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Câmara aprova inclusão da carne na cesta básica com alíquota zero – 10/07/2024 – Mercado


O relator da regulamentação da reforma tributária, Reginaldo Lopes (PT-MG), decidiu, nos instantes finais da votação, incluir as carnes na lista de produtos da cesta básica nacional, que terão alíquota zero.

“Estamos hospedando no relatório da reforma de todas as proteínas: carnes, peixes, queijos e, logicamente, o sal. Porque o sal é um ingrediente da culinária brasileira”, anunciou no plenário da Câmara dos Deputados.

A decisão ocorreu após dias de impasse em torno do tema e evitou um risco de derrota para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que é aplicável diretamente para tentar barrar a medida.

Um destaque para incluir as carnes foi apresentado pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro e da oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como o texto-base já foi votado pelos parlamentares, o destaque foi apreciado para confirmar a decisão sobre a cesta básica.

A emenda foi aprovada por 447 votos favoráveis ​​e 3 contrários, além de duas abstenções.

O tratamento tributário das carnes foi um dos temas mais polêmicos durante a discussão do projeto na Câmara.

O presidente da Câmara se reuniu diversas vezes com o representante da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) para tratar do assunto. Em confraternização promovida pelo PSD na noite de terça (9)Lira teve uma discussão acalorada com o presidente da entidade, o deputado Pedro Lupion (PP-PR), sobre a questão.

Após a decisão ser anunciada, Lupion afirmou que foi feita uma decisão “política do plenário”. “A maioria dos líderes fez conta e viu que o resultado seria favorável à inclusão das proteínas. É o voto, a máxima da Câmara que a maioria tem voto e a minoria, regimento”, afirmou. “Aplaudimos a decisão do relator, uma decisão política que evita uma disputa de plenário muito ruim.”

Lupion afirmou que a bancada ruralista “negociou longamente” com líderes, membros do grupo de trabalho e, principalmente, com Lira. “É importante ressaltar que o presidente Arthur Lira tomou um papel de articulador nesse tema, a responsabilidade de conduzir esse tema e nunca deixou de nos ouvir. Às vezes bem, às vezes mal, muitas vezes sem concordar com nossos pleitos”.

A bancada ruralista é uma das mais poderosas do Congresso e favorável à inclusão da proteína animal. Lira voltou a se reunir com membros da FPA já com a votação do projeto em curso, na tarde desta quarta. Não houve acordo, e os deputados da bancada disseram que teriam votos para aprovar o destaque.

Momentos antes do relator anunciar a decisão de incluir proteínas na cesta básica, alguns líderes foram conversar com Lira, na tentativa de convencê-lo a recuperá-la. De acordo com relatos de um aliado do alagoano, os parlamentares disseram que, se o tema fosse a voto, o presidente da Câmara seria derrotado.

O tema também se tornou novo foco de divergência entre Lira e o Planalto.

De um lado, Lula defendia a inclusão de carne na cesta básica, enquanto Lira era o contrário. Em entrevista ao UOL no fim de junhoo petista entrou na discussão da reforma ao defender o imposto de renda para o frango.

Há uma avaliação da política do governo de que essa medida teria forte apelo popular, porque o volume de proteína animal consumida no Brasil é relevante. Além disso, uma das promessas de campanha do petista era que os brasileiros voltariam a comer carnecomo uma picanha.

O próprio Ministério da Fazenda, porém, calculou que contemplar as carnes na cesta básica teria um impacto de 0,53 ponto percentual na alíquota padrão do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), a ser pago por todos os contribuintes.

Na metodologia do Banco Mundial, esse efeito poderia ser até maior, de 0,57 ponto percentual.

O impacto é um dos motivos citados por Lira para justificar a posição contrária à inclusão. Na semana passada, o presidente da Câmara disse que isso aconteceria um “preço pesado para todos os brasileiros”.

Nas discussões mais recentes, ele argumentou a interlocutores que contemplavam as carnes seria uma “insanidade” e que a fatura seria paga por todos os contribuintes.

O relator da proposta, Reginaldo Lopes (PT-MG), não incluiu carnes na cesta básica em nenhum dos seus pareceres, e o texto-base foi aprovado sem o produto. O PL apresentou um destaque ao texto, para subordinar o tema a uma votação específica no plenário.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) disse que isso era um “sonho do presidente Lula” e que ele “o tempo todo colocou que era muito importante que tratasse proteína na cesta básica das pessoas mais vulneráveis”.

Líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ) afirmou que a inclusão do relator se deu após pressão e trabalho da oposição, numa crítica ao governo federal. “As promessas que foram feitas e não foram cumpridas, possivelmente poderão ser cumpridas agora. Parabéns à bancada do PL”, disse.

Além do agronegócio, também houve pressão de outros setores, como o de supermercados, e de parlamentares —da direita à esquerda— que defendiam uma cesta básica mais ampla e foram surpreendidos pela ausência de proteína animal na lista.

A reportagem testemunhou o momento em que o deputado Orlando Silva (PC do B-SP) abordou o líder do PT na Câmara, Odair Cunha (PT-MG), no salão verde da Casa, na quarta, questionando o que seria feito para contemplar como carnes. Cunha respondeu rapidamente que era um assunto “complicado”, antes de entrar no plenário de votações.

Em outro momento, o deputado Otto Alencar Filho (PSD-BA) disse a Ricardo Salles (PL-SP), que votaria a favor do destaque do PL para incluir as carnes na cesta básica.



FOLHA DE SÃO PAULO

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