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Relator da reforma faz cálculo mais otimista para o IVA: ‘Se tudo der errado, ainda tem a trabalhar’ – 11/07/2024 – Mercado


A cobrança automática do novo IVA (Imposto sobre Valor Agregado) da reforma tributária pode deixar a alíquota em torno de 25%,preveja o relator do projeto de regulamentação n / D Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes (PT-MG).

O valor é mais positivo do que os 26,5% estimados pelo próprio Ministério da Fazenda sem inveja da proposta. E é consideravelmente mais baixo que a simulação feita a pedido Folha por técnicos do Banco Mundial, que coloca uma alíquota acima de 27% após a inclusão de carnes e outros alimentos na cesta básica.

O relator argumenta que, no saldo final da votação, as mudanças feitas pelos deputados compensam as flexibilizações.

Por um lado, a inclusão das carnes na cesta básica nacional (que reunirá produtos com alíquota zero) e demais concessões associadas no relatório elevaram a alíquota em até 1 ponto porcentual, estima Lopes.

Por outro lado, ou aprimoramento do pagamento dividido (mecanismo por meio do qual há uma redução automática do imposto no momento da transação financeira) tem potencial de reduzir a alíquota em 1 ponto porcentual, de acordo com o relator.

Já a cobrança do “imposto do pecado” sobre carros elétricos, bicicletas e carvão mineral deve trazer alívio de mais de 0,3 ponto, pois a arrecadação do Imposto Seletivo tira pressão da alíquota do IVA para manter estável a carga tributária.

“Chamamos quem elaborou o modelo de cálculo da alíquota. O próprio presidente [da Câmara] Arthur Lira tinha uma preocupação extraordinária com a alíquota, e ali surgiu a ideia de trabalhar. E, se tudo der errado, ainda tem a trabalhar e a obrigatoriedade”, disse o petista à Folha no dia seguinte à aprovação do texto na Câmara.

A trava mencionada pelo relator foi incluída no texto para garantir que a alíquota dos novos impostos não ultrapassa os 26,5%. Se isso acontecer, o presidente da República enviará um projeto de lei complementar com descontos na alíquota de bens e serviços favorecidos por uma taxa menor.

Lira comandou uma votação a jato do projeto de regulamentação da reforma tributária na noite de quarta-feira (10), que teve mudanças no relatório feito em cima da hora, com a discussão já em curso.

“Estou certo de que meus cálculos estão corretos. Tem R$ 2 trilhões de economia subterrânea, ou seja, que não paga impostos”, disse Lopes.

Segundo ele, a Câmara aceitou um modelo mais criativo e inteligente do split payment do que o proposto pelo Executivo no projeto original. Trata-se do mecanismo que permite o recolhimento automático dos tributos no ato do pagamento do produto ou serviço.

O instrumento é uma das principais apostas do governo para reduzir a sonegação. O sistema vincula o pagamento do imposto ao documento fiscal e à liquidação financeira da transação comercial, segregando automaticamente o valor do imposto e o da operação em si.

Segundo ele, a criação do “cashback” —mecanismo de devolução de parte do imposto pago pelos consumidores de baixa renda— vai ajudar a disseminar a cobrança pela nota fiscal e ampliar o alcance do sistema.

“Nós criamos o cashback, que força 73 milhões de brasileiros a pedirem nota fiscal, a partir do split payment”, afirmou.

Lopes rebateu críticas de setores que não se sentiram contemplados pelas mudanças de última hora, como o saneamento. Representantes do segmento dizem que há risco de alta nas tarifas, já que o serviço será cobrado pela alíquota cheia. Consumidores de baixa renda, no entanto, terão 100% do imposto devolvido por meio do cashback.

“O problema do país é que ninguém quer pagar imposto. A reforma é para acabar com a festa”, disse o relator.

Outro tema que movimentou as discussões políticas em torno do texto foi a inclusão de proteína animal na cesta básica. O relator mencionou isso em seu parecer momentos antes de começar a votação de um destaque apresentado pelo PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O tema é tornou um novo foco de divergência entre o Planalto e a Lira. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende carnes na cesta básica, apesar das resistências da Fazenda. De outro, o presidente da Câmara era contra sob o argumento de que isso teria impacto expressivo na alíquota.

Lira só recuou após ser alertada por líderes partidários que tiveram votos suficientes para Convocar ou destacarnuma ofensiva que uniu parlamentares da direita à esquerda sob forte atuação da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), uma das mais importantes do Congresso.

No plenário, petistas e oposicionistas comemoraram a decisão de Lopes. Ao longo do dia, no entanto, os parlamentares do PL usaram esse impasse para criticar Lula, que prometeu baratear o preço da carne, citando a picanha, durante a campanha presidencial.

“A picanha uniu Bolsonaro e Lula. Isso é extraordinário”, disse Lopes, que foi designado por Lira para ser relator entre os sete membros do grupo de trabalho que elaborou o parecer.

O petista disse que, diante da preocupação com o tamanho da alíquota, a ideia de trabalhar surgiu em reunião do colégio de líderes ocorrida na véspera da votação, na residência oficial de Lira.

No encontro, que teve a participação do ministro Fernando Haddad (Fazenda) e de técnicos da Receita, os parlamentares debateram o impacto de cada alteração no texto em análise.

Um dos personagens centrais das negociações de parlamentares para a inclusão da carne na cesta básica nacional, o relator disse que o acordo foi apontado para uma convergência extraordinária dos deputados. Enquanto o texto-base teve o apoio de 336 deputados, o registro de proteínas animais foi aprovado por 447 votos a 3.

“Política se faz no diálogo. As duas últimas reformas foram sob a ditadura civil de [Getúlio] Vargas e a ditadura militar do Castelo Branco. Política se faz no diálogo”, afirmou.

“Todos nós queremos melhorar a alimentação do povo brasileiro. Eu não quero definir o que o pobre deve escolher [para comer]”, disse. Lopes, porém, avaliou que o mecanismo de cashback de devolução do imposto é mais justo.

“É um instrumento mais redistributivo, mas no momento da polarização da política é muito difícil uma racionalidade para que todos possam compreender que realmente o cashback é um instrumento mais justo”, avaliou.

Para ele, a combinação entre cashback, cesta básica desonrada e realiza alíquota deu as condições políticas para unificar quase 500 votos em torno da emenda que garante alíquota zero para as carnes.

“Encontramos o instrumento técnico [a trava] para incluir a carne. Essa é a magia da política”, afirmou.

O relator ponderou, no entanto, que é errado retomar a importância e a complexidade da reforma ao debate das carnes e da cobrança do Imposto Seletivo sobre as armas de fogo —medida rejeitada pelo plenário.

Ele também minimizou o impacto da desoneração das flores no projeto, outra mudança incluída no dia da votação. “Flores é uma coisa que é 0,001…[%]. É maravilhoso. “São apenas pequenos produtores”, disse.

O relator também apoiou a inclusão do plano de saúde de animais domésticos. Segundo ele, a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, participou gratuitamente dos debates como militante da causa animal. Em vídeo gravado com Janja nesta quinta-feira (11), Haddad contou que até a apresentadora Xuxa se candidatou à negociação.

“A Xuxa entrou no circuito, ela entrou em contato com os empresários que eu recebi na Fazenda”, disse o ministro da Fazenda no vídeo.



FOLHA DE SÃO PAULO

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