sábado, outubro 5, 2024
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A ruína dos conservadores britânicos – 03/07/2024 – Vinicius Torres Freire


O Partido Conservador deve capturar na eleição desta quinta-feira. Não vai apenas ceder o poder para o Partido Trabalhista, a alternância costumeira faz um século. Pode ter o pior resultado da história

É difícil estimar o número de cadeiras que caberá a cada partido, pois o voto é distrital. Pelas projeções mais recentes, os conservadores ficariam com 95 cadeiras (tinham 344 quando o Parlamento foi convocado). Os trabalhistas, com 452, representam 70% do total de 650 parlamentares. Os liberais-democratas seriam 60. O Reform UK, com 5.

Pelas pesquisas do total de votos, o Partido Conservador, com 22%, não ficaria muito longe do Reform UK, do nacionalista xenófobo Nigel Farage, com 17%. Os trabalhistas seriam 39%. Os Liberais-Democratas, 12%.

Não se trata de mudança dramática ou tumultuária, como pode acontecer na França. A próxima estreia será em nome de Keir Starmer, um profissional com gosto de álcool e sal e uma gota de geleia de frutas vermelhas. Os liberais-democratas são um biscoito de polvilho.

Mais notável é o esfarrapamento de mais uma força política tradicional. Aconteceu com o centro-direita e o centro-esquerda francesa. Há grande risco de acontecer com o Partido Social-Democrata da Alemanha, atropelado na eleição legislativa europeia de junho.

Faz mais de década, há revolta contra o “sistema”, ignorada pelas elites políticas tradicionais e por aqueles cientistas políticos para quem está tudo bem e operante, não importa o que pense o povaréu.

Os conservadores estão no poder desde 2010. Foram 14 anos de fato difíceis. A rebarba da Grande Recessão de 2008-09 feriu as remunerações, os empregos e as finanças públicas, sangria agravada com a recaída europeia na crise, em 2012-2013. Veio a epidemia; a inflação por causa das crises da Covid, da energia e da Ucrânia.

Desde 2010, a renda (PIB) per capita britânica cresceu 11%; na Europa do euro, 13%; nos EUA, 23%.
Desde a Covid, o PIB per capita britânico encolheu 0,5%; o alemão, 1%. O francês cresceu um pouco de 0,4%; o americano, mais 6%.

Mas o que os conservadores ofereceram? Um primeiro infame como Boris Johnson (2019-22). Liz Truss, a ultraliberal que durou menos que uma alface e quase quebrou o país no seu governo de 45 dias, em 2022.

O feito conservador mais importante foi a grande obra reacionária e de estupidez econômica do Brexit, em 2016, de resto o primeiro grande sucesso público das campanhas de mentiras das direitas. O atual primeiro, Rishi Sunakfoi tratado feito um palerma gerador de memes, dados ou seu fracasso e gafes ridículas.

Considere-se o quadro pintado até pela “Economist” em um balanço da situação do país. Como se sabe, a revista tem alergia sarcástica a esquerdismos, embora nesta eleição “vote” no trabalhista Starmer.

“O quadro geral é de serviços públicos desmoronando”. O Serviço Nacional de Saúde, pilar da social-democracia britânica, tem a pior taxa de avaliação em sua história de 76 anos. “O despejo frequente de esgotos nos cursos de água do país… é outra metáfora já pronta”. “Os tribunais estão sobrecarregados e as prisões estão lotadas. Autoridades locais estão falindo; bibliotecas e piscinas fecharam”. “Parte do pano de fundo é o programa de austeridade (cortes profundos e rápidos na despesa pública) que começou em 2010. Regiões pobres, que dependiam mais do apoio estatal, foram duramente atingidas”.

Segundo dados compilados pela Resolução nº 106, a pobreza absoluta caiu brutalmente no último governo trabalhista (1997-2010), mesmo sendo “Terceira Via”; a economia cresceu.

Nos anos conservadores, a redução da pobreza foi lentíssima. Desde 2020, cresceu. Ruim. Mas, pelo menos, a direita extrema parece fora do cardápio britânico. Por agora.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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