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Só 1% a mais de retorno na renda fixa faz diferença? – 27/06/2024 – De Grão em Grão


Essa semana estive conversando com um consultor de investimentos sobre aplicações de renda fixa e ouvi algo que me chocou. Ele disse: “Ahh, 1% a mais não faz diferença alguma. A liquidez é mais importante”. Essa afirmação é comum e levanta a discussão se a maioria dos indivíduos entende o poder dos juros compostos ao longo do tempo.

No curto prazo, realmente pode parecer que ganhar 1% a mais em um investimento de renda fixa não faz grande diferença. Afinal, quando se fala em investir para um período curto, como seis meses ou um ano, a prioridade geralmente é a monetária. Você precisa ter acesso rápido ao dinheiro para emergências ou oportunidades de curto prazo. No entanto, ao pensar no longo prazo, essa diferença de 1% pode ser substancial.

Muitos investidores se iludem com a ideia de que podem vender um título à frente e ficar operando renda fixa, como se fosse um ativo de renda variável. A realidade é que a renda fixa, por natureza, é descrita para oferecer previsibilidade e segurança, não para ser negociada com frequência. Esse comportamento pode, inclusive, resultar em perdas, especialmente em um cenário de alta volatilidade ou quando se vende um título antes do vencimento em um momento desfavorável.

Para compreender a importância de 1% a mais no longo prazo, é crucial entender o poder dos juros compostos. Quando os investimentos são mantidos por um período prolongado, os juros compostos começam a trabalhar a favor do investidor, gerando rendimentos sobre rendimentos.

Por exemplo, considere um investimento inicial de R$ 100.000 com uma taxa real, ou seja, acima do IPCA de 6% ao ano versus 7% ao ano. Após 30 anos, o investimento de 6% crescerá para aproximadamente R$ 574 mil, enquanto o investimento de 7% chegará a cerca de R$ 761 mil. Essa diferença de mais de R$ 186 mil ilustra o impacto significativo de apenas 1% a mais.

Vamos continuar o exemplo e verificar o resultado na renda da aposentadoria depois de acumulado estes patrimônios acima e se o investidor continuar tendo o mesmo rendimento. No caso dos juros de 6% ao ano real, o investidor teria uma renda de R$ 3,5 mil aos valores de hoje, ou seja, corrigidos pelo IPCA, na aposentadoria e por 30 anos. No caso da taxa de juros de 7% ao ano, o mesmo investidor teria uma renda de R$ 5,1 mil mensais aos valores de hoje pelo mesmo período. Portanto, esse 1% a mais proporcionaria uma renda 46% superior na aposentadoria. Será que essa é uma pequena diferença?

Existem várias maneiras de obter um rendimento adicional de 1% em investimentos de renda fixa. Uma das formas é investir em CDBs de bancos médios, que oferecem taxas mais atrativas devido ao maior risco percebido em comparação com os grandes bancos. Desde que essas instituições participam do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o risco é mitigado, proporcionando uma excelente relação risco-retorno.

Outra estratégia é aplicar em crédito privado de empresas com classificação AAA. Esses papéis geralmente oferecem uma remuneração superior devido ao risco de crédito associado, mas, ao investir de forma pulverizada, o investidor pode diluir esse risco e ainda assim garantir um rendimento adicional.

Além disso, o registro de Imposto de Renda em alguns títulos, como CRIs, CRAs e Debêntures de Infraestrutura, pode contribuir com um rendimento líquido superior aos títulos tributáveis. Esse benefício fiscal pode ser suficiente para adicionar mais de 1% ao rendimento final do investimento. Por exemplo, uma debênture isenta de IR da Petrobras com rendimento de IPCA+6% ao ano equivale a um rendimento bruto de IR de mais de IPCA+7,5% ao ano. Parece provocar um ganho superior a 1% em um título de uma empresa como a Petrobras em relação a um título público de prazo equivalente.

No fim das contas, a escolha entre liquidez e rendimento adicional de 1% depende dos objetivos financeiros e do horizonte de investimento de cada investidor. Para aqueles que estão focados no longo prazo, essa pequena diferença pode resultar em um patrimônio consideravelmente maior, garantindo uma maior segurança financeira e a possibilidade de alcançar metas mais ambiciosas.

Portanto, antes de descartar um investimento por causa de uma diferença de 1%, é essencial avaliar o impacto no longo prazo e considerar estratégias que maximizem o retorno de forma segura e eficiente. A paciência e a estratégia correta podem transformar essa aparente pequena diferença em uma grande vantagem financeira.

Michael Viriato é avaliador de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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FOLHA DE SÃO PAULO

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