quinta-feira, outubro 10, 2024
InícioECONOMIADiversificação em tempos de juros elevados: uma reflexão necessária para investidores brasileiros...

Diversificação em tempos de juros elevados: uma reflexão necessária para investidores brasileiros – 02/08/2024 – De Grão em Grão


Diversificação é uma palavra de ordem no mundo dos investimentos. A nossa teoria diz que, ao distribuir nosso capital entre diferentes classes de ativos, podemos melhorar o balanço de retorno por risco, potencialmente até aumentando o retorno. Mas será que essa lógica se mantém quando as taxas de juros estiverem nas alturas, como é o caso do Brasil? Para explorar essa questão, realizamos uma simulação de investimento com uma carteira diversificada em dez ativos diferentes ao longo dos últimos 17 anos.

Os ativos escolhidos foram: CDI, renda fixa prefixada (IRFM), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB-5), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB), renda fixa referenciada ao IPCA (IMAB5+), renda fixa americana (Tesouro 7- 10y com dólar), índice de fundos multimercados, índice de fundos imobiliários, Ibovespa e Bolsa Global (MSCI ACWI com dólar).

A simulação foi uma carteira dividida em 40% em ativos de risco e 60% em renda fixa. Nesta carteira, 20% foram alocados em investidores internacionais que possuem exposição ao dólar. Portanto, 20% da carteira estava como se costuma dizer “dolarizada”, ou seja, em “moeda forte”.

Avaliando isoladamente, pode-se afirmar que o retorno foi interessante. O resultado acumulado dessa carteira foi de 514% nos últimos 17 anos. Isso equivale a 145,2% do retorno do CDI no mesmo período. Esta rentabilidade foi obtida com uma volatilidade de apenas 6% ao ano. A volatilidade é a medida de risco utilizada no mercado financeiro para expressar a dispersão dos retornos em torno da média. Como comparação, a volatilidade do Ibovespa é de 22% ao ano.

Entretanto, o resultado fica menos atraente quando comparamos com um ativo no Brasil de fácil aplicação. O IMAB-5 representa a média dos títulos públicos referenciados ao IPCA de menos de 5 anos de vencimento. Você pode aplicar nele por meio de fundos que o replicam ou pode apenas investir de forma dividida em CDBs de menos de 5 anos de vencimento.

No mesmo período de análise, o IMAB-5 se valorizou 519% com uma volatilidade de apenas 4,3% ao ano. Portanto, não só um retorno maior, mas também um risco menor. Portanto, o Sharpe, ou seja, o índice que mede o retorno por unidade de risco do IMAB-5, comparado à carteira diversificada acima, foi muito melhor.

Abaixo, apresento uma tabela com os retornos anuais da carteira diversificada e do IMAB-5 desde 2008.






















Carteiras exclusivas IMAB-5 CDI
2024 5,5% 4,0% 6,0%
2023 13,4% 12,1% 13,0%
2022 1,7% 9,8% 12,4%
2021 1,8% 4,6% 4,4%
2020 11,9% 8,0% 2,8%
2019 20,7% 13,2% 6,0%
2018 10,8% 9,9% 6,4%
2017 15,2% 12,6% 9,9%
2016 17,1% 15,5% 14,0%
2015 15,3% 15,5% 13,2%
2014 10,8% 11,6% 10,8%
2013 1,4% 2,8% 8,1%
2012 19,8% 17,0% 8,4%
2011 11,5% 15,7% 11,6%
2010 10,7% 13,0% 9,8%
2009 16,8% 15,0% 9,9%
2008 9,6% 13,8% 12,4%
2007 6,0% 4,3% 3,3%

Essa comparação nos leva a uma reflexão crucial: diversificar realmente compensa em um cenário de juros altos? Os resultados mostram que, mesmo com uma carteira diversificada, o retorno foi inferior ao investimento em um único instrumento de renda fixa. Isso desafia a noção comum de que correr riscos significa retorno e de que todos devem diversificar não importando o cenário.

O gráfico abaixo apresenta a evolução de um investimento de R$ 100 mil em 2007 na carteira diversificada e no IMAB-5.

Quando as taxas de juros são elevadas, os investimentos de renda fixa tendem a oferecer retornos atrativos com baixo risco.

No Brasil, historicamente, as taxas de juros têm sido significativamente altas, proporcionando retornos consideráveis ​​para investimentos como os títulos referenciados ao IPCA.

Nesse contexto, a diversificação em ativos de risco não resulta necessariamente em melhores retornos ajustados ao risco. Além disso, a volatilidade dos ativos de risco, como ações e fundos imobiliários, pode diluir os ganhos proporcionados pelos investimentos de renda fixa. Isso é particularmente relevante em períodos de incerteza econômica, onde a segurança dos retornos fixos se torna ainda mais valiosa.

O investidor precisa entender que assumir mais risco não garante retornos superiores. A análise dos dados históricos mostra que, em um ambiente de juros altos, a diversificação pode não oferecer os benefícios esperados. Em vez disso, uma estratégia focada em ativos de renda fixa pode ser mais eficaz para proteger e aumentar o patrimônio. Portanto, antes de diversificar, é essencial avaliar o cenário econômico e as características dos ativos disponíveis. Em tempos de juros elevados, a renda fixa pode ser a estrela da carteira, proporcionando segurança e retornos atrativos sem a necessidade de riscos adicionais.

A diversificação é uma estratégia poderosa, mas não é uma solução universal. Em cenários de juros altos, como o do Brasil, é fundamental reavaliar a alocação de ativos e considerar a predominância da renda fixa. Entender que o risco não é sinônimo de retorno é crucial para tomar decisões de investimento mais informadas e alinhadas com os objetivos financeiros de longo prazo.

Michael Viriato é avaliador de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Fale direto comigo no e-mail.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Aprenda as lições de investimentos no Instagram.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.





FOLHA DE SÃO PAULO

ARTIGOS RELACIONADOS
- Advertisment -

Mais popular