quinta-feira, outubro 10, 2024
InícioECONOMIAEsportes: Podemos torcer para uma garota levar um tombo? - 08/02/2024...

Esportes: Podemos torcer para uma garota levar um tombo? – 08/02/2024 – Débora Bizarria


Uma controvérsia recente envolvendo o influenciador Fred e o skatista Rayssa Leal durante como Olimpíadas de Paris trouxe à tona uma discussão sobre rivalidade e ética no esporte. Fred postou um vídeo no Instagram simulando o colapso das adversárias de Rayssa, comemorando sua medalha de bronze com a legenda: “A Rayssa fez a parte dela e eu fiz a minha! O bronze é nosso! Amanhã tem patim masculino e já to com o peteleco pronto novamente”.

A realidade foi polarizada. Ó skatista Felipe Gustavo criticou Fred, argumentando que o skate é uma comunidade baseada no apoio mútuo e que torcer contra os adversários é inapropriado. Por outro lado, muitos torcedores apoiam Fred, argumentando que a rivalidade é uma parte essencial do esporte e que torcer contra adversários faz parte da emoção de ser fã.

Durante as Olimpíadas, milhões de pessoas que nunca acompanharam uma modalidade de envolvimento, torcendo por seus preferidos e escolhendo rivais. Essa rivalidade vai além do simples desejo de ver o próprio tempo vencer. Entre os fatores que intensificam esse específico, o conceito de “prazer pelo infortúnio” — expressão alemã para o prazer na desgraça alheia — desempenha um papel central. Por exemplo, há evidências de que quando os torcedores percebem que seu tempo foi tratado injustamente, o prazer com o adversário do oponente aumenta, especialmente se a derrota é vista como uma forma de justiça. No Brasil, essa dinâmica é comum no futebol.

Elementos como valores, localização geográfica, afiliação religiosa e disputas entre favoritos e azarão intensificam a disputa. Torcedores parecem que estão defendendo não apenas um tempo, mas uma identidade. Recentemente, muitos brasileiros torceram para que as japonesas Coco Yoshizawa e Liz Akama caíram durante as manobras, permitindo que Rayssa Leal levasse a medalha de ouro. Parte desse sentimento corre da percepção de que os atletas brasileiros têm menos apoio e infraestrutura, merecendo mais a vitória.

A natureza dos esportes, onde geralmente há vencedores e perdedores, contribui para os sentimentos de tristeza. A vitória do próprio tempo é mais doce quando implica na derrota do rival. Essa dinâmica competitiva se estende aos torcedores, que experimentam vitórias e derrotas com intensidade emocional semelhante aos jogadores.

A derrota de um oponente pode levar a uma sensação de superioridade e aumento da autoestima, especialmente para aqueles com baixa. Consequentemente, a inveja também desempenha um papel crucial. Quando os torcedores sentem inveja do sucesso alheio, a derrota deste é vista como uma forma de justiça ou uma oportunidade de superação, transformando a rivalidade em algo mais emocionalmente carregado.

A schadenfreude pode ocorrer inclusive tanto em competições diretas, quando o time enfrenta o rival, quanto em competições indiretas, quando o oponente é derrotado por outra equipe. A intensidade do prazer pode variar, mas o sentimento de satisfação permanece presente em ambos os cenários. A identificação com um grupo social (o tempo) e a desidentificação com o grupo inimigo intensificam a disputa.

Em um caso recente, dois torcedores do corinthians simularam nadar em direção à torcida do Grêmio e outro simulou chuva durante o empate entre as equipes. A chacota em referência à tragédia no Rio Grande do Sul que vitimou pelo menos 182 pessoas e afetou mais de 2 milhões, não foi bem recebida.

Muitas vezes essa polarização “nós” contra “eles” alimenta emoções fortes e pode servir para explicar comportamentos negativos em relação ao rival. No Brasil, só de 2009 a 2019, ao menos 157 mortes foram registradas envolvendo brigas de torcidas de clubes de futebol. Esse dado nos lembra como é importante promover a rivalidade de forma responsável, buscando mitigar seus aspectos negativos para evitar que a paixão pelo esporte se transforme em violência.

O sentimento de prazer com a derrota alheia é perfeitamente natural e compreensível no contexto esportivo. No entanto, é fundamental considerar os perigos que podem surgir quando esses sentimentos são levados ao extremo, resultando em violência ou referências desrespeitosas a grandes tragédias.

A rivalidade saudável deve ser incentivada, pois ela adiciona emoção e engajamento ao esporte. Promover um ambiente esportivo seguro e respeitoso é crucial para garantir que a paixão pelo esporte seja uma e entretenha, em vez de dividir e causar danos. Assim, está tudo bem sentir um alívio caso uma oponente de Rebeca Andrade dê uma escorregada nas próximas provas de ginástica.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.



FOLHA DE SÃO PAULO

ARTIGOS RELACIONADOS
- Advertisment -

Mais popular