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Os chips são uma nova arma de controle geopolítico? – 21/07/2024 -Ronaldo Lemos


Muito interessante acompanhar o debate sobre chips “controláveis” nos Estados Unidos. A tese é a seguinte. A inteligência artificial tornou-se centro da disputa geopolítica entre os países. Quem domina a IA domina praticamente tudo o que é importante para garantir a hegemonia: economia, recursos militares, influência política etc.

A base para a inteligência artificial são os chips. Quem tem acesso a chips de última geração, mais rápidos e eficientes, tem a melhor inteligência artificial. Quem não tem medo de ficar para trás. Nos últimos meses tem havido uma intensa movimentação para controlando o acesso aos chips.

Por exemplo, no debate com a China, os EUA estabeleceram restrições severas no acesso a chips de última geração e tecnologias às quais é permitido para sua fabricação (software, equipamentos etc.).

Há agora uma nova proposta na mesa sobre como ampliar ainda mais essas restrições: os chips controláveis ​​(“chips governáveis”). Seus proponentes defendem que os chips de última geração da inteligência artificial devem ser fabricados com instruções gravadas no próprio hardware que permitem controlar seu uso.

Por exemplo, um chip poderia sair de fábrica com uma limitação quanto ao número de processamentos que pode fazer. Sempre que o número for atingido, é necessário obter uma nova “licença” do fabricante para que o chip continue funcionando. Nesse processo de renovação é preciso dizer como, onde e para quais especificamente os chips estão sendo usados.

Isso evita, por exemplo, que chips comprados em um país possam ser exportados para outro que sofra restrições. Em caso de qualquer desconformidade, a empresa pode simplesmente negar a licença, paralisando o chip e tornando-o inútil.

Mecanismos semelhantes já existem. Por exemplo, em iPhones, instruções codificadas em chips impedem a instalação de certos aplicativos. O Google usa mecanismos de monitoramento remoto em seus chips para verificar remotamente a possibilidade de ciberataques. E quem joga videogame está familiarizado com chips que impedem pirataria ou armadilha dentro do jogo.

Só que não há nada tão radical como a ideia dos chips “controláveis”. Nada desse tipo foi colocado na prática até agora. Os críticos dessa iniciativa acham que os resultados podem ser desastrosos.

Primeiro porque pode gerar uma crise de desconfiança bem na raiz da infraestrutura da vida contemporânea. Se um país começa a fazer algo assim, nada impede que outros também o façam. Como os chips estão em toda parte, seja em veículos, aviões e até nos marcapassos, imagine que alguém à distância pode fazer esses aparelhos pararem de funcionar desativando seus chips é um cenário de pesadelo.

Outro problema é o aumento de custos. Implementar esse sistema não é barato. Esse é um tipo de inovação que é favorável ao interesse do consumidor. Seria necessário pagar mais caro por um produto pior, que em vez de fazer mais, faz menos. É como se os chips passassem a vir com um defeito de fábrica, que em tese só beneficia os interesses do ator geopolítico que controla essa restrição, e prejudica todo o restante da cadeia, até o consumidor.

Uma estratégia semelhante foi tentada em relação aos DVDs. Para evitar que os filmes sejam pirateados, foi criada uma proteção que impede que os DVDs sejam executados em aparelhos que não sejam certificados. O resultado foi o surgimento de toda uma indústria de fabricantes de aparelhos piratas, livres de qualquer restrição. O feitiço virou contra o feiticeiro.

Já era – achar que a questão da inteligência artificial é apenas em relação aos seus serviços

Já é – perceber que a questão da infraestrutura da IA ​​é tão ou mais importante que a segurança dos seus serviços

Já vem – oportunidades do Brasil de atuar com relação à infraestrutura de IA, especialmente em energia renovável


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FOLHA DE SÃO PAULO

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