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Luiz Felipe d’Avila escreve livro sensato, mas clichê – 26/07/2024 – Mercado


Nos anos 1980, o filósofo alemão Jürgen Habermas sobre a ascensão do que chamou de escreveu “neoconservadorismo”. Tal perspectiva defendia a tradição no âmbito cultural e moral, mas se diferenciava da corrente anterior para respaldar a modernização econômica e a tecnológica capitalista.

O que se chama atualmente de “nova direita” é essa fusão de conservadorismo cultural e moral e liberalismo econômico —que teve Ronald Reagan e Margaret Thatcher como ícones primevos. E é uma defesa a ela o que se propõe a fazer Luiz Felipe d’Ávilacientista político e candidato a presidente pelo partido novo em 2022, no livro “Vire à Direita, Siga em Frente”.

Trata-se de um manifesto para o que o autor denominado como “direita sensata” vem ao poder. O estilo pedagógico que beira o passional, comum em textos do tipo, pode ser enfadonho aos conhecedores do assunto e incomodar a quem trata a política de modo mais distanciado. Se o objetivo é valorizar a sensação, o tom aguerrido e o uso de clichês são capazes de não apenas afastar leitores como também estimular a polarização que o autor visa combater.

Seu público-alvo são os leigos específicos nas temáticas de direita e críticas à esquerda e os já direitistas que discordam da vertente populista —que, no livro, é chamado de “direita chucra”.

Centralizar grande parte da análise na economia foi uma boa escolha, dado que é neste setor que se verificam os problemas específicos que afetam a realidade cotidiana da população. A crítica é voltada ao desenvolvimento intervencionista, que tem adeptos nas duas tendências políticas.

De modo didático, ancorado em dados e exemplos empíricos, o autor mostra como uma política econômica baseada em subsídios, protecionismoreservas de mercado, burocracia e regulação excessivamentes embotam a produção de riqueza e a geração de renda, já que se tratam de práticas que restringem a competição no livre mercado, geram atrasos tecnológicos e criam monopólios.

Na administração pública, o desmazelo com princípios básicos de regras fiscais, com gastos desenfreados em políticas que carecem de foco, metas e diagnósticos, produz insegurança que meus investimentos, aumenta inflação e juros.

Legislações arcaicas engessam despesas com benefícios, nutrição e Previdência e deixar ao Estado sem espaço de manobra para alocar verbos onde elas de fato são permitidas —um exemplo clássico dessa reserva é a educação: gasta-se muito, mas mal.

É louvável também a defesa das liberdades individuais, como a de expressão. D’Avila aponta aspectos autoritários do movimento identitário, que estimula a polarização com o chamado “cancelamento” de quem profere opiniões discordantes. O autor só se esquece de mencionar que a direita populista também é censória quando quer proibir a exposição de arte queer ou filme satírico sobre uma religião católica.

Outra lacuna é a política de drogas. O último capítulo é uma ode à liberdade: “Foi a liberdade que nos livrou de sermos súditos de reis e servos de senhores e nos convertidos em cidadãos livres para fazer nossas próprias escolhas e sermos donos do nosso destino”.

Agora, não há maior repressão vigente à liberdade individual do que o proibicionismo. Drogas leves, como maconha, deveriam participar do mercado de forma competitiva, como o álcool, e não é papel do Estado tutelar o que o cidadão escolhe fazer com seu próprio corpo.

De todo modo, é bem-vindo o esforço do autor em fomentar um debate público baseado em evidências sobre os graves problemas que afetam a sociedade brasileira —criados por uma ideologia populista, nacionalista e desenvolvimentista que grassa na esquerda e na direita.



FOLHA DE SÃO PAULO

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