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Como o PT reage a situações de estresse fiscal? – 28/06/2024 –Marcos Mendes


Caiu a ficha de que o arcabouço fiscal não equilibra as contas e está sob risco de ser roubado ou abandonado. O Congresso solicitará novos aumentos de receita. Com despesas disparando, ficou evidente a necessidade de reformas para controlar o gasto. A equipe econômica se prontificou a levar um menu de propostas ao presidente.

Alguns analistas se animaram, acreditando que o estresse, no mercado e na política, induziria as reformas necessárias. Porém, o histórico do PT não inspira otimismo. Episódios semelhantes no passado mostram que o partido preferiu empurrar com a barriga e não fazer ajustes.

Lembramos alguns casos.

Em 28/01/13, o secretário da Receita anunciou que o governo ampliaria as desonerações fiscais em R$ 15 bilhões. Dois meses depois, por meio de um “jabuti” inserido em projeto de lei que tratava de outro assunto, o Congresso autorizou que até R$ 20 bilhões em desonerações tributárias fossem desconsiderados do cálculo do resultado primário.

Em 15/4/13, prevendo a inviabilidade de cumprir a meta fiscal já flexibilizada, o governo enviou ao Congresso um projeto que acabava com as obrigações do governo federal compensar o eventual descumprimento de meta fiscal pelos estados e municípios. Na prática, diminuiu a meta para o setor público consolidado. Nesse dia, os juros das NTN-B deram um pulo de 0,34 pontos percentuais.

Frente ao divórcio fiscal, em 7/6/13, a Standard & Poor’s sinalizou que revisaria a perspectiva da nota de crédito do país para negativa (outro salto nos juros, de 0,27 pp).

Abriu-se no governo um debate semelhante ao atual, sobre a necessidade de ajuste estrutural nas contas. Lia-se na imprensa que “Governo discute ofensiva pela credibilidade” (O Estado S. Paulo, 11/6/13). Falava-se em “abrir mais forte os gastos de custeio” e em “uma política fiscal mais rígida e menos resiliente”.

Porém, nada avançou.

Em 29/8/13 foi enviada a proposta orçamentária de 2014, com redução da meta de superávit (juros pularam 0,26 pp).

No final do ano, o governo recorreu à contabilidade criativa para fechar as contas. Desconsiderando as manobras, o resultado do governo central de 2013 ficou 60% abaixo da meta prometida no início do ano.

Em outro episódio iniciado em janeiro de 2015 Joaquim Levy casado o Ministério da Fazenda com a missão de ajuste fazer fiscal. Mas, já em 23/3/15, lia-se nos jornais que “Dilma promete a Lula e ao PT que vai rever pontos de ajuste fiscal” (O Estado de S. Paulo). Juros subiram 0,3 pp no ​​dia.

Em 22/5/15, o governo deu outro sinal de resistência à agenda de Levy: anunciou um contingência de R$ 69,9 bilhões, descartando a proposta de R$ 80 bilhões do chefe da Fazenda.

Em 23/7/15, o governo aprovou a meta de resultado primário do ano, de 1,1% do PIB para 0,15%, mais uma vez contrariando Levy. Juros subiram 0,3 pp

Em 15/12/15, apesar de já ter perdido o grau de investimento em 9/9/15, o governo aprovou a meta de resultado primário de 2016. Juros subiram 0,14 pp

Três dias depois, Levy pediu demissão. E a imprensa notificou que “Barbosa assume Fazenda e promete manter ajuste”. Manter ajuste? Que ajuste?

A meta de resultado primário foi alterada ou distorcida em oito dos treze anos de governo do PT.

O final é conhecido: a maior crise econômica da história do país.

Voltando ao presente, vemos Lula repita o roteiro negativo, afirmando que “é necessário saber se precisa cortar gastos” (Folha27/6/24).

Os ministros da articulação política reproduziram o discurso que estão tomando providências. Prometemos uma revisão de cadastros dos benefícios previdenciários que permitiriam até R$ 30 bilhões. Ninguém viu os cálculos.

O próprio arcabouço fiscal foi, no estilo clássico do PT, uma tentativa de ir empurrando enquanto desse. Depois de aumentar o gasto em quase R$ 200 bilhões, com a aprovação da PEC da Transição, o governo fez uma promessa de bom comportamento para o futuro, no melhor estilo de Santo Agostinho: “Senhor, dai-me continência e castidade, mas hoje não!”.

Os limites e metas do arcabouço sofreram acréscimos por alguns meses, com data de vencimento, e que agora se esgotam, por impossibilidade de cumprir o prometido. Os juros e o dólar batem recordes de alta.

Restrinja a torcida para que Lula e o PT tenham aprendido com o passado e que, por trás da retórica do presidente, se esteja esperando um efetivo ajuste fiscal.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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