias. Após viagem já marcada para esta quinta-feira (27), você deve tirar férias.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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