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resultados de carro chinês explica pedido de aumento de imposto – 28/06/2024 – Eduardo Sodré


Ao mesmo tempo em que trai seu próprio discurso de previsibilidade, a Anfavea (associação das montadoras) cumpra seu papel de representante setorial ao pedir a recomposição imediata do Imposto de Importação para carros híbridos e elétricos. A medida, descartada pelo governo Lula, representaria uma quebra de acordo preestabelecido.

Pela norma original, que prevê um escalonamento, a alíquota de 35% para os automóveis híbridos e elétricos elétricos só seria recomposta em julho de 2026. Nesta segunda (1º), passam a vigorar as seguintes taxas: 18% para carros 100% elétricos, 24% para os híbridos plug-in (também podem ser recarregados na tomada) e 25% para os demais híbridos.

A Anfavea pediu que 35% passem a vigorar agora, mas o cenário é totalmente desfavorável para pleitos desse tipo. O alvo óbvio são os fabricantes chineses – que, além de terem superado a resistência de grande parte do consumidor público com seus eletrificados, já fizeram anúncios de linhas de montagem no país.

O crescimento das vendas dos novos concorrentes tem assustado marcas com parques industriais de grande porte no Brasil. O temor é resultado de um erro estratégico: não houve essa preocupação quando o programa Mover (Mobilidade Verde e Sustentabilidade) ainda era embrionário. Agora, a onda que já ameaçava a Europa chegou ao mercado nacional.

As chinesas vão bem nasais e têm fábricas nacionais em etapas finais de adaptação (BYD e GWM) ou em fase de prospecção (Neta e Omoda/Jaecoo). Nesse cenário, os associados da Anfavea perdem participação de mercado nos segmentos de maior valor agregado. É lá que estão, por exemplo, os SUVs com preços próximos ou acima de R$ 200 mil.

Hoje, essas marcas asiáticas estão posicionadas em segmentos rentáveis ​​e oferecem tecnologias que caíram no gosto do consumidor de maior renda. E não são os 100% elétricos que preocupam, mas, sim, os modelos que conciliam queima de combustível e eletricidade.

A produção nacional de montadoras como General MotorsStellantis e Volkswagen estão concentradas nos carros compactos. Os dados da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos) mostram que esses veículos são prioritariamente enviados por meio de venda direta – indo parar, na sua maioria, nos pátios de locadoras.

Nesses casos, os descontos podem ultrapassar os 30% sobre o valor da nota, sem considerar as diferenças tributárias. Grosso modo, é como se um carro fosse vendido por R$ 100 mil para uma pessoa física que saiu por R$ 70 mil para a PJ.

O veículo mais vendido do país, a picape Fiat Strada (a partir de R$ 103.990) teve 49.050 unidades emplacadas entre janeiro e maio, sendo que 62,4% delas foram adquiridas por meio de venda direta.

Segundo colocado no ranking, o hatch Volkswagen Polo teve 48.181 licenciamentos no mesmo período, e as vendas diretas responderam por 66,9% desse total. Mesmo que a conta inclua pequenas empresas e isenções legais previstas em lei (que contemplem pessoas com deficiência, por exemplo), são os grandes frotistas dos principais compradores.

Enquanto isso, as marcas chinesas mantêm o foco no varejo rentável. O plug-in híbrido BYD Song Plus (R$ 239,8 mil) teve 8.128 unidades vendidas entre janeiro e maio, e apenas 6,9% desse total foi comercializado para PJs.

As montadoras instaladas há mais tempo no Brasil fazem investimentos bilionários para lançar seus modelos híbridos flex, mas temem não recuperar a lucratividade e perder participação no mercado. Mesmo que esses modelos acessem tarifas mais baixas devido à eficiência energética e ao uso do etanol, o valor final de venda será determinante para o sucesso.

Baixar preços sem mexer nas tarifas é considerado pouco viável, dadas as critérios de segurança e emissões previstas na lei e nas expectativas dos consumidores. Se não parece possível oferecer mais por menos, o caminho escolhido pela Anfavea é tentar forçar o aumento de valor dos importados chineses, que acessam incentivos no país de origem.

Mas há os efeitos colaterais, que envolvem os híbridos e elétricos importados pelas próprias associações. No fim, a imagem da entidade diante do consumidor público e do governo deve sair prejudicada dessa disputa.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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