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Vale a pena tomar um empréstimo em Euros para aplicar em renda fixa no Brasil? – 08/07/2024 – De Grão em Grão


Neste fim de semana, recebi uma pergunta de um leitor bastante interessante. Embora a pergunta não seja exatamente a do título, a interpretação é semelhante. A questão foge do senso comum, pois geralmente o interesse é em levar recursos para o exterior, e não o contrário. Vamos analisar se a pergunta faz sentido.

No e-mail, o leitor compartilhou a seguinte situação: “Me mudei para Portugal e comprei um apartamento lá. Entretanto, mantenha o recurso para pagar a compra no Brasil.”

Em seguida, ele apresentou duas questões:

  1. Após essa alta do Dólar e do Euro, seria vantajoso financiar a compra com um empréstimo em Portugal a juros de 3,5% ao ano e manter os recursos no CDI no Brasil?
  2. Como se proteger da variação cambial se a opção escolhida for manter os recursos no Brasil?

Observe que a pergunta não é exatamente a do título. No entanto, se uma renda fixa brasileira for mais vantajosa que o empréstimo em euros, contrate o empréstimo em euros e mantenha o dinheiro aplicado aqui é como se você estivesse fazendo esta operação.

Para padronizar a nomenclatura, quando eu citar Euro, refiro-me à cotação do câmbio Reais/Euro.

Lembre-se de que um financiamento imobiliário é um compromisso de longo prazo, geralmente de 20 anos ou mais. Vamos começar a avaliar o desempenho de um investimento ou dívida a Euro+3,5% ao ano. O gráfico abaixo mostra a evolução de um investimento de R$ 100 mil no final de 2003 nos três indicadores: IPCA+6% ao ano, CDI e Euro+3,5% ao ano.

Observe que o melhor dos três, o investimento a IPCA+6% ao ano, rendeu mais de três vezes o investimento a Euro+3,5% ao ano. O CDI também superou o Euro+3,5% ao ano, valorizando-se 2,44 vezes.

Portanto, olhando apenas para o retorno passado, tomar o empréstimo em euros e pagar o imóvel, mantendo o dinheiro a IPCA+6% ao ano, teria sido mais vantajoso. É razoável estimar que, se o Euro ou Dólar se valorizarem, esse movimento vai impactar o IPCA, que tende a subir de forma defasada.

Entretanto, não podemos considerar apenas o retorno, especialmente quando há uma variável tão volátil quanto a mudança envolvida.

Para investidores conservadores, não recomendaria este tipo de operação, pois haverá anos de forte valorização do Euro. Investidores conservadores podem não suportar a oscilação e estar ansiosos para comprar euros adequadamente no pior momento.

É preciso entender que existe um risco envolvido nesse descasamento de moedas e taxas, mas acredito que ele tende a ser vantajoso. Isso ocorre porque o IPCA tende a subir mais do que a desvalorização do câmbio no longo prazo. Além disso, há uma vantagem nas taxas de juros a favor do investimento em IPCA+.

Quanto à segunda pergunta, contratar proteção cambial eliminaria qualquer benefício da operação acima, devido aos custos de cobertura. Portanto, se o objetivo não é correr o risco cambial, é melhor fazer a remessa para o exterior, pagar o imóvel e descartar o financiamento em euros.

Como somos um país emergente e temos os riscos genéticos dessas economias, nossos juros são mais elevados, o que, a longo prazo, tende a compensar os riscos das variações cambiais. No entanto, haverá períodos de retornos desfavoráveis. Assim, os investimentos que resultam em descasamento de moedas devem ser realizados apenas dentro do perfil do investidor e restritos a uma parte do patrimônio, de forma a não comprometer o todo.

Michael Viriato é avaliador de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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FOLHA DE SÃO PAULO

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