O dólar abriu em alta sexta-feira (2), ampliando a desvalorização do real. Na quinta-feira, um divisa fechou a R$ 5.734seu maior valor desde 21 de dezembro de 2021.
Nesta manhã, o dólar manteve sua subida, com valorização de 0,58%, cotado a R$ 5,7696, por volta das 9h06.
Os investidores aguardam dados de emprego dos Estados Unidos em busca de sinais sobre o estado da economia norte-americana.
A disparidade da moeda foi causada pelo aumento das profundas geopolíticas no Oriente Médio e as decisões sobre juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos. Já a Bolsa recuou 0,20%, para 127.395 pontos.
Um dia depois do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamasem Terãa, o governo de Israel anunciado a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado Judeu, em um bombardeio no mês passado.
“O ataque de Israel é muito significativo, porque agora parece haver um aval do líder iraniano para que Terãa faça uma retaliação”, afirma André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.
Para os mercados, a escalada de esforço “tem levado parte dos investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e o dólar”, explica.
Isso se soma à resposta dos investidores à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgado nesta quarta-feira (31) após o fechamento dos mercados.
O AC (Banco Central) optou por manter a taxa básica de juros do país —a Selic— em 10,50% ao ano. No comunicado emitido após a decisão, apresentou um tom mais duro ao enfatizar a necessidade de “maior vigilância” perante as conjunturas domésticas e internacionais, que exigem “acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
Para alguns analistas, no entanto, o fato do Copom não ter sinalizado uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.
O comunicado “não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a interferência das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.
O Boletim Focus desta semana revelou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anteriorsegundo estimativas de analistas consultados pelo BC.
As contribuições vêm na esteira dos últimos dados de inflação calculados pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.
O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 pp para cima e para baixo. Com uma base anual próxima ao teto de 4,50%, a dúvida agora é se o atual patamar da Selic é contracionista o suficiente para levar a inflação de volta ao meta.
O contexto, para Galhardo, da Remessa Online, mostra que “o real não está seguro nem mesmo com o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos”, possibilidade que foi ofuscada diante do balanço de riscos feito pelos investidores.
A tese de que os juros podem cair nos EUA na próxima reunião de política monetária ganhou força ontem, após o Fed mantém taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%.
No comunicado, a autarquia afirmou que os preços agora estão apenas “um pouco elevados”, a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, evolução como “elevada” nos últimos comunicados.
Isso abriu espaço para interpretações de que o ciclo de afrouxamento de juros poderá ter início na reunião marcada para 17 e 18 de setembro, à medida que a inflação continue convergindo para meta de 2%.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o comunicado “não foi explícito” em sinalizações sobre futuras reuniões, mas “abriu muito a possibilidade de um corte em setembro, a partir dos dados monitorados pelo Alimentado“.
“Temos um processo de desinflação acelerado, e, ao mesmo tempo, a percepção de que a própria atividade econômica está desacelerando. Se os juros não caírem em setembro, certamente cairão nas outras duas reuniões do ano”, afirma.
Em coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o comitê “não tomou decisão nenhuma sobre reuniões futuras”. No entanto, acrescentou que, à medida que a autarquia tem ganhado confiança de que as pressões sobre os preços são mais moderadas, “a economia está a aproximar-se do ponto em que reduzirá as nossas taxas de juros”.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, dada como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco para atrair os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de Tesouros.
Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário. No entanto, nesta sessão, as incertezas externas e domésticas minaram o otimismo dos investidores.
Com Reuters