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Relator da LDO diz que desvincular Orçamento é único ‘rumo’: ‘O resto é lenga-lenga’ – 16/07/2024 – Mercado


Relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2025, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) afirma que a desvinculação do Orçamento é inadiável e que a ministra Simone Tebet (Planejamento), de quem é aliado, foi “iluminada” ao tratar do assunto.

“Só tem esse rumo, não tem outro. O resto é aumentar receita, diminuir despesa, esse lenga-lenga. Se quiser estabilidade, crescimento duradouro, tem que atacar esses pontos, não tenho dúvida”, diz o parlamentar em entrevista à Folha.

Confúcio afirma ter sido procurador por empresários preocupados com o cumprimento da meta fiscal definido pelo governo de déficit zero em 2025 e elogia o pente-fino em benefícios sociais para cortar R$ 25,9 bilhões em despesas.

O parlamentar também diz ter perguntado a Fernando Haddad (Fazenda) se ele gostaria de aproveitar o relatório da LDO —lei que estabelece as diretrizes para a elaboração do Orçamento— para dar um “beliscão” nas vinculações. Segundo Confúcio, o ministro respondeu que não é o momento.


META DE DÉFICIT ZERO EM 2025

Todos os empresários que vieram aqui [no gabinete]associações de vários setores da atividade econômica, a preocupação deles era a meta. ‘A meta é essa mesma? É zero mesmo?’ Porque até os próprios bancos já precisam saber disso para poder medir o grau de investimento, planejar a vida deles, das empresas. Há muito interesse sobre os juros porque todo mundo vai [pedir dinheiro] para o banco. [Falaram disso comigo] e da velocidade de crescimento da dívida.

LDO E INCENTIVOS FISCAIS

Eu estive com o ministro Fernando Haddad até saber argumentar com os parlamentares; preciso de subsídios dele. Ele falou que, mesmo com todas essas oscilações do último mês, o governo manteria as mesmas tabelas de crescimento, inflação e juros. Porque eles estão achando que isso é uma bolha existente agora devido a oscilações de origens mais diversas. Então ele falou: ‘Nós vamos manter como está’. Agora, como a LDO pode ser votada um pouco mais tarde, vamos observar o comportamento do mês de agosto.

E ele falou dos estudos de licenciamento tributário, de conseguir reduzir algum licenciamento. Quase R$ 600 bilhões em incentivos fiscais que não são avaliados como política pública eficiente. Teoricamente o incentivo é temporário, mas ele termina ficando eterno. Quando a ameaça se retira, a pressão no Congresso é grande. O lobby é pesado, acaba passando. É muito dinheiro para os setores mais variados. Ninguém quer perder. E ninguém pode apostar somente no aumento de receitas. Até porque você tem um limite, a Receita Federal já é eficiente na arrecadação.

VINCULAÇÕES

Todas as vinculações existentes deixa o Orçamento engessadíssimo. Eu até falo o seguinte: daqui a dois presidentes, se continuar como está, é melhor nomear um gerente de orçamento. Porque o candidato a presidente faz mil promessas, mil compromissos, e encara o orçamento comprometido, em que ele só vai ter 9% de receitas discriminatórias, aproximadamente. E, cada vez mais, [isso vai] diminuir. Cada vez que o Congresso concede um incentivo, aumenta o valor das emendas, vai imprimir esse valor. Tem um articulista que falou que em 2030 o governo só terá R$ 20 bilhões para [gastos] discriminadores. Dá para pagar água, luz e aluguel.

‘BELISCÃO’ NAS VINCULAÇÕES PROPOSTO A HADDAD

Eu até falei com ele [Haddad]para provocar uma conversa. Ele falou assim, de imediato —ele não tocou nesse assunto—, acha que não é o momento. De dar o beliscão. Eu acho que o Lula não fará isso. Ele já falou que o mínimo [vinculado à aposentadoria] ele não altera. Ele pode falar: ‘Vamos fazer um pente-fino, dá seu jeito, me economizo R$ 30 bilhões’.

Como tirar a vinculação da saúde e da educação? Tem que ser pela Constituição. E o debate será muito acelerado para desvincular. Mas eu acredito que mais cedo ou mais tarde isso será feito. Eu acredito que será até mais fácil [das desvinculações]. Como você vai destinar os fundos de participação para estados e municípios? Os 5.700 prefeitos viriam para Brasília fazer uma marcha terrível.

