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Série chinesa mostra os primeiros milionários de Xangai – 05/07/2024 – Mercado


No último fim de semana, fechando a temporada de televisão e transmissão n / D China“Fan Hua” levou cinco prêmios no festival de Xangai, incluindo a melhor série e melhor ator, para Hu Ge, no papel de A Bao, que do nada se torna um milionário na China dos anos 1990.

A série recebeu o título em inglês de “Blossoms” — que, assim como o nome original chinês, pode ser traduzido para flores e faz alusão ao início da primavera. Os 30 capítulos de 45 minutos de cada um são entremeados de passagens documentais, com imagens da época e narração do próprio Hu Ge, sobre o avanço aos saltos do mercado de ações e da indústria florestal, até o tiroteio das pesado.

A obra faz da própria cidade, centro de negócios no país, a sua protagonista, a ponto de ter estimulado um turismo nostálgico no início deste ano –após ser transmitida pela rede CCTV, numa versão em chinês, o mandarim padrão, e pela plataforma de streaming da Tencent, usando o dialeto de Xangai.

Entre os focos dos novos visitantes, a rua Huanghe e seus restaurantes, alguns ainda lá, onde A Bao fecha contratos e como Carne Chow Fun (ou Ho Fun), seu prato favorito, e o Fairmont Peace Hotel, onde estabelece seu apartamento-escritório de ostentação.

É da janela do hotel que ele acompanha a construção da Torre Pérola Oriental, então sozinha no distrito de Pudong, do outro lado do rio, até perder tudo ao mesmo tempo em que ela é inaugurada e se torna o símbolo da cidade e da nova economia chinesa.

O diretor Wong Kar-wai faz com Xangai, sua cidade natal, o que já foi realizado com Hong Kong, em filmes como “Amor à Flor da Pele” (2000) e principalmente “Amores Expressos” (1994). Dias antes da premiação, as músicas da série surgiram em formato de álbum, com canções pop da época, uma delas de Faye Wong, a atriz de “Amores Expressos”.

O diretor e também produtor passou a juventude viajando entre as duas cidades, mas seu irmão e sua irmã se estabeleceram em Xangai e suas trajetórias são evocadas nos personagens, segundo ele próprio. O projeto todo levou dez anos, sendo os três últimos voltados para as filmagens.

Há três personagens, também empresárias, no entorno mais ou menos romântico de A Bao. Uma, a mais próxima e solidária, é sua sociedade num restaurante menor; outra, a mais insinuante, compra o grande restaurante da rua Huanghe e se torna sua adversária em contratos e aplicações, até ser presa; a terceira é uma jovem que o ajuda e depois, mais empreendedora, o ultrapassa.

OA Bao do início busca os lucros de um investidor esquecido do passado pré-comunista, quando floresceu em Xangai uma incipiente Bolsa de Valores, e acaba sendo acolhido por ele. É quem mostra como levantar dinheiro e onde aplicar e decidir até mesmo o que deve fazer os seus alfaiates. A Bao começa com dinheiro guardado dos amigos e os torna ricos também.

Não falta exibição de riqueza em “Fan Hua”, diferentemente do que se observa hoje na China, ao menos na superfície, com fundadores e CEOs de empresas se esforçando para não ostentar dinheiro ou poder –além de abraçar os programas e slogans que vão ser lançados pelo regime, da “prosperidade comum” às “novas forças produtivas”.

São agora corporações imensas e cuidadosas, assim como é gigante a movimentação nas Bolsas de Xangai, Shenzhen e Hong Kong. Mas a concorrência selvagem que se vê ao longo dos 30 capítulos, não faltando golpes baixos, tentativa de assassinato e um suicídio, serve como alegoria para a desregulamentação que marca até hoje a “economia de mercado socialista”.

Uma economia em que a indústria de carros elétricos, por exemplo, soma mais de 50 montadoras de diferentes tamanhos, a maioria privadas, mas algumas delas estatais e todas se enfrentam umas às outras em guerras de preço.

Pequim cuida agora de apagar o que escapa da ostentação. Nos últimos três meses, a agência de controle da internet vem suprimindo contas de Douyin, o TikTok original chinês, e Weibo que “exibem um estilo de vida luxuoso”. Foram derrubadas “personagens ostentatórias” de influenciadores de grande alcance.

Paralelamente, foi divulgado também há três meses um estudo da Academia Chinesa de Ciências, concluindo que “a riqueza pode estar ligada à felicidade na China”, de fato, mas só quando a desigualdade é baixa. “Para felicidade verdadeira”, segundo o autor principal, Feng Huang, é precisamente maior interação entre benefícios e distribuição equitativa de riqueza.

Com “Fan Hua”, ajudado por Hu Ge, que havia protagonizado outra série famosa, adaptada de um game, “Paladino Chinês”, Wong Kar-Wai ultrapassou a faixa de público chamada de “wenqing”, jovens de cultura e arte, e se tornou popular no país. Pouco antes do festival de Xangai, uma produtora anunciou um novo filme seu, o primeiro em dez anos.

A série ainda não foi mostrada fora da China —onde pode ser vista em diferentes plataformas— nem há indicação de que será.



FOLHA DE SÃO PAULO

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