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Medida que pode ampliar BPC abre divergências no governo – 14/07/2024 – Mercado


O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discute uma proposta que pode flexibilizar critérios de avaliação da pessoa com deficiência e, com isso, turbinar a concessão do BPC (Benefício de Prestação Continuada)uma das despesas que estão no mira da equipe econômica razoável pelo crescimento acelerado nos últimos meses.

A iniciativa foi concebida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e abriu divergência com outros órgãos do governo, principalmente os ministérios que trabalham na revisão de gastos.

A Folha teve acesso ao relatório do grupo de trabalho sobre a mudança na avaliação, que servirá de base para uma minuta de decreto, que ainda não chegou formalmente à Casa Civil.

A medida prevê a criação do Sistema Nacional de Avaliação Unificada da Deficiência, um novo modelo para certificar cidadãos como pessoas com deficiência. A classificação abre caminho para o reconhecimento de direitos, como isenções no IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) e acesso ao BPC para aqueles de menor renda.

Integrantes do governo veem dificuldades para avançar em uma medida que possa ter impacto negativo nas contas públicas no momento em que o governo está reduzindo impostos.

No início do mês, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciado para 2025 um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas com benefícios sociaisque passará por um pente-fino —inclusive o BPC.

Auxiliares palacianos dizem ainda não ser possível fechar posição sobre o texto proposto pelo Ministério de Direitos Humanos porque não foram apresentadas estimativas de impacto.

Uma ala do governo defende que os novos parâmetros sejam usados ​​apenas para outras políticas voltadas a pessoas com deficiência, menos o BPC. Um técnico ouvido pela reportagem diz ser necessário atualizar a avaliação do benefício, mas a iniciativa precisa vir acompanhada de correções de problemas do BPC.

Uma das propostas que constam do relatório prevê que a nova avaliação “seja audiência inicialmente por equipes multiprofissionais da Previdência Social e da saúde, selecionados pela sua capilaridade, interiorização e abrangência em termos quantitativos de profissionais em todo o território nacional”.

Hoje, apenas os peritos da Previdência avaliam pessoas com deficiência que solicitam o BPC. Para técnicos do governo críticos à proposta, permitir que a avaliação fique a cargo de agentes de saúde nos municípios possa ampliar a discriminação do processo e elevar as concessões.

O documento diz ainda que o novo modelo biopsicossocial de avaliação considera aspectos não apenas físicos e psicológicos, mas também sociais e ambientais.

O chamado IFBrM (Instrumento de Funcionalidade Brasileiro Modificado) mede a capacidade potencial de a pessoa realizar atividades e as barreiras enfrentadas, segundo uma lista de fatores: produtos e tecnologias, condições de habitação e mudanças ambientais, apoio e relacionamentos, atitudes de pessoas externas (como preconceito, discriminação ou capacitismo) e acesso a serviços e políticas públicas.

Os cidadãos reconhecidos pelo instrumento receberiam o Certificado Nacional da Pessoa com Deficiência.

Técnicos alertam que o alargamento dos critérios pode resultar na equiparação de quaisquer doenças crônicas a deficiência, ou desconsiderar o avanço de crianças que nascem com alguma deficiência, mas conseguem transportar dificuldades ao longo da vida.

Embora o relatório diga que a mudança não interfere nas regras dos programas, facilitar o reconhecimento do direito pode levar às concessões do BPC, que tem hoje quase 6 milhões de beneficiários —3,2 milhões deles de pessoas com deficiência. A despesa com o programa está prevista em R$ 105,1 bilhões neste ano.

O grupo de trabalho conta com representantes dos ministérios dos Direitos Humanos, do Desenvolvimento e Assistência Social, da Gestão, do Planejamento, da Fazenda, da Previdência e da Saúde, além da Casa Civil e do Conade (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência). ). A discussão durou um ano, mas as preocupações fiscais ficaram mais evidentes na reta final dos trabalhos.

O MDH defendeu o novo modelo de avaliação e disse que a mudança está em análise. “A partir de agora, com esse diagnóstico feito por um conjunto de ministérios, haverá estudo sobre os possíveis impactos financeiros – ou até mesmo economia de recursos advindos da avaliação unificada”, afirmou em nota.

A pasta disse ainda que a adoção do formato pode levar à maior racionalidade no uso de recursos. “Pode-se, com a avaliação biopsicossocial da deficiência, apontar quais tipos de serviços de reabilitação aquele indivíduo necessita para ser mais autônomo, pode-se definir quem poderá disputar vagas de emprego pela cota de pessoa com deficiência, ou até mesmo quem tem direito ao passe livre.”

Já o MDS disse que a avaliação unificada “possui metodologia aprimorada” em comparação à utilizada hoje para a concessão do BPC. Segundo a pasta, a proposta leva em consideração “elementos fundamentais para ampliar o acesso das pessoas com deficiência de direitos”.

“A avaliação de impacto será possível após a instituição do novo modelo e aplicação da avaliação”, afirmou.

O Planejamento informou que o decreto ainda não foi apresentado e que “eventual impacto financeiro ainda serão discutidos”. A Casa Civil disse que a proposta ainda não está sob análise do ministério. A Fazenda foi procurada em 28 de junho, mas não se manifestou.

BPC TEVE CRESCIMENTO ACELERADO A PARTIR DE 2022

As concessões do BPC tiveram um trabalho premiado a partir do segundo semestre de 2022. Até então, o público do programa oscilava entre 4,6 milhões e 4,7 milhões, com pequenas variações mensais. Em julho daquele ano, o governo habilitou 93 mil novos beneficiários. No mês seguinte, mais 90 mil.

Desde então, as promessas têm se mantido superiores a 50 mil por mês. Em abril, a quantidade de pessoas que estão no BPC atingiu 5,9 milhões.

Embora tenha havido uma representação de pedidos, devido à fila do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), técnicos do governo veem uma situação de descontrole e buscam explicações para o fenômeno.

Além das concessões, também aumentou o número de novos requerimentos, de 146,6 mil por mês na média de 2023 para 170,9 mil mensais em 2024. O avanço se dá em todas as regiões, mas tem mais força no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Um dos possíveis fatores de impulso foi a mudança feita em 2021 na Lei Orgânica de Assistência Social, o que permite deduzir da renda familiar os valores destinados a pagar médicos, fraldas, alimentos especiais ou medicamentos. Em outubro daquele ano, o governo baixou uma portaria definindo um abatimento padrão para cada categoria, simplificando o processo.

O Executivo também simplificou a avaliação social, permitindo a aprovação automática nesse quesito em algumas situações. Ainda assim, a orientação precisa passar pela avaliação de renda e, se for pessoa com deficiência, pela perícia médica.

Há ainda uma brecha legal, como uma portaria da época da pandemia de Covid-19 que permite a concessão do BPC a pessoas que não estão no Cadastro Único.



FOLHA DE SÃO PAULO

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