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Crise econômica levou Bolsa a fechar no século 19 – 21/07/2024 – Mercado


Tendo se consolidado nos últimos anos como a principal plataforma de negociação de ações do Brasil, a Bolsa de Valores brasileira, uma B3, que deve ganhar um concorrente no Rio de Janeironão teve um começo fácil.

O primeiro projeto que viria a evoluir futuramente para a Bolsa como os atuais surgiu no final do século 19, em 1890, quando Emílio Rangel Pestana reuniu negociadores autônomos de títulos para fundar a então Bolsa Livre de São Paulo.

Pouco mais de um ano depois, contudo, em 1891, a Bolsa teve de fechar as portas, na esteira de uma crise econômica que ficou conhecida como a Crise do Encilhamento. O termo foi emprestado das corridas de cavalos, em referência ao clima de balbúrdia em meio às apostas nos vencedores.

Segundo Fábio Correa, pesquisador de história econômica, o Encilhamento foi resultado de um doloroso processo de transição entre a Monarquia e a República.

O historiador recorda que Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda da República durante o governo provisório de Marechal Deodoro da Fonseca, planejou na época uma política de estímulo à industrialização da economia brasileira, que era baseada até então na agricultura.

Barbosa inverteu completamente a política econômica do Império, sancionando em 1890 a Lei das Sociedades Anônimas, que facilitou a criação de uma série de novas empresas.

“Rui Barbosa fez uma política econômica muito heterodoxa, quase como se fosse o equivalente a uma espécie de Plano Cruzado”, diz Gustavo Franco, ex-presidente do BC (Banco Central) e sócio da Rio Bravo Investimentos.

Também foram adotadas medidas que buscavam aumentar o dinheiro na circulação no país para fazer frente à massa de assalariados que se avolumavam na esteira do fim da escravidão e da chegada de imigrantes, concedendo aos bancos a prerrogativa de imprimir e colocar dinheiro em circulação no mercado.

“A revolução republicana, junto com a entrada de imigrantes e de capital estrangeiro, dava a sensação de um novo Brasil, de um Brasil modernizado”, afirma.

Correa diz ainda que o estímulo econômico a qualquer custo proposto pelo governo criou as condições para que especuladores atuassem livremente no mercado, com uma série de companhias buscando a listagem na recém-criada Bolsa de São Paulo, sem que tivessem as condições mínimas para expandir as operações e remunerar os acionistas.

“Surgiram gatunos de toda espécie, com a listagem de empresas sabidamente fictícias somente para levantar os recursos dos investidores e que, logo depois, declararam a falência”, afirma o historiador.

Seguiu-se à inundação de empresas na Bolsa um processo inflacionário que acometeu o país como resultado da política de estímulos à emissão monetária, acompanhada de uma desvalorização cambial.

O cenário internacional, diz Franco, também contribuiu para a situação econômica adversária no país, com dificuldades financeiras do banco inglês Baring trazendo fortes impactos para a Argentina e contagiando os vizinhos da região, com uma consequente redução do fluxo de capital estrangeiro abundante nos anos anteriores .

“Em menos de três anos de vida, a República já tinha tido uma bolha especulativa que furou, uma crise bancária, uma maxidesvalorização, coisas muito contemporâneas”, afirma o ex-BC. “A crise foi reflexo das dores das mudanças.”

Alguns anos depois, em 1895, foi inaugurada a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, em que os corretores eram nomeados pelo governo, que era o responsável por disciplinar as funções dos participantes do mercado, trazendo maior estabilidade às operações. Em 1935, ela passa a se chamar Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, e, em 1966, recebe a denominação de Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).



FOLHA DE SÃO PAULO

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