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Impostos caem, mas não tanto
O novo sistema tributário vai reduzir os impostos sobre a população pobre no Brasil. As mudanças feitas pela Câmara deixou esse impacto menor do que poderia ser.
Em números:
- 2,4% da arrecadação de impostos no Brasil vem dos mais pobres hoje, segundo o Banco Mundial.
- 1,2% seria uma contribuição se a versão inicial da reforma tributária fosse mantida.
- 1,8% é uma nova previsão, depois de mudanças aprovadas na Câmara.
Pobres e ricos. O IBGE divide as classes brasileiras em 10 faixas. As famílias mais pobres mencionadas pelo Banco Mundial são os primeiros da faixa, com rendimento médio de R$ 210 por pessoa. As mais ricas são as da última faixa, que recebe em média R$ 7.580 por pessoa.
Entenda: a queda mais modesta nos impostos ocorre porque a Câmara aumentou o número de produtos da cesta básica na regulamentação da reforma. Ela tem alimentos com imposto zero ou limitado.
Antes, com uma cesta básica mais restrita, havia mais espaço para a devolução de parte dos tributos aos mais pobres no mecanismo de “cashback”. Isso garantiria menos arrecadação vinda dos mais pobres.
↳ Quando há muitos produtos com alíquota zero, não há imposto a ser devolvido e o valor do “cashback” fica menor.
- O cashback: o governo devolverá parte de impostos sobre alimentos, gás e serviços de água e esgoto para famílias de baixa renda a partir de 2027.
Mais imposto. A ampliação da cesta básica teve outro efeito. Ela criou a necessidade de um imposto maior sobre todos os produtos que ficam de fora dela, como uma compensação.
Cálculos feitos pela Folha alega que a decisão vai exigir um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) superior a 27%, o que torna impraticável a trabalho de 26,5% criada pelos deputados.
- O IVA surgirá a partir da transferência dos cinco impostos atuais cobrados sobre as empresas, numa transição de 2026 para 2032.
O percentual é considerado elevadorecuperando os benefícios da reforma.
Mais igualdade. Apesar do efeito menor, o novo sistema tributário ainda beneficia os mais pobres. Não atual, os bens industrializados costumam ser mais tributados que os serviços. Isso deve ser equalizado depois da transição para o IVA.
Por que é importante: gastos com bens ocupam uma fatia maior da renda dos mais pobres dos serviços. Por exemplo: alimentos, roupas, eletrodomésticos.
Nas classes altas, o cenário é o oposto. Serviços como educação e saúde privada, turismo e cuidados com beleza ocupam uma fatia maior do orçamento.
Além disso… O Banco Mundial prevê que o novo sistema faça com que os mais ricos também paguem mais.
↳ Hoje, a contribuição dos mais ricos é de 32,9% de toda a arrecadação. Com a reforma, subirá para 35%.
Mais etapas pela frente. As diretrizes gerais da nova tributação foram aprovadas em 2023, e os detalhes, definidos pela Câmara na última semana. Agora, começa a votação no Senado.
O governo Lula (PT) adeus por 40 dias um acordo com a Âmbar Energia, empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
↳ Ele entrou em vigor no dia 22 de julho, mas tem sido alvo de questionamentos no TCU (Tribunal de Contas da União).
A decisão foi tomada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a pedido da Advocacia Geral da União. Com a suspensão, Silveira ganha tempo para que o TCU discute o mérito do acordo.
Entendimento: O acordo feito entre Âmbar e o governo prevê que os irmãos Batista poderão manter um contrato de fornecimento de energia a partir de termelétricas firmado ainda no governo Bolsonaro.
A empresa descumpriu os prazos para a construção de duas usinas durante a crise hídrica de 2021.
O acordo. O governo Lula topou a proposta de Âmbar e vai pagar pelas usinas, agora já finalizada. Sem isso, a companhia ficaria com o prejuízo.
↳ Em vez de pagar R$ 18,7 bilhões em 44 meses, o governo pagará R$ 9,5 bilhões em 88 meses. O desconto é de 67%.
↳ O grupo propôs ainda uma multa de R$ 1,1 bilhão.
Os setores do TCU, no entanto, apontam que o acerto não é o mais vantajoso para a União.
