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Transição energética: investimento avalia preços, diz CEO – 05/07/2024 – Mercado


A fabricante de latas de alumínio Ball Corporation, que no mês passado anunciou a conquista da meta de 100% de energia renovável em suas operações no Brasil, depois do Paraguai e Chile, ainda prevê dificuldades para seguir o exemplo no mercado argentino.

Além da matriz energética mais dependente de combustíveis fósseis, as oscilações da rede energética no país vizinho prejudicam o fluxo de produção das embalagens, segundo Fauze Villatoro, presidente da multinacional na América do Sul.

“Como a qualidade da energia elétrica da Argentina não é das melhores, tem oscilações na rede energética, o que faz até com que a gente, às vezes, precise de geradores, para não interromper a produção quando falta energia”, afirma.

Segundo ele, no contexto de baixa disponibilidade de energias renováveis, o preço supera a previsão aceitável de gastos. “Entendemos que, sim, temos de fazer investimentos nisso, mas desde que esteja numa faixa aceitável e que não gere custos muito maiores do que o previsto pela indústria.”

Para o executivo, a circularidade do material, que tem altos índices de reciclagem, ajuda a deixar o movimento de transição energética ao reduzir o consumo ao longo da cadeia de produção.

“Quando a bobina em que nós fazemos a lata é proveniente de reutilização do alumínio, para reembolsar esse metal, essa lata que já foi utilizada, para voltar a ser lata economizadora de 95% de energia elétrica, no caso do fabricante do metal”, afirma.

Uma bola anunciou recentemente que antecipou a meta de 100% de energia renovável nas operações no Brasil, depois do Paraguai e Chile. O que falta para atingir em todas as operações?
Operamos em quatro países da América do Sul: Brasil, onde está a maior quantidade de fábrica que temos, Chile, Argentina e Paraguai. Falta [atingir a meta na] Argentina.

O país ainda tem uma dificuldade adicional, primeiro, pela qualidade da energia elétrica. Nossas fábricas dependem muito dos [equipamentos] transportadores de lata. Para transportar a lata em cada um dos passos de produção, a gente usa alguns tipos de transportadores por esteira e alguns por download. Quando se está transportando a lata por descarga e ocorre uma interrupção de energia elétrica, essa descarga também é desligada da tomada. Aí as latas daquela seção caem no chão. Ao cairem, não podem ser reaproveitadas. Portanto, elas são devolvidas para a cadeia de circularidade, ou seja, retornam, reembolsam e voltam como alumínio, mas prejudicam a produção naquele dia.

Como a qualidade da energia elétrica da Argentina não é das melhores, tem oscilações na rede energética, o que faz até com que a gente, às vezes, precise de geradores, para não interromper a produção quando falta energia.

Infelizmente, mais de 50% da energia disponível na Argentina ainda vem de combustíveis fósseis. Quando se compara com o Brasil, nós temos 94% da energia elétrica de fontes renováveis ​​ou limpas. Então, na Argentina, a disponibilidade é baixa. A qualidade tem evoluído, mas ainda falta um bom pedaço. Quando há baixa disponibilidade de certificados ou de energias renováveis, o preço fica muito acima do previsto como gasto. Entendemos que, sim, temos de fazer investimentos nisso, mas desde que esteja em uma faixa aceitável e que não gere custos muito maiores do que o previsto pela indústria.

Como foi o processo de transição de energia nas operações do Brasil? Quando começou e como era antes? A redução em si de energia elétrica já vem de mais de uma década na indústria de lata, principalmente afetada por nós. Se considerarmos 10 ou 15 anos atrás, nós já começávamos a ter motores de alta eficiência, de alto rendimento. São motores elétricos que nós precisamos para fazer o transporte da lata de uma máquina para outra, de um passo do processo para outro, mas que consomem muito menos energia porque o rendimento elétrico é muito maior.

Qual foi o investimento?
São muitos anos de investimentos em muitas áreas da fábrica. Antigamente, tinha apenas um tipo de compressor. Dividimos em dois, fazemos um investimento e, em vez de usar um só compressor que tem uma alta pressão mas uma baixa vazão, ou ao contrário, nós dividimos a linha. Então, nós temos uma linha alta e uma linha baixa. Esse foi um investimento recomendado que joguei em 2014 e 2015.

Mas antes disso, tivemos até coisas mais simples, por exemplo, sensores de ambiente, porque não é só uma questão de reduzir o consumo de energia em si. Também é uma questão de educação. Se eu entrar no banheiro, e a lâmpada acende e apaga sozinha, por mais que, no montante de energia elétrica, isso seja considerado baixo [economia]nós também estamos fazendo uma forma de educação e evitando qualquer desperdício, mesmo sendo mínimo.

Estamos falando da transição dentro deste elo da cadeia, que é o fabricante da lata. O que isso representa na cadeia como um todo? Ao atingir 100% de energia renovável em todas as nossas operações, a gente consegue reduzir em 18% a pátina de carbono da embalagem em si. E por que 100% de energia renovável e apenas 18% na embalagem em si? Porque mais de 90% da pegada de carbono da nossa cadeia é o escopo 3, ou seja, não está dentro da nossa própria indústria.

