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França: A ultradireita do Brasil é normalizada e avança – 07/09/2024 – Vinicius Torres Freire


Alguns brasileiros estamos entretidos com as reviravoltas da política francesa. Alguns ficamos alarmados com as ameaças à liberdade, à igualdade, à fraternidade e à dignidade humana em geral, postas em risco pela possibilidade de vitória do partido Reunião Nacional, de Marine Le Pende ultradireita ou o nome que se dá.

Um rótulo político qualquer não vai esconder que se trata de um partido adversário da república, ideia para o que jamais demos muita bola, mas que na França ainda comove muita gente. A república envolve princípios e direitos reais e muito caros para as massas de pessoas; sua instituição periclitou por um século e meio e custou muito sangue e guerra civil.

Faz menos de dois anos, viemos aqui no Brasil assaltos até contra o direito de termos um sistema eleitoral democrático, que é um meio para se chegar a uma democracia substantiva e à república.

O líder do golpe contra as eleições é o maior líder político do país além do presidente da República. Trata-se, claro, de Jair Bolsonaro, que proclamou em público que cancelaria eleições — e muito mais. Quanto ao caráter republicano do presidente das trevas, basta lembrar sua pregação do genocídio, da guerra civil, da tortura, do preconceito criminoso contra indígenas, mulheres etc.

Em menos de dois meses, começa a campanha eleitoral municipal. Não é possível saber ainda, quantos candidatos serão demitidos ou vão aderir a Bolsonaro, tal como o fez o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Sabe-se que a maioria do centrão direção que domina prefeituras e Congresso já sustentou o governo Bolsonaro, é adepto do seu programa ou vai se valer do seu apoio.

O centro de direção e suas alas mais bolsonaristas tiveram sucesso em 2020 e 2022, com base em seu domínio e expansão política. Não têm programa quanto a questões essenciais: gasto público e impostos, transição energética, saúde pública, devastação ambiental etc. Não essencial, não importa muito se as coisas continuarem como estão desde que tenham mais poder sobre o Orçamento (emendas gastas à matroca) e fundos para feudalizarem a política. São pontas de lançamento do movimento que vão esgotar todo o Orçamento até que governo e Estado se tornem inviáveis, daqui a um brilho, talvez.

Quanto à ideia maior de república, jamais foi uma preocupação nacional explicitamente, se foi preocupado. Agora, se trata de acabar com a possibilidade de termos uma, dada a liderança normalizada de um golpista e o avanço de suas tropas contra os direitos mais elementares.

República, aqui, fez parte do nome do golpe militar que derrubou o império agrário escravista de Pedro 2º e é parte do nome oficial do país, República Federativa do Brasil. Por falar nisso, diga-se, de passagem, que tratamos mais de “federação” do que de república, pois está em jogo o interesse das elites regionais e dos centrões.

A República está longe de ter, pois os direitos mais básicos, como os civis ou mesmo o direito à vida não se estendem às massas de pobres, ainda menos se pretos e pardos. São pessoas largadas em calabouços sem processos ou advogados, assassinadas aos montes pelo crime privado ou estatal, discriminadas judicialmente até por serem discriminados (sic), pois condenadas à pobreza e outras opressões.

A república depende de direitos sociais. Um dos mais básicos é o direito universal à escola, que não existia na prática há mais de 30 anos e, substantivamente, ainda não há, dada a educação péssima e muito desigual.

Enfim, deu para entender. A democracia e a república estão sob ataque contínuo e desesperado. O maior cabo eleitoral do país é golpista. Como se fosse normal.


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FOLHA DE SÃO PAULO

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