domingo, outubro 6, 2024
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Onda de memes com Haddad desafia comunicação do governo


Na onda de chacotas e memes (imagens de humor) nas redes sociais dos últimos dias que grudaram no ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a imagem de inimigos dos impostos conseguiu alcançar um público que vai muito além dos críticos recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao furar a chamada “bolha de direita” da internet, formada principalmente por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os ataques humorísticos e corrosivos contra Haddad, apelidado de “Taxad”, também expuseram as dificuldades do governo em reagir no meio digital, além de sua conhecida fragilidade de comunicação com o público nas redes sociais.

Para se ter uma ideia da magnitude da “onda Tributada”, ela superou todos os conteúdos publicados nas redes sociais sobre a Copa América, que alcançou 500 milhões de rendimento (visualizações de página na internet). Segundo levantamento feito pelo cientista político Renato Dolci e divulgado pela CNN Brasil, em apenas quatro dias, os memes relacionados à obsessão do governo e do ministro da Fazenda em cobrar impostos registraram mais de 1,2 bilhões de rendimentos. Não por acaso, o aspecto foi muito comentado pela imprensa e pela sociedade, consagrando-se como um fato político a indicar uma percepção de público mais ampla em relação ao governo.

As dificuldades dos governos petistas e da esquerda geral com a comunicação digital vêm de muito tempo, ficando mais evidentes com a agilidade e engajamento muito superiores aos seus adversários de direita.

Os memes que incomodaram muito a gestão Dilma Rousseff estão presentes no atual mandato de Lula, que vem tentando, sem sucesso, se adaptar aos novos tempos, nos quais a interação com o público deve ser impactante e imediata.

Para superar essa defasagem e desvantagens em relação às rivais na política e tentar se defender das ondas, como a sofrida por Haddad, o Palácio do Planalto chegou a encaminhar uma licitação de R$ 197 milhões com quatro agências especializadas em marketing digital, que acabou sendo suspensa por suspeitas de vícios contratuais e suspeitas de favorecimento.

Uma série de mensagens difundidas em postagens nas redes sociais e mensagens de WhatsApp principalmenteam a postura de Haddad em favor da majoração de impostos e em relação ao avanço da regulamentação da reforma tributária.

Em um dos memes, o ministro é comparado ao saudoso diretor de cinema e ator paulista de filmes de terror, José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Como “Zé do Taxão” e inúmeras outras sátiras relacionadas na maioria das grandes produções do cinema, o chefe da equipe econômica paga o preço por situações negativas criadas pelo próprio governo e que o deixou mais suscetível a críticas.

A trolagem, uma gíria da internet pra ilustrar gozações, chegou até aos telões da Times Square, em Nova York, nesta quarta-feira (17). Segundo Dolci, as ferramentas de monitoramento de redes sociais identificaram que os primeiros memes de maior relevância surgiram no dia 3 de julho, com o “Zé do Taxão’”. Mas a explosão dos memes ocorreu em 12 de julho, com grande atraso até esta quarta-feira (18). “Foram 11 milhões de menções no X, Instagram e Facebook. A Copa América inteira no Brasil gerou 7 milhões”, afirmou o pesquisador.

Ao menos dois temas em que Lula divergiu publicamente do seu ministro da Fazenda desenvolvido para a torrente digital de piadas contra Haddad: a inclusão de todos os tipos de proteína animal, principalmente a carne vermelha, na cesta básica desonerada, com a qual a equipe econômica Trabalhei contra, a taxação de produtos importados até US$ 50, que foi aprovada com o apoio da Fazenda.

Memes com Haddad circularam muito nas redes sociais

Lula buscou apoio da opinião pública ao se posicionar aparentemente contra a tributação da carne e das chamadas “blusinhas”, mas acabou por expor ainda mais Haddad, que já veio sendo criticado por outras iniciativas externas à cobrança de mais impostos e contra a desoneração previdenciária da folha de pagamento para 17 setores econômicos.

Para completar, veio a viralização dos memes, que se espalharam rapidamente entre vários usuários e conquistaram grande popularidade com seu humor. Embora o conteúdo não seja novidade na política, a velocidade e a forma como se propaga nas redes sociais são um desafio a mais para o governo.

Diante do volume incomum de associações de Haddad ao aumento da carga tributária, o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tato, minimizou as características e disse que a pecha não iria pegar. Nos bastidores, contudo, o governo e o partido de Lula e o ministro se esforçaram para contra-atacar com postagens e insinuações de que tudo foi obra de agências de marketing digital, relativizando o caráter espontâneo das publicações.

Até o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), saiu em defesa de Haddad: “Se pegarmos a carga tributária de 2022 para 2023, ela não aumentou. Pode até dar uma conferida, acho até que caiu”.

Governo tenta contra-atacar também com memes

Em consequência da avalanche de memes ligando o aumento de impostos a Hadad, o Ministério da Fazenda publicou nesta quarta-feira (17) uma série de memes do filme “Divertida Mente 2” para defender avanços da reforma tributária. Na postagem, a pasta exalta como avanços da regulamentação aprovada na Câmara na semana passada e os associando ao governo.

“Um mix de emoções que envolveu todos os brasileiros com a grande conquista da Reforma Tributária após 40 anos. O Brasil agora terá um sistema tributário simples e justo”, descreve o texto da postagem, direcionando os leitores para a página do governo com informações sobre a reforma.

A postagem usa emoções como nojinho, alegria, ansiedade e vergonha para contextualizar a trajetória para aprovação da medida e conclui afirmando que duas novas emoções foram ativadas: esperança e confiança.

A postagem da Fazenda ocorre quase um mês após o Banco Central (BC) também empregar memes de “Divertida Mente 2” nas redes sociais. Numa publicação de 25 de junho, o BC destacouva a importância do compromisso com os gastos públicos, apresentando nova emoção entre os personagens chamada “vontade de gastar sem poder”.

Na última sexta-feira (12), durante evento em São Paulo, Haddad creditou a má avaliação de parte da população sobre a economia brasileira à desinformação na internet.

“Temos uma oposição que realmente atua para minar a substituição das instituições e dos dados oficiais do Estado brasileiro, e eles atuam diuturnamente nas redes sociais”, disse ele durante o painel do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo (Abraji). Nos bastidores, o ministro tem se posicionado como um dos maiores defensores da regulação das redes sociais.

Noutra frente, Lula tenta emplacar desde sua posse em janeiro de 2023 um projeto de lei para regular as plataformas digitais. O texto do chamado “PL da Censura”, que tem apoio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ficou perto de ir à votação no plenário da Câmara, mas acabou sendo retirado da pauta diante da grande eleição das bancadas conservadoras, principalmente a evangélica, e de má repercussão na sociedade. Um grupo de trabalho foi criado pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), para tentar modificar o projeto até encontrar uma publicação de consenso, mas sem nenhuma perspectiva de avanço.

Nesta semana, em entrevista à TV Record, Lula também voltou a falar em regulação das redes sociais.

“Possivelmente esta semana você terá uma reunião com o meu ministro da Justiça para a gente discutir um sorteio de discutir com o Congresso Nacional, se a gente retoma aquele projeto que estava, se a gente vai apresentar uma outra proposta, se o Congresso vai apresentar uma proposta […] O dado concreto é que as pessoas não podem perder de vista a necessidade de fazer regulação”, afirmou o presidente.



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