Quando falamos de pegada de carbono, são três escopos. No escopo 1, que é aquele gerado dentro da indústria, é um forno que a gente precisa para secar a lata, por exemplo. O escopo 2 é o da geração de energia elétrica, fora das nossas instalações. E o escopo 3 é o restante da cadeia, ou seja, o transporte de cargas e tudo o que vem em decorrência da entrega da lata ou de tudo aquilo que gera carbono mas não está abaixo do nosso controle.

A circularidade do material tem conexão com o processo de transição energética?
No alumínio reciclado, em que toda lata pode voltar a ser uma lata, tem uma vantagem muito grande sobre outras embalagens.

Quando a bobina em que fazemos a lata é proveniente da reutilização do alumínio, para reembolsar esse metal, essa lata que já foi utilizada, para voltar a ser lata economizadora de 95% de energia elétrica, no caso do fabricante do metal. Então, só usamos 5% quando a gente considera a lata reciclada. É muito gratificante se levarmos em conta os 74% do carbono que nós hoje temos na cadeia no escopo 3. Se você usar 95% menos energia elétrica para fazer uma lata nova, em decorrência da circularidade, é exatamente a circularidade que habilita essa redução toda de consumo de energia nessa cadeia.

Você fez uma comparação com o mercado argentino, e quais são os grandes dilemas que o restante do mundo enfrenta nessa passagem?
Além do benefício da matriz energética brasileira, tem um segundo ponto: nós temos uma circularidade muito bem desenvolvida no Brasil. Os catadores e pessoas que se coletam na lata têm um protagonismo nessa cadeia. Eles devolvem isso para o nosso fornecedor de metal, que nos devolve e nos traz de volta.

Temos um índice de reciclagem no Brasil que há mais de uma década fica acima de 95%. Nos dados da Associação Brasileira de Alumínio consta que, em 2022, 100% das latas foram recicladas no Brasil. Quando você compara com países da Europa, um país mais pronunciado é a Alemanha, que também vem em uma trajetória de reciclagem e coleta há muito tempo. Mas quando você olha para a Europa como um todo, isso varia muito. Tem países com índices de reciclagem muito inferiores ao brasileiro e ao alemão.

O que significa esse índice de 100% anunciado em 2022? Significa que todas as latas são feitas de outras latas ou são feitas de algum outro tipo de alumínio, por exemplo, das aparas de sua própria fabricação? Isso 100% quer dizer que 100% das latas produzidas foram arquivadas e recicladas. Evidentemente, a gente não tem um rastreamento por lata. Então, isso é feito com balanço de massa. Tudo aquilo que foi produzido e consumido de alumínio naquele ano versus toda a tonelagem de latas que foram registradas, separadas, recicladas e reembolsadas, dá um balanço de 100%.

Não tem apara?
Tem apara no nosso processo produtivo. Como o aparelho é a mesma liga de alumínio e como tem a possibilidade de ser infinitamente reciclado, ela tem a possibilidade de voltar a ser uma lata.

No nosso processo produtivo, nós também temos algumas perdas. Podem ocorrer problemas de qualidade ou interrupção de energia elétrica, e essas latas caem. Quando entra uma fita de alumínio, a cada batida que ela dá, faz 14 copos. Você não consegue aproveitar o chapa toda. Tem que ter uma distância milimétrica de uma para a outra para não colar na chapa e não gerar outros tipos de defeitos. Esse esqueleto também é separado e retorna para o processo de reciclagem e para o nosso fornecedor, que devolve e faz uma nova bobina e nos devolve o alumínio para fazermos uma nova lata.

O índice de 100% é questionado por especialistas no setor. Se alguém vasculhar um aterro não vai encontrar uma lata de alumínio que tenha sido misturada com lixo orgânico por restaurantes ou passado batido na coleta? Isso é 100% indica que você não teria sequer uma latina?
Sim. No dia 2022. Mas para o balanço da massa. Como não é possível fazer uma rastreabilidade individualizada por cada lata, então é um balanço de massa do que foi produzido e do que foi coletado.

Uma lata de 2021 pode ter ido para 2022, por exemplo, porque não foi vendida no mesmo ano em que foi produzida. Então é um balanço de massa. É a produção de alumínio versus o quanto foi coletado e o quanto foi reciclado.

Eu não te digo que você não vai encontrar uma lata em um aterro. Aterros são lugares muito grandes e, infelizmente, não dá para garantir 100% da consciência do descarte de maneira correta. Mas o que eu posso dizer é que é muito raro, porque o alumínio tem valor. Um milhão de famílias no Brasil vive de devolver o alumínio para a cadeia, porque ele tem valor no mercado secundário.

A própria empresa que faz o alumínio tem a garantia de recomprar esse alumínio para reembolso e devolução. Pode ser que encontre uma lata [descartada em aterro]mas é mínimo.


RAIO-X | FAUZE VILLATORO, 48

Formado em engenharia mecânica, o executivo entrou na companhia como trainee em 2002 e exerceu funções como gerente de produção, diretor operacional, além de cargos na vice-presidência, antes de assumir o cargo de presidente da Ball na América do Sul em 2022.



FOLHA DE SÃO PAULO

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