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Como os ricos gerenciam suas fortunas: desmistificando os family offices – 29/07/2024 – De Grão em Grão


Atualmente, é comum que investidores com elevados patrimônios digam que seus recursos estão em um Family Office. Mas, o que é essa instituição e como ela se diferencia dos bancos? Para explicar isso, conversei com Bruno Poles, um analista experiente de investimentos que desde 2021 presta serviços de consultoria para family offices.

Com uma carreira sólida no mercado financeiro, incluindo passagens por gestores renomados, Bruno traz uma visão profunda sobre as particularidades desse modelo de gestão patrimonial. Bruno, que é bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e candidato ao CFA Nível III, oferece insights importantes sobre as diferenças entre family offices e bancos, destacando como os primeiros revelaram uma plataforma aberta que vai além dos investimentos financeiros, incluindo aspectos como planejamento sucessório , governança familiar e assessoria jurídica.

Ele também abordou os custos e a previsão dos serviços, revelando que, no Brasil, family offices geralmente atendem famílias com patrimônio acima de R$ 100 milhões.

Ao longo da entrevista, Bruno discute as atividades e a estrutura de um family office, os tipos de investimento preferidos por essas entidades e os desafios comuns enfrentados, como sucessão e conflitos geracionais.

Sua expertise destaca a importância de uma gestão patrimonial bem estruturada para garantir a longevidade do capital familiar e a importância crescente dos family offices no cenário financeiro global.

Prepare-se para uma leitura que não apenas esclarece a complexidade desses serviços, mas também instiga a curiosidade sobre como grandes fortunas são geridas de maneira estratégica e confidencial.

Family office versus investimentos em bancos: quais são as principais diferenças?

Family Office é um escritório/entidade que centraliza serviços para uma família com a intenção de preservação e perpetuidade de seu capital. Em um banco ou assessoria de investimentos, o cliente costuma receber oferta de produtos ligados ao banco/assessoria que o atende, e o foco tende a se concentrar no portfólio de investimentos. Já em um family office, é comum que o cliente trabalhe em uma “plataforma aberta” com diferentes custódias e relacionamentos bancários, tendo uma oferta de produtos que abrange não apenas investimentos, mas também vários outros temas não financeiros que envolvem o dia a dia da família. Multi-family office (MFO) é um escritório que atende várias famílias, enquanto o single-family office (SFO) atenderá uma única família. São empresas que prezam pela discrição e confidencialidade. Segundo a Preqin, em 2023 havia pouco mais de 4.500 family offices no mundo, número que triplicava desde 2019.

O que faz um family office e quais são suas principais atividades?

Os family offices têm natureza heterogênea, ou seja, cada organização tem uma estrutura com características únicas. De maneira geral, os serviços incluem gestão de investimentos, planejamento financeiro e tributário, concierge, planejamento sucessório, governança familiar, gestão de conflitos, controle de orçamento e despesas, assessoria jurídica, orientações estratégicas e aconselhamento educacional. Iniciativas de impacto, filantropia e ESG são temas que cada vez mais ganham relevância entre as famílias investidoras.

Quanto custa e a partir de qual montante vale a pena buscar os serviços de um family office?

De acordo com o UBS Global Family Office Report 2024, o custo anual médio de operação de um single-family office está na faixa de 0,35% a 0,43% do montante sob gestão. Quanto maior a escala e o patrimônio, menor tende a ser o custo percentual. Entre as principais linhas de custo incluídas nestes percentuais estão: pessoal, compliance, infraestrutura física, tecnologia da informação e pesquisa. No Brasil, é comum encontrar IMFs que atendem famílias com patrimônio acima de R$ 10 milhões. No caso dos SFOs, as famílias geralmente possuem patrimônio mínimo de R$ 100 a 250 milhões.

Quem trabalha na estrutura de um family office?

Family offices possuem diferentes áreas especializadas para suas necessidades. Equipes de investimentos, fiscais, tributários, jurídicos e administrativos são comuns. Há casos em que uma família opera um negócio familiar através de uma holding e, portanto, possui uma estrutura organizacional semelhante a de uma empresa, com departamentos financeiros, recursos humanos, logística e operações, marketing e vendas, etc. O family office está separado da estrutura organizacional que gera o negócio familiar. Há family offices que contam com uma equipe externa e independente de diretores e conselheiros que auxiliam em diretrizes estratégicas de investimentos e/ou negócios, situação semelhante às grandes companhias que possuem conselheiros independentes.

Você não investe em um family office?

Dado o horizonte perpétuo/geracional/de longo prazo, os family offices recebem o prêmio de iliquidez e alocar parte relevante de seu patrimônio em investimentos alternativos, como private equity, venture capital e imobiliário. Esses investimentos podem ser feitos por meio de investidores e fundos ou em ativos diretos (os chamados coinvestimentos/negócios diretos). Muitas famílias optam pelos coinvestimentos para poder negociar menores taxas e para terem mais controle sobre os ativos investidos. Uma vantagem dos family offices é poder agregar verificações de diferentes indivíduos e famílias para atingir os valores mínimos exigidos pelos gestores. No entanto, os family offices também investem em classes de ativos tradicionais, como renda variável, renda fixa e crédito. Tudo depende do perfil de risco e objetivos da família, bem como da opinião no desempenho futuro e do papel de cada classe de ativo em um portfólio. Dado que cada investidor ou membro da família possui um mandato único, cabe à equipe de investimentos se relacionar com os diversos stakeholders do mercado para poder apresentar as oportunidades de investimento específicas.

Quais são os desafios comuns que um family office enfrenta?

Alguns dos desafios compartilhados entre family offices incluem sucessão, governança, educação financeira, adoção de sistemas de tecnologia da informação, conflitos geracionais, assuntos que se misturam entre a operação da holding versus investimentos, gestão de ativos ilíquidos, riscos cibernéticos, entre outros. A lista pode ser bastante extensa, dada a especificidade de cada história e negócio familiar. Segundo a Pesquisa Global de Empresas Familiares da PwC, apenas 36% das empresas familiares sobreviveram à sua segunda geração – este dado reforça a necessidade de uma governança sólida, bem como de um processo sucessório bem definido. A indústria de family office tende a crescer no Brasil e no mundo, acompanhando o crescimento de empresas familiares que geram liquidez e que têm interesse em preservar seu capital ao longo do tempo.

Michael Viriato é avaliador de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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FOLHA DE SÃO PAULO

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