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Diferentemente do que diz Lula, fundos apostam no real – 07/07/2024 – Mercado


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que o mercado financeiro brasileiro especula contra o real. Mas, na direção contrária, o saldo investido pelos fundos nacionais em dólar está negativo desde março de 2023, quando o governo federal apresentou o arcabouço fiscal.

Segundo dados da B3, apesar de a posição da moeda americana ter subido desde a mínima de US$ 17,5 bilhões negativos em janeiro deste ano, ela segue negativa em US$ 4,5 bilhões. Ou seja, o saldo das apostas dos fundos de investimento segue na valorização do real ante a moeda americana.

Segundo o presidente, porém, não são suas falas sobre gastos públicos que movimentam o câmbio, e sim operações financeiras que apostam contra o real.

“Tem especulação com derivativo para valorizar o dólar e desvalorizar o real, e o Banco Central tem que investigar isso”, disse Lula no fim de junho.

Derivativos são contratos negociados em Bolsa que dizem respeito a um determinado ativo, como ações ou commodities. Os mais comuns são os contratos de compra e venda de dólares, que dão o direito ao contratante de comprar ou vender a moeda a um preço determinado.

Se o investidor acha que o dólar vai cair, ele compra um contrato de venda com uma cotação acima daquela que se espera. Quando o contrato vencer, se o dólar for mais barato que o estabelecido, ele lucra na diferença do preço do dólar naquele do contrato. Se o investidor acha que o dólar vai subir, contrata a venda a um valor abaixo do previsto para lucrar com a diferença no futuro.

“Quem estiver apostando em derivativo vai perder dinheiro nesse país. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real”, completou o presidente Lula.

Neste ano, porém, o dólar sobe 13% ante o real, indo a R$ 5,4617 na última sexta (5)levaram os fundos brasileiros que apostam não são reais para perder dinheiro. Com isso, as posições contrárias à moeda americana caíram. De R$ 17,50 bilhões negativos em dólar em janeiro deste ano —a maior aposta no real durante o Lula 3—, os fundos chegaram ao mínimo de R$ 3,57 bilhões negativos, em junho.

Com o recente recuo no discurso do presidente, que disse prezar pela responsabilidade fiscal, a aposta no real voltou a crescer e o saldo dos fundos nacionais foi para R$ 4,5 bilhões negativos no começo de julho.

“Fundamentos da economia brasileira mostram que temos espaço limitado para desvalorização substancial e perene do real”, afirma Jankiel Santos, economista do Santander Brasil.

O especialista elenca que a forte reserva internacional de dólares do Brasil (US$ 358,56 bilhões) e a balança comercial favorável fortalecem a moeda brasileira —o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços estima que a balança comercial do país terá um saldo positivo de US$ 79,2 bilhões neste ano.

Além disso, a pausa nos cortes da taxa de juros (Selic), levando-a em 10,50% também colabora a favor do real. A diferença entre os juros brasileiros e americanos (5,50%) seria o suficiente para não afugentar grande parte do investimento estrangeiro, banindo os dólares no país.

“O atual patamar da Selic ajuda a limitar o potencial de desvalorização que o real tem. Se o diferencial fosse menor, o dólar poderia superar os R$ 5,70”, diz Santos.

“Não existe especulação que dure se não haja fundamento por trás. O mercado não são cinco pessoas na Faria Lima operando. Todos nós somos agentes da economia, que é muito maior que a Faria Lima”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

Com o aumento recente do risco fiscalhouve a redução das apostas dos fundos locais em reais e o aumento da busca por proteção cambial de bancos e estrangeiros que investem no país.

“A posição dos fundos locais é mais direcional. Ou seja, é uma aposta em uma certa direção da moeda segundo os fundamentos previstos. Já a posição dos gringos não é especulativa. Estrangeiros [usam os contratos de dólar] como uma proteção para os investimentos que eles fazem aqui, especialmente em títulos públicos e em Bolsa”, diz Miraglia.

A posição dos estrangeiros em dólar chegou ao recorde nominal (sem correção pela inflação) em US$ 81,4 bilhões ao fim de junho.

“Os fundos de investimento estrangeiros têm que comprar dólar porque precisam se proteger da desvalorização do real para não perder o retorno do investimento que fazem aqui. Já os fundos brasileiros fazem apostas se o real vai desvalorizar ou valorizar”, afirma Michael Viriato, professor e assessor da Casa do Investidor e autor do blog De Grão em Grão, na Folha.

Mas, quando Lula marcou reunião com ministros da área econômica para falar sobre corte de gastos, na última terça (2)a posição dos estrangeiros em dólar caiu para US$ 75 bilhões.

Na quarta (3), o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que Lula havia determinado a preservação do arcabouço fiscal, e anunciou um corte para 2025 de R$ 25,9 bilhões em despesas com benefícios sociais, que passará por um pente-fino.

A declaração foi dada ao lado dos ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) após reunião com Lula para discutir medidas de reequilíbrio do Orçamento.

“Lula estava nesse discurso [de não cortar gastos]. Parece que ele não descende do palanque da eleição. Haddad, Simone e Congresso não estão nesse tom”, diz Miraglia.

Segundo economistas, a mudança no discurso e a iniciativa são bem-vindas, mas a execução ainda preocupa.

“[O anúncio] é bastante importante e positivo. Quer dizer que estão resolvidos. Mas faltam detalhes de como eles chegariam a esse valor, o que é difícil alcançar só com o pente-fino dos benefícios”, afirma Cláudia Moreno, economista do C6 Bank.



FOLHA DE SÃO PAULO

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