TEBET

Acho que ela foi iluminada ao falar disso. Ela provocou uma realidade que a gente vê. É inadiável, isso vai acontecer. Mas a data desse conhecimento a gente não sabe. Como ela é uma ministra, ela jogou a bola para o presidente. Quem foi eleito e tem voto é ele. Ela está dando uma sugestão técnica. E eu achei oportuno ela falar isso. Só tem esse rumor, não tem outro. O resto é aumentar a receita, diminuir a despesa, isso é longo-longo. Se quiser estabilidade, crescimento duradouro, tem que atacar esses pontos, não tenho dúvida. Falam da reforma tributária desde que estou na política. Agora ela saiu. Eu acredito que esse debate não vai prosperar agora, mas vai ser feito subindo degraus.

CORTE DE GASTOS DE R$ 25,9 BI

Acho que é uma medida acertada. A atitude é muito saudável, dá um equilíbrio no mercado. ‘Ah, mas eu não posso trabalhar para o mercado.’ Mas, se perder a credibilidade, ninguém acaba tendo que participar dos leilões, por exemplo. Essa sinalização positiva de austeridade do presidente é muito importante. E mostrando a possibilidade de atingir a meta fiscal zero, que está prevista na lei [LDO].

Tem muito benefício que é uma coisa tão frouxa que vai liberando e liberando… O seguro-defesa, por exemplo. Tem uma quantidade de gente que não é pescador e tem a carteirinha do benefício. Se o governo tiver de fazer esses cruzamentos bem-feitinhos, elimina muita gente. Todas essas economias são importantes, isso dá alguns bilhões.

APOIO DO CONGRESSO À AGENDA DE HADDAD

O Congresso tem que estar sempre aberto às proposições do Executivo. Porque a maioria dos parlamentares não tem conhecimento da realidade de um governo. O articulador político do governo deve descer para conversar. Primeiro conscientize o líder sobre as medidas mais impopulares. Convencer da necessidade, dos riscos. Quando ele joga a bola assim, joga um projeto polêmico que tem a força contrária dos defensores… No caso da MP do Pis/Cofinsmeio mundo é beneficiado. Tinha que falar.

ARTICULAÇÃO DO GOVERNO

Não pode deixar isso somente por conta do líder do governo [no Senado]Jacques Wagner. O governo tem que descer, conversar, apoiar o líder do Congresso, o líder do Senado. Converse com os líderes partidários um a um. Aqueles mais rebeldes, vão lá e conversar. Mesmo com a oposição. Porque não? Tem que conversar com a oposição, sim. Não pode ter preconceito. Hoje a oposição é forte, muito bem articulada e competente. Vejo o Rogério Marinho, extremamente sensível, [tem] bom senso. A Tereza Cristina, de oposição, mas uma sensibilidade incrível. São pessoas sensatas. Se bem conversados, eles encaminham voto favorável.

Os ministros fizeram [a articulação] quando chamados para falar com os presidentes das Casas. Mas eu acho que os ministros devem descer aos líderes partidários. Não custa nada [receber] a bancada dos partidos maiores. Isso é extremamente simpático. Uma demonstração de boa vontade.

EMENDAS PARLAMENTARES

Eu acho que tem que deixar isso flutuar mesmo, a critério do governo. Tinha gente querendo incluir as comissões erradas, temporárias, com direito a emendas [hoje restritas às comissões permanentes da Câmara e do Senado]. Aí acaba o orçamento. Aí é de lascar mesmo. Nós nos recusamos. Também sou contra tornar as emendas de cláusulas impositivas [quando o governo é obrigado a pagar].

O Congresso foi buscar conquistas, entre aspas, sobre o orçamento. Dominando a elaboração do jeito dele. Ano a ano o Congresso está tomando conta. Isso é ruim para o presidencialismo, fica parecendo um parlamentarismo às avessas.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA DOS MILITARES

Quero conversar com o ministro [da Defesa, José Múcio Monteiro]. Quero ouvir o que ele tem a dizer. Ele é muito prático. Os militares também são servidores públicos. Como haverá resistência, a reforma pode ser feita respeitando os direitos já adquiridos, para os futuros militares. É evidente que isso precisa ser feito. Talvez no início de um próximo governo.

VOTAÇÃO DA LDO

Se esperar muito tempo para votar, a LDO perderá o efeito. Melhor não ter. Ano passado teve a questão do arcabouço fiscal, condenaram a LDO em dezembro. Isso para mim é um absurdo. Não pode. E ano passado o relator tem essa justificativa [do arcabouço]. Estamos estimando que neste ano serão mais de 3.000 emendas. A LDO tem que ser aprovada antes da discussão do orçamento [que será enviado ao Congresso em agosto]. E eu vou fazer tudo para recomendar antes.

RAIO-X

Confúcio Moura, 76

Relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2025, presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado e um dos vice-líderes do governo na Casa. Antes de ser eleito senador, em 2018, foi governador de Rondônia, prefeito de Ariquemes e deputado federal.



FOLHA DE SÃO PAULO

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