Em uma cúpula de chefes de Estado do Mercosul na qual ficou evidente a fadiga e a iniciativa de mais membros apoiarem acordos de livre-comércio por fora do bloco, o presidente Lula (PT) enfatizou a necessidade de um acordo com a China e de maior relação entre os Bancos Centrais do grupo.
Falando nesta segunda-feira (8) em Assunção, capital do Paraguaio presidente afirmou que é necessário aprimorar o atual sistema de pagamentos em moeda local previsto no Mercosul, formado pelo Brasil, ArgentinaParaguai, Uruguai e agora também a Bolívia.
“Uma maior harmonização nos procedimentos adotados pelos nossos Bancos Centrais para esse tipo de operação reduzirá custos e beneficiará principalmente pequenas e médias empresas do nosso continente”, disse o presidente a seus pares no porto de Assunção.
O assunto chama a atenção pelo “timing” doméstico que envolve o BC após o petista fazer reiteradas críticas públicas ao chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Netonomeado por Jair Bolsonaro.
O petista também afirmou que é o momento de conseguir os diálogos para um acordo abrangente com a China no bloco e ainda há o acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), que segue travado apesar dos avanços consideráveis no último ano.
“Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas”, disse o presidente. Um dia antes dele, os paraguaios, que presidiam rotativamente o Mercosul, diziam que não se renderiam ao que chamariam de protecionismo dos países desenvolvidos.
Ainda na agenda econômica transpareceu nesta cúpula que a Argentina de Javier Milei começa a apontar rumo à defesa de acordos bilaterais de livre-comércio por fora do bloco, como já faz o Uruguai.
A chanceler Diana Mondino, que chefiava a ascensão argentina na ausência de Milei, desafiou manifestado o tema. Ela tem proposto uma atualização do Mercosul, que descreve como o uso da palavra em italiano “aggiornamento”.
Isso, segundo a diplomacia argentina, “nova modalidade de negociação, mais flexível, com países terceiros ou grupos de países da região e do resto do mundo”.
Lula ironizou o tema em seu discurso. “Um pseudo ‘aggiornamento’ que afasta o Mercosul de suas bases sociais nos enfraquece”, disse o presidente brasileiro, que antes já havia sido criticado, sem nomear seu vizinho, medidas pleiteadas pela Argentina.
Há cerca de três meses, quando recebi a Folha na sede da chancelaria em Buenos Aires, Mondino, que é economista, manifestou outro ponto de vista sobre acordos por fora do bloco.
Na ocasião, ela disse: “Nós preferiríamos, pelo menos por agora, que pudéssemos fazê-los [os acordos] de forma conjunta, porque a capacidade de negociação que se tem em quatro países é totalmente diferente do que se faz sozinho.”