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PTcedido Real dormindo após votar contra moeda – 28/06/2024 – Mercado


O Plano Real só atingiu a estabilização após a chegada à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, com o fim da dívida com o IMF (Fundo Monetário Internacional) e acumulação de reservas internacionais. A análise é do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante —uma das principais vozes econômicas dentro do PT.

Mas, há 30 anos, quando o Plano Real foi lançadonada indicava que o PT veria a si mesmo como responsável por consolidar a moeda gestada pelos rivais do PSDB.

O partido, inclusive o então deputado federal Mercadante, votou contra a criação da nova moeda para, em seguida, ver o sucesso do Real em controlar a inflação acabar com as chances de Lula nas eleições presidenciais de 1994.

“Parte da exclusão ao plano se desviou à conjuntura política eleitoral da época, com o PT na oposição, mas outro era o histórico do Brasil de planos econômicos na véspera da eleição para garantir a vitória nas urnas”, aponta o sociólogo Celso Rocha de Barros , autor do livro “PT, uma História” e colunista da Folha.

“Na época teve um grande debate dentro do PT. A Maria da Conceição Tavares [economista petista] Atitude que ia dar errado ainda antes da eleição e o PT comprou essa história”, lembrou Barros.

“Em muitas avaliações, o posicionamento do partido em relação ao Plano Real surge como um dos fatores fundamentais para a reversão do quadro eleitoral”, avaliaram Adhemar S. Mineiro, Eduardo Callado, Nélson Lecocq e Paulo Passarinho (do núcleo de economistas do PT) no artigo “Podem ficar algumas lições?”, publicado em 1994 na revista Teoria e Debate, mantida pela fundação do partido.

“E nem poderia deixar de sê-lo: a obra da queda de Lula nas pesquisas, a partir da entrada em vigor da nova moeda, bem como as dúvidas de nosso posicionamento em relação ao plano, deixam claro que o Real foi decisivo para a nossa derrota”, afirma o texto.

Mesmo com as reflexões, em 1998 Lula ainda tentou pregar contra o plano e chegou a comparar o Real a uma “fantasia” ao citar o nível do desemprego e o cenário econômico do momento. “Não há o que comemorar. O Brasil está à beira do caos com essa política econômica”, declarou Lula na épocaem meio às comemorações de quatro anos da moeda.

A compreensão deram errado e o plano controlou a inflação de maneira sustentada, o que passou a ser reconhecido pelo partido.

Com o tempo, lembra Barros, “o PT foi aceitando tacitamente [o sucesso do Plano Real]. Nunca falei que estava errado, e foi mudando de assunto. O Plano Real diz da discussão”.

Um dos pilares do Plano Real foi a paridade do real com o dólar, a chamada âncora cambial —que acabou em janeiro de 1999, primeiro mês do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Mercadante, em artigo sobre o tema, critica as medidas ligadas ao Real tomadas pelo governo da época. Ele afirma que, pela tentativa de reeleição, a âncora cambial foi prorrogada, causando prejuízo ao câmbio, interrupções nas contas externas e “crise cambial, econômica e social”.

Com isso, diz o economista, “o governo FHC expôs o país a um ataque especulativo decorrente do desequilíbrio das contas externas, recorreu ao FMI e se submeteu ao chamado ‘Consenso de Washington’, que preconizava a abertura comercial unilateral, a desregulamentação financeira, [e] ajuste fiscal baseado em privatizações e Estado mínimo”.

Mercadante afirma que, mesmo assim, o governo da ocasião não conseguiu evitar uma nova crise cambial e novo pedido de ajuda ao Fundo, em 2002. Para ele, isso selou o destino dos governos do PSDB, “que não venceram mais eleições presidenciais e ainda amargaram uma crise partidária, agravada pelo apoio ao golpe de 2016 e pela adesão de lideranças ao bolsonarismo”.

Nas eleições de 2002, Lula venceu seu primeiro pleito presidencial, herdando uma economia já sobre as bases da nova moeda. Na visão do Mercadante, no entanto, só na gestão petista que o real foi estabilizado.

“A estabilização do Plano Real só se completou no governo Lula, quando o país desistiu da dívida com o FMI e começou a acumular reservas internacionaisque persistem até hoje e nos dão autonomia de política econômica”, pondera.

O presidente do BNDES aponta que na questão fiscal, o trabalho está incompleto já que o país ainda busca consolidar uma regra fiscal “que combine responsabilidade fiscal e social, permitindo o crescimento real sustentável das despesas primárias”.

“Passados ​​30 anos, a história mostra que o Plano Real foi bem-sucedido ao reduzir a inflação, mas não em garantir a estabilidade macroeconômica e a retomada do crescimento”, avalia.



FOLHA DE SÃO PAULO

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