Vale ou não vale? O ministro Silveira destacou que uma exclusão do acordo, como pede o Ministério Público, deverá impactar também acordos semelhantes, firmados com empresas como o banco BTG e a turca KPS. As duas também descumpriram prazos.
Amigos? O certo com a Âmbar foi questionado pelo Ministério Público ao TCU por, realizado, favorecer a empresa controlada pelos irmãos Batista, um dos alvos da Operação Lava Jato.
Outro caso. A relação do governo com os irmãos também sofreu críticas após uma medida provisória mudando as regras de energia no estado do Amazonasbeneficiando a Âmbar.
SmartFit fica maior
A rede de academias Smart Fit anunciou a compra da Velocity, rede especializada em exercícios com bicicletas. O valor da transação pode chegar a R$ 183 milhões.
↳ Um Velocidade tem 82 unidades focadas em fiação e é forte no estado de São Paulo. A receita anual é de R$ 35,6 milhões, com lucro de R$ 10 milhões.
Parte da estratégia. Dona de academias de musculação, a Smart Fit investiu recentemente em espaços menores, conhecidos como estúdios. Eles têm atividades de yoga, boxe e treinos de alta intensidade. A ideia é complementar o modelo com a compra da Velocity.
O crescimento da companhia com aquisições de redes menores nos últimos anos é acompanhado pela chegada de novos clientes —o aumento foi de 9% no primeiro trimestre.
↳ A Smart Fit também é dona das marcas TotalPass, BioRitmo e O2.
↳ A rede venceu a categoria melhor academia da capital no ranking “O Melhor de São Paulo”, feito pelo DataFolha.
Setor em alta. O mercado fitness cresce num ritmo de 9,5% ao ano no Brasil, segundo a Credence Research. O faturamento de todo o segmento em 2024 deve ser de US$ 50 bilhões (R$ 271 bilhões).
A avaliação do mercado. Segundo o banco Goldman Sachs, a aquisição faz sentido porque o Smart Fit poderá fortalecer seus negócios além das academias. O banco reiterou a compra das ações da companhia.
Também destacou que a qualidade da Velocity —com “capilaridade” e “experiência diferenciada”— para explicar o valor de R$ 183 milhões, correspondente a 18 vezes o lucro anual gerado pela rede de fiação.
Smart Fit em números:
- Receita de R$ 4,2 bilhões em 2023 e lucro de R$ 536 milhões;
- São 1.469 academias, 215 adicionadas ao longo de 2023. Metade está no Brasil e o restante na América Latina;
- São 4,8 milhões de clientes.
Ouro no cofre
Variação das reservas de ouro nos últimos anos (2018 = base 100)
Ter ouro virou tendência entre países nos últimos anos. E nenhum outro como o Brasil aumentou tanto percentualmente a sua reserva em metal precioso desde 2021. É o que mostra os gráficos acima, com dados do World Gold Council. A linha verde, bem acima das outras, mostra o crescimento das nossas reservas.
↳ O Banco Central mais que dobrou o montante acumulado em ouro, após grande compra há três anos.
↳ Hoje são 129,6 toneladas no cofre, o que equivale a US$ 9,2 bilhões (R$ 49,9 bilhões).
Porque? Os principais motivos para a compra de ouro são: proteção contra a inflação e preservação de riqueza, aposta de valorização em crises e diversificação de portfólio, segundo pesquisa do World Gold Council com 70 bancos centrais.
Em países emergentes, nosso caso, outras razões se somam: diminuir risco de calote, proteção contra rupturas políticas e no sistema financeiro, como quebra de bancos.
Brilho mais caro. O aumento brasileiro segue um movimento global depois da crise econômica gerada com a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
↳ Em janeiro de 2020, a medida da onça troy, que equivale mais ou menos a 30 gramas, custou cerca de US$ 1.500 dólares. Hoje, é cotada a US$ 2.465, recorde.
Cofrinho. Apesar das compras recentes, o nosso representa apenas 2,4% de todas as nossas reservas, feitas principalmente de dólares e que somam US$ 355 bilhões. O patamar é baixo em comparação com outros emergentes.
O percentual costuma ser ainda maior em países ricos, mas não é uma regra. O Brasil está na 30ª posição no ranking das maiores reservas em metal precioso