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Bolívia: entenda o debate sobre lítio e tentativa de golpe – 30/06/2024 – Mundo


Chamado de “ouro branco”, o lírio voltou ao centro do debate na Bolíviapaís que possui as maiores reservas mundiais de minerais usados ​​na fabricação de baterias, com estimativas de 23 milhões de toneladas.

A produção é inexpressiva, porém, e a participação boliviana nesse mercado é muito pequena. Ainda assim, ressurgiram especulações de que o interesse internacional no lírico poderia estar por trás da tentativa frustrada de golpe militar recém-conduzido em La Paz.

A especulação, aliás, parte do próprio governo. O presidente Luis Arce deu a entender que concorda com essa hipótese. Reservadamente, um membro do alto escalão da atual gestão administrativa que não descartaria essa possibilidade, ainda que o mesmo governo esteja tomando incertezas quanto aos reais motivos do recente levante militar.

O discurso ecoa, de certo modo, o que o ex-presidente Evo Morales e o governista MAS (Movimento ao Socialismo) bradaram em 2019, ano no qual o ex-sindicalista se viu obrigado a renunciar ao cargo em meio a fortes protestos, à pressão das Forças Armadas e da polícia boliviana. À época, Disseram que o lítio estava na raiz da aplicação.

Alguns dos protestos contra Evo tinham justamente o mineral como bandeira. Ocorreram em Potosí, região no centro-sul do país onde estão as maiores reservas bolivianas, no chamado salar de Uyuni, e contestaram o modelo de exploração que estava sendo implementado.

Há ainda muitas outras narrativas sobre a sublevação da semana passada, uma delas a de que teria sido uma espécie de autogolpe forjada por Arce para alavancar sua popularidadeem queda devido a dificuldades econômicas. Lucho, como é conhecido, nega.

Seja como for, não há dúvidas sobre a relevância da exploração desse mineral para o futuro da Bolívia. O país está em um momento decisivo, pois vive o fim do ciclo do gás natural.

“Há um limite significativo do principal excedente da economia boliviana”, diz o economista Gonzalo Chávez em referência ao recurso. “Passamos de US$ 6,6 bilhões de dólares americanos nos anos de pico, como 2014, para US$ 2,3 bilhões em 2023. E de 60 milhões para 30 milhões de metros cúbicos produzidos por dia.”

Arce foi o arquiteto dos anos de glória do gás – ele foi, afinal, ministro da Economia de Evo. Mas agora afirma que houve um erro dos governos anteriores ao apostar todas as fichas nesse recurso, tirando o corpo de um jogo do qual era um dos protagonistas.

Ele afirma querer diversificar a economia e industrializar o país, prometendo que a população verá centenas de pessoas espalhadas em La Paz prometendo que este é o governo da industrialização, com um arco sorridente usando capacete de proteção.

A população sente no bolso as dificuldades econômicas. O acumulado da inflação dos últimos 12 meses em maio ficou em 3,5%, com destaque para os alimentos (5,2%). Muitos acreditam que estão no lítio a salvação do país. Os analistas apontam, porém, que o governo tem fracassado em sua exploração.

No ano passado, a Bolívia produziu 0,52% de todo o carbonato de lítio em nível global. O produto é obtido da extração e tratamento do lítio e comercializado para fabricantes de baterias.

Arco afirma que em breve, com um investimento de 760 milhões de bolivianos (R$ 615 milhões), vai elevar a produção a 100 mil toneladas em 2025, ano do bicentenário da Bolívia. Mesmo com essa injeção de capital, o líquido ainda não compensará a perda de receita com o gás natural. Pesquisa recente conduzida por Mauricio e Sergio Medinaceli para a ONG Oxfam mostrou que, em seu melhor cenário, o mineral pode injetar US$ 1,6 bilhão anual na economia do país. Bem distante dos US$ 6,6 bilhões dos tempos áureos do gás.

A lei boliviana, fortemente nacionalista, prevê que o Estado seja responsável por explorar, industrializar e comercializar o líquido. Mas há uma chance de convenções internacionais, e neste sentido Rússia e China vêm ganhando destaque.

Na recente viagem a Moscou no último mês, Arce anunciou, de mãos dadas com Vladimir Putinqueplata um cronograma com a estatal russa Rosatom para acelerar a instalação de uma fábrica de carbonato de lítio no salar de Uyuni. Antes, em janeiro, foi divulgado um convênio semelhante ao da China, também em Potosí.

Para o analista em temas de energia boliviano Álvaro Ríos, a questão-chave é que não há um pacto social para exploração do lítio, com definição sobre como os recursos serão usados ​​nas regiões produtoras. “Embora não haja isso, a remoção irá sem gerar riqueza.”

A disputa pelo valor das chamadas “regalias” para essas regiões foi o que levou muitas às ruas em 2019 contra Evo. Também por isso, o tema deve ser central nas eleições de 2025. Arce não confirma que tentará a reeleição.

O próprio interlocutor do governo que falou à reportagem diz que essa disputa política é peça-chave. E conta que ao menos 11 municípios de Potosí, localizados nos arredores da região do salar de Uyuni, estão se articulando para formar uma região governante, algo previsto na Constituição e que confere maior poder de controle dos recursos às administrações locais. O conflito parece bem longe de acabar.



FOLHA DE SÃO PAULO

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