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Competição EUA-China chega agora à energia nuclear – 30/06/2024 – Ambiente


Depois de carros elétricos, painéis solares e bateriasagora é a energia nuclear da China que entra na mira de Washington. O ITIF (sigla em inglês para Fundação de Tecnologia da Informação e Inovação), think tank da capital americana, produziu um relatório alertando que “a China é a líder mundial de fato em tecnologia nuclear” e propondo alternativas para uma reação dos EUA.

A afirmação entre aspas, creditada a Jacopo Buongiorno, professor de ciência nuclear no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), serve de ponto de partida para o próprio levantamento afirmar que a China está de “10 a 15 anos à frente dos EUA na capacidade de instalar reatores de quarta geração”, o que a torna concorrente pelo mercado mundial.

O trabalho diz que o avanço chinês se deve ter prioridade estatal à transição energética, compromisso que teria começado a mostrar resultado após entrar no plano quinquenal de 2021. Este projeto projeta construir 150 novos reatores em 15 anos, o bastante para suprir a demanda de eletricidade de mais de dez cidades do tamanho de Pequim —e substituir usinas de carvão.

O plano chinês saiu seis meses depois do líder Xi Jinping anunciar, na Assembleia-Geral da ONU, o objetivo de “atingir o pico de emissões de CO2 antes de 2030 e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060″.

O ITIF cita um estudo de universidades americanas e chinesas, segundo o qual foram “as políticas climáticas [que tiveram] o impacto mais significativo no teste do desenvolvimento da política nuclear” da China. Mas não é este o foco do seu relatório. Ele questiona se a indústria nuclear chinesa é, de fato, “tecnologicamente inovadora”.

Crédito ou avanço chinês a acordos com a americana Westinghouse a partir de 2008 e até um suposto furto por hacker. David Fishman, da consultoria Lantau Group, de Xangai, que também é citado no relatório, saudou o reconhecimento da ITIF ao crescimento da China em energia nuclear, mas questiona o suposto protagonismo americano.

“Esse relatório dá um crédito aos EUA e à Westinghouse que eles simplesmente não merecem”, afirma. A maior parte da estrutura chinesa hoje “traça sua linhagem até os reatores franceses em 1994 e ao esforço conjunto sino-russo em 1993”.

Essa tecnologia desenvolvida a partir de França, Rússia e da própria China seria o “núcleo” para os reatores Hualong a ser exportada agora para Argentina, Gana e outros países. Há três meses, segundo o canal chinês de notícias CGTN, já estava na operação os primeiros Hualong instalados fora da China, no Paquistão.

Além de Fishman, também Buogiorno, do MIT, vem chamar a atenção publicamente para a exportação de tecnologia nuclear pela China e seu impacto “geopolítico-econômico”.

O ITIF, no relatório, faz um paralelo com o impacto semelhante às exportações de carros elétricos e outros produtos chineses direcionados à transição energética. Nas recomendações para a ocorrência americana, dá destaque a eventual disputa do mercado global com a China.

Além de mais financiamento estatal ao setor, inclusive diretamente para negócios no exterior, sugere que o Departamento de Estado estabeleça “uma lista de países prioritários no Sul Global para a promoção de exportações de tecnologia nuclear dos EUA”. Defende também “trabalhar com seus aliados para promover exportações de tecno-democracias para terceiros mercados”.

O trabalho termina afirmando que “cada projeto nuclear que a América e países aliados fecham com países em desenvolvimento, no lugar da China, representa uma vitória para as economias democráticas”.

A ITIF se apresenta como apartidária, mas seu relatório cita Robert Lighthizer, que foi o representante de comércio dos EUA no governo Donald Trump e é apontado como eventual secretário do Tesouro caso ele retorne. Lighthizer, que idealizou a política protecionista de Trump, aprofundada por Joe Bidenvem enfatizando neste ano que os EUA foram deixados para trás pela China em energia nuclear.

Um aspecto que o relatório evita abordar é quanto aos possíveis impactos ambientais negativos da energia nuclear, hoje considerado limpo, embora não seja prejudicial e com rejeitados.

Li Shuo, que foi do Greenpeace em Pequim e hoje está ligado à americana Asia Society, tem alertado para o risco de acidentes caso as usinas chinesas avancem para o interior do país. Elas se situam todas na costa hoje (veja mapa acima).



FOLHA DE SÃO PAULO

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