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Alemães combatem a mudança climática da sacada; entenda – 08/04/2024 – Mercado


Em uma feira externa para a sustentabilidade em Berlimuma novidade chamou a atenção de Waltraud Berg: um painel solar tão pequeno que pode ser instalado na lateral da sacada e colocado na tomada para fornecer a energia produzida diretamente para a casa.

“Fiquei de queixo caído ao saber que existia um negócio desses. Poder gerar a própria energia e ser mais independente”, exclamou a aposentada, que já acoplou sozinha várias unidades ao espaço do apartamento onde mora, voltado para o sul, na capital alemã.

Cada um dos painéis, levíssimos, produz eletricidade suficiente apenas para carregar um laptop ou uma geladeira pequena, mas nas casas e nos apartamentos do país estão promovendo uma transformação silenciosa, colocando a revolução verde nas mãos do povo sem exigir grandes investimentos, a contratação de um eletricista profissional ou o uso de ferramentas pesadas. “Você não precisa de furadeira, martelo, nada disso. Basta pendurar na balaustrada como fazer com a roupa lavada na Itália“, explica.

Mais de 500 mil sistemas já estão em funcionamento na Alemanha, sucesso devido, em parte, ao afrouxamento das leis de instalação. Segundo a Agência Federal de Rede, responsável pela regulamentação do setor no país, no primeiro semestre do ano a nação ganhou 9 gigawatts a mais de capacidade fotovoltaica, ou o volume de energia solar que um sistema produz.

“Estamos vendo um aumento, principalmente das instalações solares. Em relação ao fim de 2023, já ganhamos quase 10% a mais na capacidade; desse volume, dois terços são de instalações em prédios, inclusive sacadas”, explica Klaus Müller, presidente do órgão.

Como parte do movimento para acabar com a dependência do gás natural russoa União Europeia quer quadruplicar o volume de energia gerada por fontes fotovoltaicas até 2030, ou seja, chegar a 600 gigawatts. A Alemanha pretende alcançar um terço desse número no mesmo ano – e, segundo a Rystad Energy, em 2024 o país ganhará mais capacidade solar do que qualquer outro no continente.

Nicholas Lua, analista da empresa independente de pesquisa energética, conta que parte dos painéis vendidos são feitos por empresas europeias, mas a maioria é produzida pela China. “Como domina o setor em âmbito mundial, ela pode fornecer os painéis a preços cada vez mais baixos. A versão pequena se beneficia da mesma economia de escala que o sistema fabricante que a nação tem a seu dispor.”

No início dos anos 2000, o governo alemão encorajou o público a instalar os painéis solares no telhado da casa recompensando os membros seus com o pagamento das chamadas tarifas de alimentação, pelo envio de energia à rede. O problema é que, de uns anos para cá, eles vêm se tornando menos lucrativos, tornando esses investimentos em larga escala menos acessíveis.

O sistema chamado plug-in direciona a corrente gerada pelos painéis para um inversor, que é convertido em corrente alternada, e pode ser acoplado a uma tomada comum para fornecer energia ao ambiente.

Segundo Janik Nolden, que com dois amigos fundou a Solago, startup alemã que vende painéis solares de telhado e a versão de encaixe, a maioria dos clientes o deixa por estar interessado em fazer a instalação por conta própria. “A maioria dos que vendemos é de produção chinesa, de melhor qualidade e mais baratos do que os feitos aqui na Europa. Se meus clientes fizeram questão do europeu, até passaria a estocar, mas não é o caso.”

Quando começou a receber uma enxurrada de perguntas dos instaladores independentes, Nolden passou a postar vídeos explicando não só o funcionamento, mas também como se planejar, instalar e aprimorar o equipamento. “A opção ‘Faça Você Mesmo’ é o caminho. As pessoas escolhem não dependem de ninguém.”

A empresa, que começou com uma portinha num subúrbio de Dusseldorf, na Alemanha, hoje ocupa um galpão de mais ou menos 2.100 metros quadrados, com 50 funcionários para ajudar a carregar os oito caminhões de entrega em todo o país e até na vizinha Áustria .

Ainda na Europa, os painéis solares plug-in já são populares na Holanda, e o interesse vem crescendo na Françana Itália e na Espanha, em parte graças à queda nos preços. Na Alemanha, eles chegam a custar até 200 euros/unidade (cerca de US$ 217) nas grandes lojas. O conjunto completo, incluindo suportes de fixação, inversor e cabos, sai pelo dobro desse valor.

O preço da energia na Alemanha deu um salto depois que a Rússia invadiu a Ucrâniae agora se estabilizou por volta de 25 centavos de euro por quilowatt-hora, mas continua sendo um dos mais altos da Europa.

Reforçando o interesse, há pouco tempo o governo federal prometeu leis que efetivamente impediriam proprietários e conselhos de condomínio de proibir a instalação de painéis e retirariam os requisitos de registro mais complexos. Juntas, essas mudanças trouxeram o conceito de instalação de um sistema energético solar pessoal visando um número mais amplo de consumidores.

“Estamos vendendo mais diversidade, mais idosos, mais mulheres. Um segmento que tem crescido muito é o de famílias jovens, preocupados com a mudança climática. Dizem que querem contribuir, e, mesmo que no fim do ano a economia seja de menos de 100 euros, ficam felizes por estarem fazendo algo para as gerações futuras”, relata Christian Ofenheusle, fundador e CEO da EmpowerSource, empresa que promove o uso da energia solar em pequena escala.

Entre as novidades recentes estão a introdução das baterias de pequena capacidade que permitem ao usuário armazenar a eletricidade gerada durante as horas de pico e usá-la à noite ou de madrugada, e os aplicativos que informam o volume de eletricidade produzida em determinado momento –o que, para alguns, já se tornou tão viciante quanto às redes sociais e aos videogames, gerando não apenas a rivalidade amigável entre os moradores como o desejo de economizar mais.

Quando Thomas Losch ouviu falar sobre a instalação solar do vizinho –vários painéis plug-in conectados a medidores inteligentes que lhe permitiam otimizar o uso da eletricidade–, achou graça da ideia, mas ficou curioso. Há dois meses, não resisti e comprei uma parafernália própria para colocar no telhado da garagem, e agora a primeira coisa que faz de manhã é verificar o volume de energia gerada.

“Estou completamente obcecado com a possibilidade de gerar energia a partir do sol. Parece que estou tomando alguma droga.”

Segundo Nolden, da Solago, o aspecto é comum. “Muitos clientes começam comprando apenas um kit pequeno, e em seguida voltam para adquirir o sistema completo.”

De fato, depois de apenas dois meses de uso, Losch diz que já está pensando na capacidade de fornecer uma instalação de telhado completa, como um veículo elétrico com uma bateria maior. Seu sistema já gera energia suficiente durante o dia para garantir os aparelhos de ar condicionado portáteis nos quartos do andar superior de sua casa.

“Não é só o que estou economizando financeiramente; tenho também a satisfação de saber que estou diminuindo minha pegada de carbono. Não vou salvar o mundo com isso, mas estou fazendo minha parte. É uma sensação bem boa.”



FOLHA DE SÃO PAULO

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