sábado, outubro 5, 2024
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O surto das esposas – 28/06/2024 – Ana Fontes


Os debates sobre feminismo, empoderamento, equidade de gênero e salarial e acesso às mesmas oportunidades no mercado de trabalho permeiam diversos grupos de mulheres. Não mais nos calamos diante das desigualdades e cada vez mais nos unimos para combater esse cenário.

Porém, coincidentemente ou não, surgem ondas que vão contra a maré, do que a sociedade vem discutindo nos últimos tempos, e as esposas é um claro exemplo disso. Enquanto lutamos todos os dias para trazer igualdade em todos os âmbitos para elas, no TikTok uma nova tendência tem se espalhado entre os usuários. Numa tradução livre, as tradwives são as mulheres tradicionais, ou seja, elas vivem em função de/para seus companheiros, cozinhando, lavando, passando e gerando filhos para eles.

As mulheres presentes na tendência mostram o seu dia a dia sendo uma dona do lar. Muitos se orgulham e dizem que estão mais felizes com a nova vida do que quando eram independentes, voltados para fora e tinham as próprias carreiras profissionais. Depois de tantos anos de luta e ainda batalhando para mudar a sociedade machista, parece um retrocesso ver mulheres se adaptando novamente nesse papel, sendo submissas e totalmente dependentes — inclusive financeiramente— de seus parceiros.

Como se o cenário em si já não fosse ruim o suficiente, elas estão erradas em achar que são troféus de mulheresjá que o trabalho doméstico ainda é um trabalho e do tipo não remunerado. O que quer dizer que, na prática, elas ainda continuam trabalhando, mas exercendo uma demanda invisível e não obtendo nada em troca dessas horas trabalhadas.

Não posso dizer que entendo, já que prego o oposto e tento passar a importância da independência financeira para as mulheres que me acompanham, seja por meio dos programas da Rede Mulher Empreendedora/IRME, seja por meio das palestras em que sou convidada para falar sobre autonomia econômica das mulheres.

Acredito que essa tendência tem um potencial perigoso porque além de manter essas mulheres num papel submisso, sabemos que a dependência financeira em um companheiro não é nada saudável para as parceiras, principalmente porque esses homens podem usar isso para manter-las presas em relacionamentos tóxicos que , em alguns casos, agressões psicológicas e físicas.

Recordar o passado desperta uma noção gostosa de nostalgia, mas não posso dizer o mesmo sobre as tradwives. Infelizmente esse movimento só está glamourizando uma situação que definitivamente não deve ser glamourizada. Em vez de voltarmos a um passado que nos coloca e sempre nos colocamos nessa posição, espero que cada vez mais mulheres lutem para conquistar seus espaços e seus direitos na sociedade e abandonarem de vez esse papel de dona de casa submissa que só traz benefícios para os homens.

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FOLHA DE SÃO PAULO

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