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Anta Gorda: doença de Newcastle muda rotina no município – 25/07/2024 – Mercado


O frango é assunto nas rodas de conversa em um município gaúcho que carrega outro animal sem nome: Anta Gorda, a 186 km de Porto Alegre.

Uma cidade de 5.957 habitantes virou notícia na semana passada devido à confirmação de um foco da doença de Newcastle em um aviário comercial. Trata-se do primeiro caso registrado no Brasil desde 2006.

Uma infecção suspender de maneira preventiva parte das exportações de frango do país e assustou a população anta-gordense, cuja renda depende em boa medida da agropecuária.

Para evitar a propagação do vírus na região, as autoridades reforçaram medidas protetivas nos últimos dias, incluindo a instalação de barreiras sanitárias.

Em um desses pontos, montado em uma estrada de terra no interior de Anta Gorda, um fiscal agropecuário e policiais militares paravam carros e caminhões na manhã ensolarada desta quinta-feira (25). Os veículos receberam jatos de água com produto desinfetante.

Até o momento, nenhum outro foco da doença foi confirmado na região. Isso, no entanto, não eliminou o medo gerado pela situação.

“O povo não entende. Teve uma festa de comunidade [no fim de semana], e sobrou mais da metade do frango na churrasqueira. Pessoal não comeu. Achou que o frango estava todo doente”, lamentou o avicultor Jian Sordi, 30 anos.

Ele trabalha na criação de 80 mil aves de corte em uma propriedade familiar no interior de Anta Gorda. De acordo com Sordi, a fiscalização e os cuidados sanitários aumentados após o registro do foco no município.

“Deu uma freada na cidade. Todo o mundo ficou preocupado por causa dos bichos”, diz o massagista Claudiocir Paulo da Silva, 45, que também mora em Anta Gorda.

Silva afirma que, como novos casos da doença foram descartados até o momento, o cenário local “deu uma tranquilizada” nos últimos dias.

Anta Gorda fica no Vale do Taquari, região gaúcha com áreas destruídas por enchentes em maio. No município, o principal impacto das fortes chuvas foi a penetração da terra, segundo moradores locais. Ainda é possível observar estratos na vegetação em morros no interior e ao longo de uma rodovia que dá acesso à cidade.

A origem do nome do município

A origem do nome Anta Gorda remete à presença na região de animais do tipo que, no passado, eram alvos de caçadores. A existência de matas densas entre rios teria facilitado a residência dos bichos.

“Sabe-se que, devido a essas condições naturais desenvolvidas, uma área era muito rica em espécies vegetais e animais, em especial as antas. Conta-se que, certa vez, foi abatida nas cercanias uma anta de grandes proporções”, diz o texto publicado no site da Prefeitura de Anta Gorda.

No centro do município, que carrega traços da imigração italiana, há um monumento em homenagem ao animal. A estátua fica em uma praça.

140 aves por pessoa no município

Em 2022, Anta Gorda tinha quase 837,9 mil galináceos, de acordo com a PPM (Pesquisa da Pecuária Municipal), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A categoria inclui os frangos de corte.

Em uma situação hipotética, se o rebanho local fosse dividido igualmente pela população (5.957 pessoas), cada habitante ficaria com aproximadamente 140 aves.

O plantio registrado em Anta Gorda, no entanto, não foi dos maiores se comparado ao de outros municípios gaúchos. Aparecia na 71ª posição do ranking estadual.

No Rio Grande do Sul, a cidade com o maior rebanho de galináceos, em 2022, foi Nova Bréscia, também no Vale do Taquari: 5,3 milhões de cabeças. O município paranaense de Cascavel tinha o número mais elevado do Brasil (21,1 milhões).

Uma doença

A doença de Newcastle (DNC) é uma enfermidade viral que atinge aves domésticas e silvestres, provocando sinais perigosos, frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema da cabeça nos animais. O andar cambaleante se torna comum, assim como a redução do consumo de água e alimentos.

Na quarta (24), duas novas investigações de suspeitas na zona de proteção contra a doença tiveram resultados negativos para o vírus, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária.

“Os resultados negativos reforçam que o foco confirmado se trata de um evento sanitário isolado e que não há sinais de propagação no entorno da granja comercial onde o vírus foi identificado”, disse o ministro Carlos Fávaro, titular da pasta.

Na propriedade de Anta Gorda onde ocorreu o registro, foram realizados o sacrifício sanitário e o enterro dos animais, além do início do processo de limpeza e desinfecção do local, segundo o ministério.

“A população não deve se preocupar e pode continuar consumindo carne de frango e ovos, inclusive da própria região afetada”, declarou a pasta. O ministério afirmou que o consumo de produtos avícolas operados pelo SVO (Serviço Veterinário Oficial) permanece seguro e sem contraindicações.

A pasta impediu a área de emergência zoossanitária para contenção da doença de Newcastle, limitando-a a cinco municípios no raio de dez quilômetros a partir do foco confirmado (Anta Gorda, Doutor Ricardo, Putinga, Ilópolis e Relvado).

Inicialmente, o ministério havia publicado, em 18 de julho, uma portaria colocando todo o Rio Grande do Sul nessa condição.

“O estado de emergência tem duração de 90 dias, podendo ser prorrogado em caso de evolução do estado epidemiológico”, afirmou a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul.

“Durante sua vigência, há o isolamento sanitário da área afetada, com a restrição da movimentação de material de risco relacionado à propagação da doença, incluindo o direcionamento de trânsito por vias públicas para infecção, ou mesmo o bloqueio de acessos”, completou.



FOLHA DE SÃO PAULO

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